Antes de levantar, fico um tempo encarando o teto. Nem acredito que cheguei ao terceiro período dessa droga. Até que estou indo bem para alguém que não curte o que faz. Antes que eu pudesse apreciar mais cinco minutos esparramado na cama sem o Josh no quarto, ouço batidas na porta:
- Qual é cara, não sabia que tu era afim dela! Me desculpa! Quebrei o código dos irmãos, cara.
Que código?
Não, esse não é Josh, é Luke, um aspirante a músico que resolver se envolver com a única menina que achei interessante na faculdade. Não que eu já tenha dito a ela. Ou feito qualquer coisa sobre. Então deixei pra lá.
Não levantei.
- Está tudo bem, cara. Não é como se você soubesse, né. Nunca te disse nada sobre isso.
Luke deu uma risadinha e pude sentir o ar de deboche entrando no quarto.
- Claro que eu sabia, a faculdade inteira sabe. - Luke parou por um momento - Na verdade acho que acabei de piorar as coisas. Olha, eu não pensei, foi mal mesmo.
Ainda com a porta fechada, respondi:
- Relaxa, tudo certo.
Luke não pareceu convencido com meu ato de realeza e continuou insistindo até eu dizer que estava com diarreia e precisava de um tempo sozinho. Bullshit, mas foi a única coisa que tirou ele da minha porta.
Tomo meu banho e enquanto estou no chuveiro, lembro que prometi jantar em casa hoje, mas passamos o dia. Que saco. Essas noites são sempre as piores porque não são sobre a comida. São sobre a faculdade, namoradas (que eu não tenho), assumir o escritório do papai e blablablá. Coisas que não poderia estar menos interessado, mas finjo que estou para não decepcionar a mamãe, que é a única que ainda me escuta nessa família.
Saio do banho, abro meu armário e na mesma hora percebo que eu preciso arrumar isso urgente. Pego uma calça preta e uma blusa preta para simbolizar meu dia. MELANCOLIA. Mentira. Era a única coisa limpa que tinha no armário e não precisava passar.
Fico na cama até dar a hora de sair, penso em como tudo está passando tão rápido, e em como parece que faz tantos anos que aquilo aconteceu. Ainda penso em Taylor em tudo que faço, e ainda me culpo. Eu fiz isso.
Estou longe, pensando em Taylor e em como estávamos curtindo aquela noite, quando o telefone toca:
- Fala Hunter. Se liga, rolou um imprevisto e não vou mais para casa da Cassey. Tô liberado, bora beber? - com tom de empolgação, Josh faz o primeiro convite do dia.
Este sim é Josh. Josh é o melhor amigo que alguém poderia ter. Não saiu do meu lado nem um pouquinho durante a tragédia com meu irmão, nem depois disso. É o mais animado e com certeza também o mais bem sucedido, sempre me coloca pra cima. Infelizmente tenho que dividi-lo com a namorada Cassey, mas nada que não dê para aguentar.
Respondi desanimado enquanto procurava o gel de cabelo:
- E aí, mané. Vou para casa hoje, tenho um jantar. - suspiro - de negócios.
Josh notou que eu usei a expressão "de negócios" para ele não ir, mas como sempre, não adiantou nada.
- Então vou com você, vou só pegar minhas coisas. - e desligou.
Eu ri.
Alguém simplesmente invade meu quarto exatos 5 minutos depois da ligação.
- Estou pronto, vamos que horas? - Josh indaga enquanto joga sua mochila no chão.
- Eu realmente achei que você estivesse brincando. - falo enquanto procuro meu casaco.
- Não brinco em serviço. Além do mais, mama T deve estar sentindo minha falta.
Sorri. Lembrei do tempo em que brincávamos juntos lá em casa. Éramos os três mosqueteiros, Josh, eu e Taylor. Lá eu era feliz. Bons tempos.
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Já estamos no carro quando Josh abaixa o volume para perguntar de Lucy.
AH, NÃO.
- Cara, agora que eu lembrei. E aquela garota lá que tu é afim? - Josh perguntou enquanto olhava a paisagem.
- Que garota? - debochei. Ele sabe muito bem que não gosto de falar de relacionamentos. O meu último não deu muito certo, desde então, parece que perdi o jeito - Luke foi lá pedir desculpa, implorou perdão.
- Foi mancada né, mano. Por que você não fala com ela? Está na cara que vocês trocam olhares.
Fingi que não ouvi. E seguimos o caminho em silêncio apenas apreciando a paisagem.
- Até que enfim chegamos, estou morrendo de fome - deixei a chave com o manobrista e saí do carro.
- Vou fingir que não fui ignorado a viagem toda e vou procurar sua mãe.
- Ok, vou procurar meu pai. Preciso falar com ele. - dei as costas e fui.
Minha casa é bem grande, mas é vazia. Um vazio que cada vez aumenta mais desde que Taylor se foi. Tem fotos dele espalhadas por toda a casa, tentando trazer um pouco de alegria.
Estou próximo ao escritório do pai quando ouço vozes.
- Não é possível, Frank. A polícia está na nossa cola, mais um pouco e a gente vai pra cadeia! Você está ficando maluco? - um homem com voz grave pronuncia essas palavras com muita raiva, então eu resolvo fazer algo que não faço há muito tempo. Ouvir atrás da porta.
- Estou treinando o Hunter, se algo der errado com a gente, ele assume. - meu pai respondeu com frieza.
- Ele ta OK com o fato de você traficar pessoas e drogas, roubar bancos? Jura? Você acha que vou deixar meus negócios na mão de um pirralho? - o homem deu uma gargalhada forçada. Acho que foi só pra mostrar quem manda. - Sem ofensas, Frank. Mas não vai acontecer. Ou dá seu jeito. Ou está fora.
Gelei.
Meu pai é um bandido? Isso explica tanto dinheiro mesmo sendo um advogado de sucesso. Será que ele é mesmo um advogado? O que quis dizer com "estou treinando o Hunter"? Minha mãe sabe?
Quando voltei para a sala, Josh e mamãe já estavam lá. Eu estava vendo tudo embaçado. Não estava ouvindo direito também. Josh esfregou a mão na minha cara.
- Cara, não te vejo tão pálido desde aquela apresentação da escola. Você está bem? - diz ele preocupado.
- Não. - Respondi. E foi a última coisa que pronunciei durante uma semana.
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Cinco passos
General FictionHunter é só mais um estudante de direito da Bonnafont College, e apesar de não gostar do curso, o faz pela aprovação do pai. Não é muito próximo à família mas sempre vai à festas e jantares na casa. Dessa vez não foi um simples jantar. O jantar só...