Capítulo XII (Harry)

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-E porquê que não contaram nada a polícia? Porquê?-perguntei, assustada, e com lágrimas a correr aleatoriamente pela minha face.

-Porque ele me ameaçou, disse que te matava a ti também! Não me odeies por te ter escondido isto, mas...eu adoro-te Lexi, apenas te quis proteger! -duas lágrimas caíram dos seus olhos verdes, agora acinzentados devido as cataratas.

Noutra altura teria-me revoltado, zangado com a minha avó e mostrado toda a raiva que sentia pelo meu pai, mas a minha Avo estava doente, frágil, não queria deixa-la pior...

-Não chores Avo, eu não estou chateada, obrigada por me teres protegido, adoro-te! - ficamos algum tempo abraçadas, e quando nos largamos dei-lhe um beijo na testa, peguei no diário da minha mãe, e dirigi-me ao meu quarto.

Fechei a porta, e deixei o meu corpo deslizar pela parede, até sentir o chão frio. E fiquei ali, com a cabeça entre as pernas, a chorar. Um choro forte, cheio de suloços e lágrimas. Ainda segurava o livro na mão. Levantei-me daquele chao gelado, e fui ate ao espelho na parede. Limpei as lagrimas, uma das vantagens de ser morena era o o facto de ser quase impossivel reparar que estive a chorar.

(...)

Sentei-me no baloiço pendurado no teto do meu quarto, e desfolhei aquele diário. Fi-lo apenas porque nalgumas páginas tinha fotografias da minha mãe. Ela era linda. Tinha os olhos iguais aos da minha avó, só eu e que sou a ovelha negra da família, e que tenho estes olhos escuros, pretos sem graça. Tinha os cabelos lisos castanhos alourados, (e mais uma vez não sou igual a ela, impossível ser bonita), tinha os lábios fininhos (e mais outra vez, não tenho nada a ver com ela, os meus lábios grossos fazem-me detestar-me mais), e a única coisa que tínhamos em comum: ela era morena. Tinha um sorriso alinhado, e vestia-se mesmo bem. Fiquei algum tempo a olhar para todas aquelas fotos, era como se ela ainda estivesse ali.

Fui interrompida por alguém que bateu a porta:

-Posso? - para minha surpresa era o Harry que ali estava.

-Que queres desta vez?! - perguntei rudemente.

-Calma, só preciso de me despedir de ti. - despedir?! Mas de que porra estava ele a falar?

-Despedir?! Entra, Harry! - e acabei por ceder.

-Olha, eu só te queria dizer que...que ....- ele estava a deixar-me nervosa - vou voltar para Londres.

-O quê?! - não consegui esconder o espanto.- Mas e a escola Harry?

-Eu tinha de voltar para lá e tinha, só tinha 1 ano e meio cá, lembraste?! Também existem escolas em Londres.

-Se tens um ano e meio para que vais voltar agora? - premi os lábios para conter o choro, não estava preparada para isto, embora aquele maldito beijo dele e da Aleena nao me saísse da cabeça.

-Porque te magoei. - não era daquelas palavras que estava a espera.-Porque quando te conheci mudei, porque eu amo cada detalhe teu, cada sorriso, cada olhar. Amo a tua voz. E tudo o que eu queria era ter-te comigo, mas em vez disso, fiz asneira, magoei-te e desiludi-te. E prometi a mim mesmo que quando te fizesse sofrer ia embora daqui. Desculpa, desculpa-me por tudo. E sei que não mereço o teu perdão... Mas queria que soubesses que te amo. Exactamente, eu amo-te. E foi aqui que tu me mudaste. Porque eu nunca amei ninguém, ainda por cima conheço-te a tão pouco tempo...- aquelas palavras soavam tão sinceras. - Vinha pedir-te mais uma coisa, dá um beijo. - O QUÊ? -  Preciso de uma recordação tua antes de ir embora, preciso de mais uma recordação para juntar a todos os sorrisos, as todas as tuas vozes que ainda ecoam na minha cabeça. Por favor! -ele aproximou-se de mim, era quase impossível resistir-lhe. 

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