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Acordei mais cedo e fui correr pela cidade, sempre gostei de andar por aqui e ver como as coisas sempre eram iguais, dificilmente mudavam. Eu costumava a correr até o bosque e observar as paisagens, as pessoas e toda aquela coisa monótona que eu nunca gostei, mas sempre parava numa lojinha de conveniência e comprava as mesmas coisas.

Refiz o mesmo trajeto, mas fui parada algumas vezes no caminho por garotas que queriam tirar fotos e diziam que me amavam, aquilo ainda era estranho. Corri até o bosque e, depois de uma hora, fui comprar doces na lojinha de conveniência. Lembro de ser atendida por Bob, o senhor simpático dono da loja que sempre dizia que eu tinha belos olhos e uma risada horrível, parecendo uma foca. Ele era engraçado, não engraçado do tipo forçado, era algo natural dele, sempre falava da neta e de como ela gostava de nadar, que ela ainda iria trazer um ouro para os Estados Unidos.

Empurrei a porta, o que fez o sininho tocar, olhei a prateleira de doces que estava igual há uns três anos atrás, peguei umas três barras de chocolate e fui pagar.

- Olá, Bob! Quanto temp... - parei de falar quando vi que era uma garota no balcão.

Ela tinha olhos tão claros que eram quase cinzas, usava óculos e tinha os cabelos longos e lisos, tinha o sorriso do Bob, mas ele estava apagado. Os olhos estavam vermelhos, acho que ela estava chorando.

- Ah... desculpe - sorri amarelo -, pensei que o Bob estivesse aqui. Eu o conheço.

- Você é Giullia Sartorelli? A Giullia que canta no YouTube? - ela perguntou, ajeitando os óculos no rosto, parecendo incrédula.

Eu assenti com a cabeça e sorri. Queria perguntar se estava tudo bem com ela, mas não tive oportunidade.

- Provavelmente, essa sou eu. Você é...?

Ela me olhava dos pés a cabeça, boquiaberta. Tocou no meu ombro e no meu cabelo, provavelmente pra saber se eu era real.

- AH MEU DEUS! Giullia Sartorelli está na minha loja. - ela começou a falar um pouco alto e as pessoas que também estavam lá começaram a olhar, estava começando a chamar atenção demais.

Eu tentei pedir pra ela ficar calma e não gritar meu nome muito alto. Mas, toda vez que eu abria a boca para dizer algo, ela gritava ainda mais alto. Quando percebi, as pessoas já estavam fazendo um círculo ao meu redor, todas com o celular nas mãos.

- Giullia, você pode mandar um oi para a minha filha? Ela ama você! - disse uma mulher com cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo.

- Eeh... - exitei por um momento, mas acabei aceitando.

Fiz vídeos e fotos com todos que estavam na loja. Conversei com adolescentes que choravam no telefone. Fiz pais saírem com algo especial para os filhos. Me senti bem. Tinha planejado passar uma semana me organizando, sem ser vista e sem tirar fotos. Queria preparar uma surpresa para os fãs: um novo visual, um novo cenário, novos vídeos, novas parcerias, projetos próprios. Eu poderia ter negado aquele vídeo e todas as outras fotos. Porém, são para os meus fãs e eu não seria ninguém sem eles, não importa qual seja o meu plano, eles sempre serão minha prioridade. Acho que eu não estava conseguindo entender a proporção que a minha vida estava tomando, nunca terei minha vida de três anos atrás, nem quero que ela volte.

Cheguei em casa e encontrei tio Giovanni fazendo panquecas. Ele era o mais apegado a nona, aprendeu todos os segredos de cozinha da família, cada detalhe, cada tipo de massa, cada tipo de doce, tudo o que a nona sabia, ele aprendeu. Ela me ensinou algumas coisas, mas nada comparado ao que ensinou a ele.

- Alguém acordou de bom humor hoje - disse ao entrar na cozinha. Sentei-me em um banco e me debrucei sobre o balcão, mexendo nas sacolas e vendo tudo o que ele comprou.

Cidade dos Anjos | EM REVISÃO |Onde histórias criam vida. Descubra agora