PRÓLOGO

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2000 A.C

Em Micenas, Grécia, na planície de Argólia, a jovem Nikaia acordava em sua cama de palhas. Os cabelos longos e sedosos estavam trançados e cheios de capim quando se ergueu, sentando-se entre um bocejo e outro.

No auge de seus vinte e dois anos, ela era sem dúvidas uma mulher maravilhosa. Tinha olhos verdes tão profundos que mais pareciam jades esculpidas pelos deuses.

Ao menos, era isso que os homens do vilarejo diziam. Não havia um que não desejasse se deitar com Nikaia d'Galia, filha do ferreiro e da curandeira.

Apesar de seu pai ser um homem grosseiro e extremamente difícil de se lidar, ele lhe dava uma boa casa, comida, e roupas para vestir, assim como cuidava de sua mãe com o que mais se aproximava de carinho humano.

Não eram uma família rica, nem perfeita, mas Nikaia podia se dizer feliz, e naquele dia em especial, ainda mais feliz.

A festa em homenagem aos deuses começaria naquela manhã e iria até o nascer do sol do dia seguinte, e ela sabia muito bem que as festas de seu vilarejo eram maravilhosas. Bebida e comida com fartura, muita dança, muita música.

Não havia maneira melhor de reverenciar o grande Zeus para que ele enviasse chuva e ajudasse nas plantações.

― Nikaia? ― A mulher idosa que surgiu no cômodo carregava uma grande cesta de verduras. ― Me ajuda com as oferendas. Estão lá fora.

― O que será, mamãe? ― Levantando-se, a jovem menina já tinha a terrível e ao mesmo tempo honrosa tarefa de preparar os animais para o abate.

― Três cabras. Certifique-se de dar à elas a melhor comida, um bom banho de água pura e carinho.

Era comum, em sacrifícios, que os animais fossem tratados muito bem antes de serem mortos. Recebiam as comidas favoritas, água, banhos e afeto.

E Nikaia foi; saiu pelo quintal em direção ao cercado onde as cabras ficavam. Separou três delas no curral ao lado e voltou para casa, atravessando-a por completo em direção a horta. Cortou uma boa quantidade de capins, verduras e hortaliças.

A vida era tranquila, ainda que, em alguns momentos, tivesse que matar animais que vira nascer, como aquelas três cabras sadias.

― Aqui está... ― Ela colocou toda aquela comida na baia feita com um tronco e acariciou a cabeça de um dos animais, os observando começarem a comer.

― Nikaia! ― A voz da mãe fez Nikaia se virar em direção a casa antes de sair correndo para ver o que sua mãe gostaria. Ela era a curandeira da vila e responsável por todos os rituais que o vilarejo ministraria pelos Deuses.

― Estou aqui. ― Sinalizou para a mãe assim que chegou pela porta da cozinha, vendo a velha senhora amassar raízes em um pilão de madeira.

― Amasse isso.

― Sim, senhora.

― As cabras. As alimentou?

― Só ainda não as banhei, mamãe. ― Com força, as mãos pequenas amassavam as raízes, trabalho que antes sua mãe fazia.

― Deixe que faço isso... ― Já saindo da cozinha, encarou a filha. ― Amasse bem isso... Eu volto para ver como está ficando.

― Certo. ― E obedecendo respeitosamente, Nikaia continuou amassando aquelas raízes por quatro ou cinco horas. Ela pensou que levaria apenas alguns minutos até estar pronto, mas a mãe passava de tempos em tempos dizendo para que continuasse.

O SONO DE NIRVANA 2 - INÉDITOOnde histórias criam vida. Descubra agora