Capítulo XV (Pai)

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-Como e que entraste? -perguntei.

-Pela porta...- respondeu com sarcasmo. E tirou de trás de si as chaves, penduradas no indicador, abanando-as. - Eu avisei que quando a velha fosse desta para melhor, eu voltava e TAM, TAM, aqui está o papá!

-Eu não quero morar contigo! -berrei. Ele encostou-me a parede.

-NÃO É UMA ESCOLHA! - apertou os meus pulsos.

-Estás a magoar-me.

-Alexis, pareces mesmo a tua Mae. Esses olhos, sempre no teu mundo de fantasia, mergulhada em contos de fadas! - rosnou.

-LARGA-ME! - gritei.

-FALA BAIXO! Temos tanto para conversar... - soltou um sorriso cinico - Tu e o Harry...

-E desde quando é que me dás ordens? Eu e o Harry namoramos sim.

-DESDE QUE SOU TEU PAI! Essa ideia não me agrada...

-NÃO ÉS, A ÚNICA COISA QUE NÓS LIGA E O SANGUE QUE ME CORRE NAS VEIAS, INFELIZMENTE, E NEM DISSO TENHO A CERTEZA, PORQUE FOSTE TU QUE MATASTE A MINHA MÃE A SANGUE FRIO! Não me importa, nem um pouco, o que possas pensar! - soltei os meus pulsos das mãos deles e descolei o meu corpo da parede.

-JÁ NÃO ESTOU A GOSTAR DO TEU TOM DE VOZ! -berrou, pegou não minhas ancas e empurrou contra a parede, fazendo com que as minhas costas tivessem um embate forte. - É bom que não te armes em chica esperta, estou armado! E o meu sangue é frio todos os dias, faço contigo exactamente o que fiz com a tua mãe. Em todos os aspectos... - fulminou-me com o olhar. E eu estremeci ao relembrar as palavras "em todos os apectos" oh meu deus. Engoli um seco. - Vamos lá ver se pertences assim tanto ao palhaçinho do Harry.

Deslizou as mãos ate às minhas pernas. PERCEBI IMEDIATAMENTE OS SEUS INTERESSES!

-Larga-me. - pedi, e às lágrimas ameaçavam sair. Eu tinha medo dele.

-Shh, caladinha que já falaste de mais, quem escolheu isto foste tu...

NÃO, isto só podia ser um pesadelo. Ele era tão nojento.

Ouvi um barulho, cruzei os dedos para que fosse o Harry ou algum dos rapazes a chegar a casa, e salvar-me da situação, mas não. Olhei discretamente para o chão. UMA BOA NOTÍCIA: a arma do meu pai tinha caído, e ele nem se tinha apercebido. O perigo de morte que corria já não era tão elevado.

Ele colocou as mãos bem ao fundo das minhas costas, as coisas estavam a ficar cada vez mais claras e as suas intenções também. O meu medo crescia cada vez mais, e não aguentei:

-DEIXA-ME, LARGA-ME! - e as lágrimas vieram.

Ele não ligou, manteve a mesma postura e continuou a guiar-me para o meu quarto.

Tentei desprender-me dele, sem resultado, ele era muito mais forte que eu. E só pensava porquê...

Porquê, porquê a mim? Porquê perder a minha Mae, a minha Avo e ter um pai horrível? Odiava a minha vida, odiava-me a mim.

Chegamos ao meu quarto, o meu pai fechou a porta, trancando-a. Fechou as persianas das janelas. E encostou-me a parede, devia ser um vício dele. Gritei, esperneei, dei murros na parede, sem qualquer resultado. Estava tão, mas tão vulnerável... E as coisas pioraram.

-Os teus gritos começam a irritar-me. - pegou num pedaço de pano, e tapou a minha boca, os meus reflexos não foram suficientemente rápidos para o impedir. - Pronto, caladinha agora.

Ele dava-me nojo.

-Senta-te ali, já! - ordenou.

Obdeci, não tinha qualquer hipótese de o contrariar.

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