Minha mente funcionava como um motor de carro ligado. Eu não parava de pensar em tudo que já tinha feito. Me meti em uma grande confusão. Primeiro tive que mentir para meus pais, depois consegui fazer com que um estranho concordasse com minha ideia maluca. Agora, estou olhando para ele e me perguntando se tudo vai dar certo.
Tem que dar certo.
- Vamos ter que conversar. Tenho que dizer a você do que gosto, do que fazemos, das coisas em comuns e de como nos conhecemos. Isso será importante pois quando chegarmos lá, perguntas é o que não irá faltar.
Ele mastigava um chiclete e suspirou me olhando.
- Rock, motos, filme de ação, escalada, prefiro praia do que campo e o restante você vai descobrindo – sorriu.
- O que é isso? – fingi não ouvir.
- Algumas das coisas que gosto – deu com os ombros.
- Não estou perguntando de você! Temos que nos comportar como se fossemos um casal. Vai ter que saber um pouco de mim.
- E você de mim, ou acha que eles não vão perguntar nada a meu respeito? As coisas não giram em torno de você, Sophia – piscou.
Eu queria socar a cara dele. Como poderia ser tão certo? Odiava ter que concordar com ele, mas eu tinha que saber pelo menos um pouco de sua vida.
- Tá ok! Gosto de livros principalmente de romances, filmes, séries policiais, ar fresco, faço yoga, gosto de uma boa alimentação, amo um café bem quentinho, sou fanática em doces e chocolates, não parece, mas bem fundo sou romântica por isso meu interesse nos livros românticos. Faço exercícios físicos sempre quando tenho um horário sobrando, odeio que me dão ordens, sou um pouquinho estressada, mas nada tão preocupante. Gosto de sair, adoro cinema, adoro crianças e animais, só não posso ter um cachorrinho porque no prédio onde moro não são autorizados. Também gosto de praia, odeio rock, não entendo nada de motos e nunca me aventurei em uma escalada – suspirei – Por enquanto é só – cruzei os braços.
Tom me olhou paralisado.
- Meu Deus, depois disso tudo acho que não tem nada mais para me dizer.
- Claro que tenho! Você não vai aparecer assim – olhei para sua jaqueta de couro.
- Assim como? – ele se ajeitou na cadeira – Por acaso tem algum preconceito por minhas vestes, Doutora? – arqueou a sobrancelha.
- Não, quer dizer sim... Na verdade não sou eu, é o meu pai. Ele é um pouquinho certinho demais, sabe? Tentar vestir outras roupas não custa nada.
- Não – protestou – Se quiser que eu vá, vai ter que me aceitar assim.
Como pode alguém ser tão antipático? Como vou falar para meu pai que meu "namorado" anda igual a um rockeiro? Na verdade, ele é um rockeiro. Como não percebi isso antes?
- Você está fazendo eu passar por cima de todas do meu pai.
- Foda-se as regras.
Abri boca assim que ouvi aquelas palavras absurdas e joguei uma bola pequena de papel nele.
- Olha o que você falou! Faça o favor de limpar a boca antes de ir à casa de meus pais.
Ele revirou os olhos.
- Tô vendo que essas semanas serão as piores de minha vida!
Eu ia sorrir, na verdade ia fingir que tinha achado na graça no que falou, mas fiquei séria. Teria que concordar mais uma vez com ele. A nossa semana seria uma das mais longas e chatas. Aturar seu jeito de falar e seu modo de pensar, pra mim era perturbar e um tanto estressante. Acho que ainda dava tempo de voltar ao plano B e ligar dizendo que tinha pego uma virose, ou até mesmo ficar com a opção "Dor de Barriga".
- Digo o mesmo – dei um sorriso forçado.
- Quando iremos a festa? – perguntou irônico.
- Na sexta. Espero que daqui até lá você tenha mudado de ideia sobre o palavreado e as roupas.
Ele se levantou da mesa e tomou o restante do suco.
- Nem a pau.
- Viu como você é insuportável?
- Me liga – colocou um cartão em cima da mesa.
Ele deu as costas e saiu.
Peguei o cartão preto e fiquei olhando o número do seu celular. Minutos depois saí do restaurante e segui em direção ao meu apartamento. Assim que cheguei coloquei minha bolsa em cima da mesinha da sala e me joguei no sofá. Fiquei olhando o teto por alguns minutos e peguei a bolsa retirando de dentro meu celular e o cartão dele. Digitei os números e salvei. Se for para mostrar aos meus pais e a antipática da Babi que tinha um namorado, então teria que fazer certo. Disse a mim mesma que não iria mais pensar em desistir, mesmo que tudo mostrasse o contrário.
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Confusão Amorosa
Short StoryVocê já teve uma confusão amorosa? Sophia é canceriana, simpática, leal e romântica. Ela tem uma vida "quase perfeita" se não fosse as reuniões anuais da família. Todo ano é a mesma coisa e por sempre passar vergonha, ela inventa uma grande mentira...