Uma perda maior

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Faz mais ou menos 8 meses que eu não tenho noticias dos meus pais, eu tento ligar para a minha mãe pelo Skype mas ela não atende. Após a reconciliação com o Caio ele dormiu em casa, eu acordo com o telefone da cozinha tocando e vou atende-lo. De repente um silêncio, eu fico paralisada ao falar no telefone e o deixo cair de minha mão, eu então me a joelho no chão e começo a chorar e a gritar. Caio e Bia descem correndo e tentam me acalmar, ele me abraça e me senta no sofá, Bia trás um copo de água com açúcar e tenta me acalmar.
Quando me acalmo após beber a água, eu digo a eles a notícia que eu havia recebido ao falar no telefone. O meu pai encontrou outra mulher onde eles estavam, ele traía a minha mãe todas as noites até que um dia ele saiu de casa e a deixou. Minha mãe entrou em depressão e como estava sozinha em um lugar onde a única pessoa que ela tinha era o meu pai, então ela se suicidou pulando do 10° andar do prédio onde ela estava morando. Isso faz uns 4 meses mas eles só conseguiram contato comigo agora. O corpo da minha mãe já está enterrado em outro pais onde eu não poderei visita-lá, e aquele último abraço eu não senti, aquele eu te amo eu não consegui falar, a despedida? Não aconteceu. Eu não lembro da última vez que a vi, talvez se eu não tivesse passado todo esse tempo atrás do Caio e só me importando com ele, presa no mundo dele, vivendo só para ele, eu teria ido procurar saber dos meus pais antes disso tudo acontecer mas eu não me importei se ela demorou tanto para aparecer, eu não fui atrás, e agora eu nunca mais vou vê-lá.
Caio e Bia lamentam muito a noticia que acabei de receber, e eu também. Eu chorava muito e só consegui dizer uma coisa: - Ela estava tão estranha a última vez que se falamos. Faz mais de 8 meses e eu ignorei o sumiço dela, talvez se eu tivesse me importado isso não teria acontecido. - Eles me abraçam forte e ficam comigo, eu só fiquei deitada na cama o dia inteiro chorando. Essa dor é bem pior que a dor de perder o Caio, mesmo sem ele eu ainda sabia que ele estaria ali caso eu sentisse saudades dele eu poderia abraça-lo novamente, e não importava onde ele ia e quantas vezes ele ia, eu sabia que ele sempre voltaria e curaria a minha dor, eu também sabia que os meus pais voltariam um dia e eu esperava por isso, mas dessa vez eu sei que minha mãe não poderá mais voltar, então o que irá curar a minha dor? Esse buraco nunca vai se fechar, só percebemos a profundidade dele quando isso acontece e infelizmente é tarde demais, ah se eu tivesse outra chance, eu teria notado a dor da minha mãe a última vez que se falamos, e agora? Agora é tarde, eu a perdi.

    Três semanas depois eu já estava um pouco mais conformada, Caio estava um amor comigo pelo ocorrido, ele dizia que era a minha família agora, eu não era mais a mesma com ele mas ainda o amava muito. Bia estava com 31 semanas de gestação a barriga estava enorme, a minha vida havia perdido um pouco do sentido eu não era mais a mesma garota animada de sempre mas eu tentava não perder a minha essência.
Eu estava na varanda de casa ainda de pijama sentada e olhando pro nada quando Caio chega e diz:
— Vou te levar a um lugar hoje.
— Onde?
— Vá se arrumar você vai ver.
    Quando chegamos em frente à uma casa ele desliga o carro e diz:
— Chegamos. Eu moro aqui, vou te apresentar ao meu irmão.
— Por que isso agora Caio?
— Como assim?
— Após nove meses por que só agora vem me trazer aqui? Passei nove meses da minha vida sem saber onde você morava.
— Sei lá, eu não achei que era importante já que eu só tenho o meu irmão que nunca está aqui. Vamos entrar.
    Quando entramos na casa ele me apresenta seu irmão Adam que estava na cozinha preparando o almoço.
— Adam! essa é a Susan. — Caio diz.
— Prazer Susan.
— O prazer é meu. — Eu digo com impressão de já conhece-lo.
— Até que enfim você apareceu, ele fala muito sobre você. — Adam diz colocando os pratos à mesa.
— É até que enfim ele me convidou para vir. Por que eu tenho uma leve impressão que te conheço? - Eu digo.
— Bom eu não sei, as vezes nós já se esbarramos por ai. Vocês podem se sentar já está pronto.
    Nos sentamos e começamos almoçar até que o Adam diz:
— Você é muito bonita Susan, que bom que estão felizes.
— Obrigada, nós estamos sim.
— Ela é maravilhosa Adam, melhor que a Mia, bem melhor. — Caio diz.
— Quem é Mia a sua ex namorada? — Eu pergunto ao Caio.
— Não! É a ex do Adam.
— E você não namora mais? - Eu pergunto ao Adam.
— Não. Estou sozinho faz quase um ano. — Ele diz com a boca cheia de comida.
— Bom, não faz um ano deve fazer uns 9 meses por ai por que foi no dia em que eu conheci Susan na balada lembra? Você iria com a gente mas ficou com medo de encontra-lá. — Caio diz.
— 9 meses é quase um ano né? — Adam diz limpando a boca com o guardanapo.
— E o que houve entre vocês? — Eu digo.
— Brigas! nós brigávamos demais.
— Caio e eu também brigamos demais, será que vamos aguentar só até os 10 meses? — Eu digo sorrindo para o Caio.
— Não claro que não, vamos durar muito mais, a vida inteira se depender de mim. — Caio diz.
— Por que disse que ela era maravilhosa? — Eu pergunto ao Caio.
— Eu não disse que ela era maravilhosa, eu disse que você era maravilhosa. Ela só era legal e fazia tudo para o Adam.
— E mesmo assim vocês brigavam tanto? — Eu pergunto para o Adam.
— Por que vocês brigam tanto? — Ele me pergunta.
— Eu sempre o retruco sabe! não abaixo a cabeça e então a discussão vira briga.
— É ela retruca. — Caio diz.
— Não Mia não retrucava. Só a última vez que ela retrucou. Foi no parque quando terminamos definitivamente.
— No parque? No dia da balada? — Eu pergunto pensativa.
— Sim por que? — Adam Diz.
— Claro, agora eu sei de onde eu te conheço. Eu vi vocês brigando no parque, e na real você foi um idiota, eu conversei com ela depois e ela era demais pra você, ela era linda e muito legal.
— Não fala assim Susan. — Caio diz.
— Por que não? Agora eu sei pra quem você puxou Caio, sabe quando eu vi aquela cena e vi aquela moça eu tive pena dela e pensava que eu nunca me envolveria com um idiota como aquele cara que é o seu irmão, e por isso eu não queria me envolver com você no começo sem antes te conhecer mas você era perfeito nos primeiros meses e depois se revelou, e pensando bem eu estou vivendo a mesma situação que aquela moça vivia e eu estou admitindo isso em minha vida. Meu Deus.
— Pode para por ai Susan, não é assim tá, você sabe que eu mudei e por que está tão irritada com o Adam e pensando nisso agora se já vivemos nove meses juntos? — Ele diz batendo a mão sobre mesa, eu me levando da mesa e digo:
— Eu perdi nove meses com você, diz pra mim os benefícios que eu tive nesses nove meses ao seu lado me diz? Eu perdi a minha mãe, e o meu pai eu nem sei onde está, a minha melhor amiga está grávida e vai ganhar bebê daqui um mês e você quer que eu a mande embora de casa pra ir morar comigo. — Eu digo gritando, ele se levanta da mesa alterado e grita mais ainda dizendo:
— Eu não tenho nada a ver com a morte da sua mãe e não tenho culpa se o seu pai encontrou alguém melhor que ela ok. — Eu fico parada olhando pra ele fixamente com um ódio tão grande que chegava a queimar o corpo, ele percebe e diz:
— Eu não quis dizer isso me desculpa, você me fez dizer isso eu estou irritado. — Me sento na cadeira e começo a chorar com as mãos no rosto dizendo:
— Eu não acredito que você falou isso da minha mãe.
— Você me fez falar isso. Eu não quis dizer isso, nós vivemos nove meses juntos e você sabe que eu mudei e eu te amo.
— Me ama? Sinceramente eu não sei como eu passei tanto tempo te aturando, você tem razão Adam. Eu não sei como eu aguentei. — Eu digo olhando para o Adam que está sentado em minha frente, eu me levanto e contínuo a dizer de frente para o Caio:
— Eu te amei mais que a mim, te amei mais que a minha mãe, eu fiz tudo por você e estive ao seu lado sempre procurando te agradar, eu te ligava todos os dias você ignorava as minhas ligações e depois me dizia que não via? Você nunca me amou como eu te amei não é verdade? Fala a verdade Caio por favor. — Eu digo chorando.
— Não! eu não te amava como você me amava, mas hoje eu te amo muito mais do que você me ama. — Ele diz segurando em meus braços.
— E esse amor começou depois que a minha mãe morreu né? E foi por pena que você decidiu me amar de verdade?
— Não Susan, não foi depois que ela morreu, não foi.
— Eu não tenho mais nada pra te falar Caio. — Me sentei no sofá, e ele foi até mim dizendo:
— Por favor! Só não me deixa? Eu imploro. — Ele diz de joelho em minha frente.
— Você se esqueceu de quantas vezes eu também te implorei para não me deixar e mesmo assim você me deixava? E eu ainda ficava lá te esperando voltar. Eu fui muito idiota.
— Não foi idiota você me amava, ou ama.
— Isso era o que eu pensava sabe, que eu não conseguia ficar sem você por que eu te amava muito, eu achava que te amava muito mas estava me suicidando por dentro sabe por que? Por que toda vez que você terminava comigo era como se você tivesse colocado um faca em meu peito e eu ficava sofrendo chorando esperando você vir tirar essa faca quando eu poderia tirar mas eu esperava por você, e ai você aparecia e tirava essa faca, e quando o buraco que você causava colocando essa faca estava se fechando você vinha e colocava a faca novamente. E você não pensava como estava esse buraco, ou se iria me ferir, só pensava em você. E quando eu soube que a minha mãe se foi eu não senti uma facada no coração e nem um buraco. Eu senti todo o meu coração despedaçado como um vidro que cai no chão, eu vi que as facadas que você me dava nem se comparava com isso, e se eu tenho que aprender a viver com isso para sempre, como não aprenderia a viver sem você? Eu vi também que não tinha mais lugar para você por uma faca em mim por que eu já não tinha mais coração. Eu vi o que é perder alguém de verdade e se eu superei essa dor tão profunda de uma pessoa tão importante que me deu uma vida e me amava tanto, se eu tive que aprender a conviver com esse buraco mesmo sabendo que ele nunca irá se fechar como eu não conseguiria viver com os buracos que você me causava? Mesmo que você não viesse tirar aquela faca eu teria que fazer isso e ai com o tempo aquele buraco fecharia novamente. E ai você nunca mais me daria nenhuma facada e eu seria feliz novamente e não só por algum tempo como vivia com você. E você quer que eu acredite em você como? Se em nove meses você vem cometendo os mesmos erros e agora que eu abri os olhos você vem me dizer que me ama? Da mesma forma que eu te perdoava por que eu te amava, você não faria isso comigo se me amasse e sabe o que eu aprendi com isso tudo Caio? É que não existem segundas chances, muito menos terceira.

— Nossa, eu não sei o que dizer. — Ele diz.
— Nem eu. — Diz o Adam ainda sentado na cadeira nos observando.
— Não diga mais nada, só me leva embora.
— Tudo por uma coisa idiota do passado do meu irmão? —  Ele diz.
— Não! Eu estava relevando a algum tempo, depois que minha mãe morreu tudo perdeu o sentido, eu confesso que tive medo de ficar sozinha, mas eu prefiro estar sozinha do que presa em um amor egoísta.
   
    Caio e eu entramos no carro. Ele me levava para casa, no caminho ele não disse nada mas eu vi uma lágrima cair do seu rosto. Ele começou a chorar dirigindo o carro.
— Você esta muito rápido. — Eu digo.
— Me deixa. — Ele diz chorando.
— Caio é sério vá devagar.
— Por que você estraga tudo? Por que você sempre me irritava e me fazia brigar com você?
— Nós já conversamos Caio e vá devagar por favor.
— Eu estou com raiva.
— Não precisa correr assim é perigoso e eu sei que está.
— Você vai me deixar e eu não quero.
— Olha pra frente Caio.
— Fica quieta Susan. — Ele diz gritando.
— CAIOOOOOOO... — E de repente uma escuridão.

Se eu tivesse outra chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora