Capítulo 5: A canção dos cetáceos.

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O jantar já tinha sido servido e o som dos talheres ecoa no salão de jantar do hotel. Os nossos hospedes especiais jantam com certo vagar. Claudia estava comendo com desenvoltura e delicadeza uma berinjela recheada, peito de frango frito e com arroz e lentilhas. Luiz comia uma salada de legumes e verduras com uma espécie de pó branco que os vegetarianos costumam usar nos seus pratos. Segundo o Luiz: "Usamos isto para substituir a proteína animal." Fiquei curioso pelo fato dele saber desse tipo de informação.

- Você é vegetariano há muito tempo?

- Desde quinze anos. - responde rapidamente.

- Por quê? - pergunto.

- Vou responder todas as suas perguntas depois do jantar, está bem? - diz com um sorriso.

Com o meu silêncio, todos retornam aos seus ruídos metálicos se chocando contra a porcelana. Olga me olha com censura e mastigando o seu peixe, uma anchova com lula frita e acompanhada com arroz e grão de bico. E eu, derrotado, em minha terceira tentativa de descobrir o passado do casal, retorno ao meu arroz, feijão, bife de alcatra e batata fria.

Satisfeitos com o meu jantar, pedimos a sobremesa. Claudia pediu um manjar com ameixas, Luiz solicita uma taça com frutas da estação e uma leve cauda de groselha, Olga quis um sorvete de flocos e eu uma torta de maça. (Que adoro!)

O silêncio é como uma faca que entra em meu coração. A minha ânsia de conhecimento me deixa, talvez, um pouco mal-educado, mas assim não fosse, certamente, não seria o que sou hoje, um garoto xereta. (Re, re, re...)

Após um exaustivo café acompanhado com pequenas barras de chocolate com menta, Luiz começa a falar:

- Faça as suas benditas perguntas e pare de ficar com essa cara de emburrado.

Um largo sorriso é a minha resposta. Rápido como um relâmpago, puxei do meu bolso uma caderneta e uma caneta e abri a esmo. Com a cara cínica do mundo, comentei:

- Acho que não sou um cara ansioso, não acha?

Um sorriso de desdém de todos foi à resposta a minha pergunta.

Respirando fundo, faço a minha primeira pergunta:

- Quando foi que você descobriu os seus poderes?

Luiz engole em seco, olha para o Rodrigo e responde:

- Bem, é uma longa história. Posso dizer que foi quando tive uns oito anos. Na escola, uma briga com um colega, coisa natural, mas o que fiz com ele foi extraordinário. Simplesmente, arranquei a orelha dele e o joguei para fora da escola, por cima do muro, como se joga um saco de batatas. Não foi preciso dizer que fui expulso da escola. A minha família me chamou de monstro e coisa e tal. Legal, né?

- Deve ter sido um momento difícil em sua vida. - comenta Olga.

- Imagine a sua mãe dizendo que preferia ter me abortado, se soubesse que eu seria assim.

- Foi aí que sua mãe te jogou numa clinica psiquiátrica? - pergunto.

- Não. - disse com secura. A minha mãe é uma mulher que quer manter as aparências acima de tudo e, além do mais, não é muito agradável ter um filho uma clinica psiquiátrica. Já meu pai, é um homem que gosta de mim e me apoiou até o final.

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