Relatos De Uma Ex-Desempregada

Prólogo

— Aaminah Emilia Reiss!

— O que foi, mamãe? Estou procurando alguma coisa nos classificados, eu já disse, inferno.

— Disse o quê?

Pressionei os lábios com força, imaginando ela vindo aqui só para me jogar no chão e me encher de socos, até eu aprender a não ser mais mal educada. Então, optei pelo silêncio, continuando a ler o jornal, para ver se encontro algum emprego. Obviamente, estou toda trajada no kit pobreza máxima, desejando que um emprego caia do céu, e me deixe parecendo a própria Lady Day em seu auge de vida. Tudo bem, talvez eu esteja delirando, mas poxa, eu moro no Brasil, cara. No B-R-A-S-I-L. O salário mínimo atual, é quase o aluguel da casa onde vivo com a minha família, e só duas pessoas trabalham aqui. A situação vai de mal a pior.

Vou dar leves detalhes, para que se situem na atual situação da minha vida:

1- Tenho três irmãos menores;
2- Estou desempregada a quatro anos;
3- Meu currículo tem um monte de cursinho aleatório;
4- Moro em Rio Branco, no Acre (não, não tem dinossauro aqui, caralho. Só o meu rex, porque eu sou exclusiva);
5- Estou levemente acima do peso, e não é por falta de caminhadas não, porque o tanto que saio distribuindo currículo nessa cidade, meu Deus;
6- Minha vida sexual foi melhor no ensino médio do que agora (porque ao menos, no ensino médio eu tocava uma siririca, agora nem isso);
7- Tenho 26 anos;
8- Eu sou apaixonada na filha da vizinha e no açougueiro da esquina;
9- Já to explanando minha vida toda aqui;
10- Sou umbandista;
11- E que os orixás me ajudem.

  Finalmente encontrei uma boa vaga, aparentemente para ser secretária de alguém importante, em uma das empresas daqui. Tudo o que precisa, eu tenho, bom, pelo menos o que está pedindo aqui no jornal. Com a minha ansiedade no máximo, eu me levantei empolgada e fui correndo para o chuveiro, para fazer uma boa hidratação nesses cabelos de palha pura aqui, pois necessito estar cheirosa e bem arrumada para ver se consigo essa vaguinha. Aposto que será absolutamente minha! Ninguém me tira!

— Mãe, vou entregar currículo na empresa do centro!

— Qual delas? — Ela grita de volta — A de roupas? Energia? Marketing?

— Acho que é Marketing, no jornal não deixava específico.

— Estou só vendo, espero que não seja pra trabalhar em um cabaré. Onde já se viu quenga virgem?

— Ai mãe, credo!

Fiz uma careta, fechando a porta do banheiro, e já fui direto tomar aquele banho caprichado, pensando em cada detalhe, desde roupas á palavras que irei usar.

Me mandem forças, meus amigos.