Sentidos

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Com o primeiro, me vejo,

Com os olhos de quem se olha no espelho,

e a façanha do vampiro,

que não tem reflexo nem sobre a água e nem sobre o vidro.

Com o segundo, eu falo e nada digo,

Eu explico e deixo de lado,

Eu interpreto e com a sanha de uma péssima atriz cometo charlatanismo, 

Eu sussurro e urro como um animal faminto,

porém não ataco.

Com o terceiro, eu escuto sem ouvir,

E ouço sem atenção,

Volto para o segundo com murmúrios,

Mas se me perguntares se sei o que disse,

Sou sincera e vou fatídica para o não.

Com o quarto, eu cheiro sem identificar,

Como um cachorro gripado,

Eu faro pelo olfato danificado,

E me vejo espirra.

Com o quinto eu toco, mas não sinto,

Sob a pele dos meus dedos está os esquivos, 

De dormência do corpo e fadiga da alma,

Então encosto, mas não enrosco,

Por isso não toco.

Com o sexto, eu sinto mais do que digo

Vejo mais do que olho,

Ouço mais do que escuto,

e toco mais do que sinto.

E então eu paro tudo de novo,

Para rebobinar ao inicio,

Aonde eu reaprendo sozinho,

A ser os meus próprios seis sentidos.

Poemas - As palavras dos meus pensamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora