Prólogo

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Eu encarava meu Adidas que um dia havia sido brancos

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Eu encarava meu Adidas que um dia havia sido brancos.

Guilherme tinha uma expressão distante, e se balançava lentamente no balanço como se estivesse bem longe dali.

Fazia duas horas que ele havia me salvado da palestra de minha mãe sobre a importância de eu escolher uma faculdade até o fim do ano.

Agora lá estávamos, sentados nos balanços do parque do condomínio.

Estava tudo deserto devido ao frio cortante que fazia naquele sábado.

— Sabe desde que minha avó morreu... — Disse Guilherme ainda olhando para o nada. — Venho me fazendo perguntas sobre a morte...

Revirei os olhos.

— Se você vai começar com sua ladainha filosófica de nerd, me poupe que volto para a palestra da minha mãe. — Disse sarcástico.

Guilherme se virou para mim.

Suas bochechas estavam vermelhas devido ao frio.

— Não, é sério! — Continuou ele empurrando os óculos com o indicador. — Por exemplo, se você fosse morrer daqui a duas semanas, o que você faria?

— Meu Deus, quem é você? — Debochei rindo. — Nicolas Sparks?

Guilherme me deu um soco no braço.

— Não idiota, tipo... — Continuou ele. — Que tipo de coisas você faria antes de morrer? E por favor sem essas baboseiras de "Dizer como eu amo todos meus familiares e aproveitar cada momento junto deles". — Disse Guilherme com uma voz debochada e revirando os olhos ao final. — Isso é o óbvio, todos fariam isso, mas, quais as coisas que você sempre quis fazer, porém faltou coragem?

— Ah... sei lá. — Comecei pensando. — Deixe me ver... Eu conheceria a Marina and the Diamonds!

Guilherme começou a rir.

— O que foi? — Perguntei. — Você perguntou o que eu faria, eu respondi.

— Claro! Um dos seus desejos pré-morte é conhecer uma cantora? — Debochou ele.

— Sim! — Confirmei. — Ela é uma lenda, provavelmente eu já morreria antes da hora se a visse pessoalmente!

— Pois eu correria pelado na rua. — Disse ele.

— Qual o seu problema? — Comecei a rir. — Você realmente acha que alguém quer ver sua genitália balançando no meio da rua?

— Garanto que eu iria fazer sucesso! — Disse ele se gabando.

— Garanto que você iria preso! — Rebati. — Eu usaria algum tipo de droga.

— Mas olha só quem diria... — Provocou Guilherme. — Parece que temos uma pessoa com tendências a dependências químicas aqui, ãhn?

— Qual o problema? — Questionei. — Eu não iria morrer? Não teria tempo de me viciar e poderia saber como é!

— Faz sentido. — Ponderou Guilherme. — É que sei lá, sabe... a gente passa tanto tempo planejando coisas e deixando para trás..., mas e se você não tiver todo esse tempo que a gente pensa que tem?

— Está é a incógnita da vida, meu querido... todos estamos fadados a morrer um dia. — Afirmei.

— Quem é a miss filosofia agora? — Debochou ele. — Enfim... Eu só queria ser mais desprendido, entende? Fazer as coisas sem deixar para depois...

— Tem uma coisa que nossos pais querem que a gente faça e pare de deixar para depois. — Falei. — Chama-se arrumar um emprego.

— Aí está algo que não quero fazer tão cedo! — Riu Guilherme.

— Somos dois, então! — Confirmei também sorrindo. — Se você quer ser desprendido, simplesmente seja... Pare de deixar as coisas para depois, você não precisa estar prestes a morrer para fazer as coisas.

Guilherme fez falsa expressão de ofendido.

— Olha só quem fala! — Rebateu ele. — Você é a pessoa mais apegada, medrosa e chata que eu conheço! Você não consegue ser insano nem se quer uma vez na sua vida, Rafael Alcântara!

— Eu gosto de ser tudo isso que você disse! — Rebatei entrando na falsa briga. — Você que está com essa coisa de "Quero ser mais desprendido". E para o seu governo, eu posso ser radical se eu quiser!

— Ah é? Me dê um exemplo de algo insano que você faria neste exato momento?! — Provocou Guilherme.

Gelei.

Havia algo insano que a muito eu queria fazer, mas não tinha coragem.

Estava tudo muito confuso dentro de minha cabeça e buscava em vão uma maneira de pôr em palavras o que eu estava sentindo.

— Eu... Eu falaria... — Comecei cauteloso.

Meu coração batia descompassado de nervosismo.

— Fala logo! — Provocou ainda mais Guilherme. — Tenho certeza de que você nem sabe o que faria!

— Cala a boca! — Rebati. — Claro que eu sei! Eu falaria que...

— Ei, vocês! — Interrompeu a voz na entrada do parque.

Quando viramos na direção da voz, vimos Igor junto de sua bicicleta. Ele estava agasalhado dos pés à cabeça como se estivesse prestes a enfrentar uma nevasca.

"Droga! Eu estava quase lá!" — Pensei.

— O que houve, Igor? — Perguntou Guilherme.

— Vocês não estão sabendo? — Disse ele com uma empolgação extrema na voz. — A NASA acaba de anunciar que um cometa vai colidir com a terra!

— O quê? — Perguntou Guilherme incrédulo.

— Puff! — Debochei revirando os olhos. — Tenho certeza de que isso é mentira. Deixe me adivinhar, os Illuminati são os donos do cometa?

— Bem... alguns teóricos da conspiração já estão dizendo isso... — Afirmou Igor. — Mas é sério cara, está em todos os canais!

Guilherme e eu nos entreolhamos.

Igor subiu em sua bicicleta empolgado e foi embora.

— Sem chance! — Disse Guilherme incrédulo.

— Esse Igor deve ter algum tipo de desvio mental! — Debochei.

Voltei a encarar meus Adidas encardidos.

— Então... O que você faria de insano? — Voltou a provocar Guilherme.

Já era tarde.

O surto de coragem que havia tomado conta de mim tinha se esvaído.

Talvez eu não deveria contar mesmo, afinal sempre que eu tentava algo impedia, até mesmo um cometa a caminho da Terra surgia para me interromper.

— Nada... — Disse com uma voz indiferente. — Você tinha razão, eu não sei o que faria...

Antes do Fim (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora