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Levantei-me da cama e esfreguei os olhos. Fui ao banheiro e tomei um banho para espantar a preguiça, o que não deu certo. Coloquei uma blusinha e um short. Ethan começou a bater na porta, chamando meu nome com sua voz doce.

- Acorda, tia Giu! - ele batia na porta.

Eu a abri e olhei para ele vestido no pijama azul cheio de foguetes, segurando um boneco do homem de ferro em uma das mãos e esfregando os olhos com a outra.

- Bom dia, pedacinho de gente - disse, pegando-o no colo e beijando sua bochecha. - Que menino cheiroso! - ele sorriu enquanto tentava dar beijinhos no pescoço dele. - Já tomou café?

- Mamãe pediu para você descer.

Ajeitei-o nos meus braços e descemos as escadas juntos. Coloquei-o no chão e fomos em direção à cozinha.

- Bom dia, tia Mary - disse dando um beijo nela.

- Bom dia, querida.

Sentei-me na mesa ao lado de Ethan. Tio Giovanni provavelmente teria saído para comprar pão. A mesa redonda estava farta como sempre, com bolo, sucos, café e cereais para as crianças.

Tia Mary parecia preocupada com alguma coisa, fiquei tentada a perguntar, mas fiquei na minha, como sempre. Louise desceu, já uniformizada para o colégio, me deu um beijo e se sentou.

- Giullia, se importa de ficar com as crianças hoje? Seu tio e eu iremos à um jantar de negócios e não conseguimos achar uma babá disponível. Achamos que você...

- Não precisa chamar babá alguma, tia. Pode ir tranquila, eu fico com as crianças.

Ela sorriu parecendo aliviada.

- Deixarei o carro com você. Nós não vamos voltar para o almoço. Se importa de pegar a Louise no colégio?

Eu respondi que sim e ela sorriu para mim.

Depois que todos saíram, fiquei com Ethan assistindo televisão. Fiquei a manhã toda esperando uma ligação do Aaron ou do produtor que viria conversar comigo sobre uma proposta irrecusável, segundo Aaron, mas não tive sinal algum de nenhum deles.

Já estava quase na hora do almoço e meus tios não voltariam para casa. Fiz o almoço - pelo menos tentei fazer algo saudável para as crianças comerem - e fui pegar Lou no colégio com Ethan.

- Sua cadeirinha fica no carro ou no seu quarto? - perguntei, pegando-o em meu colo.

- Não sei.

"Claro que não sabe", pensei.

Fechei a casa e coloquei ele na cadeirinha que, por sorte, já estava no carro. Seguimos até o colégio ouvindo alguma música que tocava na rádio. Ethan brincava atrás e eu ria dele falando com os bonecos. Entretanto, meus olhos passavam pelo celular vez ou outra, nenhuma ligação do Aaron e muitas notificações do Twitter, Instagram e Snapchat. Avistei Louise antes de chegarmos no portão principal, ela também nos viu e acenou sorrindo.

- Oi - ela disse ao entrar no carro.

Eu respondi.

Não sabia como me portar perto das crianças, não fazia ideia se devia agir como a tia responsável ou ser uma tia legal que ri de tudo. Preferi ficar na minha até chegarmos em casa.

Voltamos para casa e almoçamos em silêncio. Até que tomei coragem e perguntei como tinha sido às aulas. Ela disse que foram boas, mas não estava interessada em conversar, então não disse mais nada.

Depois de comermos, coloquei almofadas no chão para assistirmos tv e eles acabaram pegando no sono depois de uma hora. Dei um beijinho em cada um e fui desfazer as malas.

Meu quarto ainda estava o mesmo. As mesmas cores, as mesmas luzes enroladas pelas paredes, o mesmo mapa mundi pregado acima da minha cama com os pinos marcados em todos os lugares que eu já visitei, as mesmas fotos do tempo que eu arrisquei ser fotógrafa. Me aproximei do painel de fotos e peguei uma foto da última vez que vi Aaron, aquele tinha sido o nosso último jantar juntos, mesmo sem sabermos. Peguei a foto e passei os dedos sobre ela. Eu senti tanta falta dele no período que estive no Brasil, ficou tudo estranho entre nós, fui embora sem me despedir e não entrei em contato por dois anos. Se ficar magoado, não posso culpá-lo.

Absorta em pensamentos, não percebi que alguém havia entrado no quarto. Quando me viro, é o Aaron, do mesmo jeito que me lembro. Com o sorriso largo e os lábios feitos perfeitamente para ele, me olhando com aqueles olhos que ficavam pequenos para que o sorriso mais incrível do mundo pudesse aparecer.

Não conseguia pensar em nada, nem dizer, só observá-lo e sorrir. Sempre fui certa sobre as coisas que queria, mas desde que conheci Aaron, eu não sei muito bem como agir quando se trata dele. Ele é sempre decidido e confiante, mesmo tendo apenas 19 anos, e me deixa indecisa, mesmo sendo três anos mais velha.

Ele continuava sorrindo, era quase um jogo pra ele, ver quem iria falar primeiro, quem não iria aguentar sustentar os olhares. Era nítido o quanto ele me desconcentrava.

- Sem jogos desta vez, Aaron - soltei, colocando o cabelo que caía no meu rosto para trás.

Ele passou as mãos no cabelo e se aproximou de mim.

- Sem jogos - ele me olhou e se aproximou mais -, desta vez.

Eu queria dizer que sentia falta dele e que sentia muito por não ligar nenhuma vez, por não responder as mensagens, por ignorá-lo, que sinto muito por Jeff. Só não sabia como dizer. Então, eu o abracei.

E ele me entendeu. Me abraçou e andamos agarrados pelo quarto até que meu corpo encostou na parede, ele me abraçou mais forte. Eu só fiquei ali, enterrada naquele abraço e me embriagando com o cheiro dele. Uma mistura de amor e paz, saudade e culpa, algo que nem sei descrever. Talvez fosse isso que ele me provocasse, um turbilhão de sentimentos. E, sinceramente? Eu gostava.

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