Prólogo - A família

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15 de Novembro, 6:34

Fazenda Arizona, lar da Família Lane

O delicado contar do despertador elétrico ecoava pelas veias dos dois corpos solitários e inconscientes deitados sobre a cama desgastada do quarto. Um cheiro de mofo se misturava com o som estressante da respiração ofegante vindo do esôfago de Joe que quase engolia algumas moscas que dançavam pelo ar empoeirado, suas asas transparentes eram iluminadas pelos raios de sol que penetravam o espaço entre as amareladas cortinas, que privavam a visão da gélida manhã no extremo norte rural de Venus.

Dois segundos percorridos e o despertador começa um tilintar infernal que faz Ellen esticar involuntariamente sua mão de pele fina para fora da cama batendo vorazmente no botão a procura de dar um fim ao convite para a realidade.

Ellen virou a cabeça lentamente enquanto abria seus olhos ainda grudados pela longa noite de sono, as verdes esferas foram de encontro com a luz que em meio a pequenas piscadas pode contemplar os primeiros momentos da manhã. Mesmo depois de ter dormido um bom sono ela ainda sentia como se uma britadeira tivesse demolido um prédio de pelo menos 20 andares em seu corpo cansado.

Arrastando-se com certa preguiça ela se sentou no extremo da amassada cama e virou seu rígido pescoço lentamente observando Joe que permanecia dormindo ao seu lado com a boca aberta minando saliva, percorrendo seus olhos para o resto de seu marido ela viu que ele ainda vestia uma suja calça jeans e sapatos levemente molhados, respirou fundo ao lembrar que ela havia ido dormir sem a presença dele e que certamente ele havia chegado no meio da noite em boa companhia, o cheiro de bebida barata enojava o ar, certamente ele teria uma bela ressaca pelo resto do dia e Ellen ganharia algumas poças de vômito na escada para limpar, nada fora do habitual.

Tentando tatear com os pés os chinelos ela apenas conseguiu encontrar um, o outro deveria estar por baixo da cama e naquele momento ela se recusava a ficar deitada no chão para pegar até uma nota de cem.

Levantou-se da cama fazendo as velhas molas se remexerem com um barulho irritante em meio a espuma, foi andando pelo chão de madeira do quarto, onde sentia com o pé descalço o verniz gasto e frio já que o aquecedor não estava sendo tão eficaz ultimamente, dirigiu seu corpo cansado até a porta onde a abriu com um som fino vindo das juntas secas que pregavam a porta na parede descamada.

Projetando se pra fora do quarto ela já se deparou com uma grande mancha de urina centrada no meio do corredor, as meninas haviam deixado o cachorro dentro de casa novamente, e o maldito fazia aquilo somente para enfurecer Ellen, ambos não se davam muito bem, desde o dia que Ellen o deu uma surra por comer o seu vestido branco com flores vermelhas que estava no varal, era um vestido especial, foi com ele que conheceu Joe, e naquele vestido existia uma certa lembrança de um amor saturado.

Amaldiçoando o cão a mulher foi até a primeira porta depois do seu quarto, bateu na porta já gritando.

-Lili, acorda, está na hora! Você tem uma hora!

Continuando a andar ela parou na segunda porta.

-Gracie e Beth acordem, está na hora de levantar! Vocês tem cinquenta e nove minutos e alguns segundos.

Depois ela entrou na porta seguinte, lá era o banheiro.

Nesse momento a rosada porta do quarto de Lili se abriu, a menina de cabelos pretos e longos se projetou para fora do cômodo escuro, parecia bem disposta, bocejando, ainda de meias e coçando os olhos foi andando em direção a escada até que pisou direto na poça de urina.

-Que merda! Não acredito nisso! Que nojo!

Lili levanta o pé encostando na parede enquanto a meia absorve o liquido amarelo e mal cheiroso, nesse momento a porta do quarto de Grace e Beth se abre e quem sai de lá correndo é Petisco o cachorro que passa por Lili como se nada tivesse acontecido, logo após sai Grace dando gargalhadas para a irmã.

Os cinco de VenusOnde histórias criam vida. Descubra agora