Tempo. Passou tão rápido. Eu não o tinha mais. Ele havia escapado das minhas mãos. Os homens viriam atrás dela e a levariam, e eu não conseguiria fazer nada. O tempo de vida da menina robô iria se esgotar agora.
"Tic-tac", o relógio fazia, avisando que os segundos estavam passando. Aquela robô iria morrer. Não podíamos mudar o que estava por vir. Não tínhamos consciência do quão grave seria. Sentada a minha frente, não havia nenhuma emoção em seus olhos. Já estava preparada para morrer. Sabia que nada podia ser feito.
Eu podia sentir a presença dos homens. Cada passo era como uma faca no meu peito. Ela também sentia, mesmo não mostrando. A menina robô sabia que a nossa amizade iria acabar. E dói. Dói saber que não tenho mais tempo.
"Tic-tac", foi o que ouvi quando a robô começou a ser arrastada para fora da sala. Eu queria ir atrás dela e impedir os homens, mesmo sabendo que não conseguiria. Eles eram mais fortes e mais velhos. Eu pensava no quanto aqueles olhos azuis da menina robô estavam vazios quando deixou a sala. Mas, mesmo assim, eu sentia a sua dor. A dor de ser morta. A dor de não ter mais tempo.
Enquanto estava sentado naquela cadeira dura, eu revivia tudo o que passamos juntos em um único dia. Uma amizade crescendo, um segredo revelado. Mesmo sendo uma robô, ela sentia coisas que eram proibidas para alguém como ela. Seu segredo era resumido em uma única palavra que podia levá-la a morte: emoções. "Eu sou uma robô, e tenho emoções como os humanos. Por favor, não conte aos homens sobre isso.", contou-me a menina robô.
"Tic-tac", o relógio fazia, avisando-me que era a hora de ir embora. Meus pais deveriam estar preocupados com a minha demora. Eu não queria ir embora. Só queria ter mais tempo para conversar com minha nova amiga. Isso nunca mais aconteceria, eu sabia. Sentia que ela não estava mais viva. Será que a queimaram? Ou irão vender suas peças?
Você já deve saber o que aconteceu quando ela contou-me seu segredo. Os homens ouviram e nos trancaram na sala, onde me encontro agora. "Ela terá que morrer", eles disseram. Decepção, raiva e tristeza me dominaram, junto com a falta de tempo. Poderia ter começado uma amizade antes. Agora estou aqui, decepcionado com o tempo que perdi.
"Tic-tac", o relógio fez quando levantei-me. Saí o mais rápido possível, ainda em choque pelo o que havia acontecido. Tudo podia ter sido diferente, mas o tempo não quis. Eu podia ter mudado tudo, mas não tinha mais o tempo. Ele havia escapado das minhas mãos. E dói. Dói saber que não tenho mais tempo. A amizade que começou já acabou, e é tudo culpa do tempo.
"Tic-tac", o relógio fez quando deixei tudo para trás.
Lalah *-*
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Tempo
Short Story"E dói. Dói saber que não tenho mais tempo." "Eu precisava sair dali. Proteger-me do tempo. Este nunca gostou de mim. Nunca me ajudou." 6 de maio de 2017. © BatatinhasEscritoras