A Floresta

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Sempre como em todas as outras manhãs, muito amenas na secção 3-C, visto-me e preparo-me para ir cortar madeira. No caminho para a floresta, reparei que havia algo diferente: desde há duas semanas que morreram 14 lenhadores, como eu. Sinceramente, tenho tentado não pensar nisso, mas com tantas histórias que anteriormente me contaram, cada uma mais estapafúrdia que a outra, comecei a pensar se o mesmo me poderia acontecer.  Quando cheguei aos portões da floresta, Anthony aproximou-se e disse:

  - Senta-te, precisamos de falar.

   - O que aconteceu? – perguntei eu, arrastando um tronco com o pé para me sentar.

   - Como sabes, ultimamente têm morrido muitos colegas nossos... E hoje de madrugada o... - Anthony inspirou fundo e expirou lentamente – O teu pai hoje de madrugada, enquanto estávamos a trabalhar, começou a sentir-se mal e caiu de repente no chão. A I.S.I., Instituição de Saúde do Império, já o levou.

   Sem querer acreditar no que ouvia, comecei a sentir-me desorientado, quase a desmaiar. O meu coração começou a palpitar cada vez mais rápido só de refletir no que tinha acabado de ouvir. Havia uma voz que me entrava na cabeça e dizia "O teu pai morreu". Eu só sentia náuseas atrás de náuseas. Sempre que a I.S.I. leva alguém eles nunca voltam.

   - James, acalma-te! Vou buscar-te um cantil com água. – afirmou Anthony.

   Anthony sempre foi um grande amigo do meu pai. Lembro-me dele quando ia lá a casa jantar, as grandes conversas que tínhamos, quando eu era mais pequeno. Ainda me recordo do filho do Anthony, Victor. Costumávamos passar longas tardes a brincar com pedaços de madeira no átrio da vila. Infelizmente ele e a mãe despareceram há cerca de 5 anos enquanto passeavam pela floresta. Nunca mais ninguém soube deles. Desde então, o Anthony tem vivido solitário numa casa um pouco distante do centro da vila.

   Quanto ao meu pai... Bem, ele era um grande homem, chamava-se Edmundo. Ele sempre me disse que o melhor refúgio do homem era a sua mente. Desde pequeno que o meu pai me contava as suas histórias fantásticas sobre o passado da Terra, e eu ficava pasmado com tanto pormenor em cada palavra do meu pai, as frase contadas por ele eram como rios de palavras que me entravam nos ouvidos e que mais tarde eu nelas refletia. O meu pai sempre foi um grande homem, que merece de certo o meu respeito...

   À semelhança do meu pai, a minha mãe era uma mulher doce e amável, que sempre quis o bem para tudo e todos. Lembro-me das nossas longas conversas ao jantar enquanto o meu pai trabalhava na floresta. Quando era pequeno, e me ia deitar, ela costumava ir à minha cama para me contar sempre a mesma história, que era a minha favorita.

   Desde que mudei de vila, não há um dia que não consiga adormecer sem pensar no que será de mim daqui a alguns anos, já em pequeno gostava de passar o tempo a pensar no futuro das coisas. E se houvesse uma rebelião contra o Império, para nos tornarmos independentes, será que nos iríamos aguentar sem eles, e se o Império deixasse de sustentar a nossa secção,  tal como fez com a 5-E ?

  Gostava de conseguir responder a todas estas perguntas. Ultimamente tambem tenho notado que as pessoas da vila têm andado cada vez mais descontentes e reparei que não só os lenhadores, mas também caçadores têm andado a desparecer.

   Bom... Sinceramente não tenho andado bem disposto ultimamente, e a morte do meu pai só veio piorar a situação, ainda não me habituei ao facto de o ter perdido e de agora só o ter em memórias.

   - James, toma bebe isto, vais-te sentir melhor - disse Anthony.

   - Ok, obrigado - agradeci eu - Olhem, malta, espero que não se importem, mas posso ficar a descansar hoje? Não me sinto bem.

   - Claro! - responderam em harmonia.

   - Obrigado pelo apoio!

   Quando cheguei a casa, comecei a sentir náuseas e calafrios que me subiam pelo o corpo dos pés às pontas do cabelo, e quase tropeçando cai para cima da cama como uma pedra, comecei a sentir-me um pouco melhor apesar de ainda me sentir um pouco zonzo.

  No dia seguinte já me sentia melhor, mas mesmo assim ainda tinha saudades do meu pai e não suportava a dor de saber que nunca mais o iria ver. 

    Há cerca de um ou dois dias atrás começaram a morrer também caçadores. Dos caçadores não sei muito, apenas sei que trabalham por turnos à noite, na mesma floresta que nós.

Uoncu: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora