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Já haviam se passado cinco dias.
Cinco dias, 120 horas, 7200 minutos.
432.000 segundos se foram como pó sob o vento, e Park Taechan ainda estava em êxtase pela notícia que recebera da JYPE dias atrás.
O Ex.PHERA fora aceito, e estava há poucas horas (literalmente) de embarcar no avião que as levaria até a Coreia e as deixaria poucos passos mais próximas de seu tão sonhado debut.
Não era a toa que o estomago de Taechan (sempre bastante resistente) parecia estar a traindo, uma vez que começava a se revirar toda vez que ela se via pensando sobre isso.
Era desesperador.
Por esse motivo ela desistiu de tentar terminar de fazer suas malas e se pôs a desenhar.
Mesmo sendo um talento nada útil em um grupo musical, os desenhos de Taechan eram seu escape, a forma que ela encontrou dentro desse mundo cheio de escuridão e dor de tentar trazer alguma coisa boa.
De tentar trazer alguma luz as pessoas.
Era pra isso que existia a arte, ela se via pensando sempre. Era simples e verdadeiramente para mostrar que nem tudo nesse mundo é crueldade.
Que o próprio universo tem suas belezas e que ele mesmo luta para mostrar isso às pessoas, para mostrar que nem tudo está perdido, que não custa ter esperanças.
E ele fazia isso através da coisas mais simples do mundo.
Ora num pôr do sol, ora num sorriso de criança. Ora na maneira como as águas caiam numa cascata, ora na forma como os olhos de alguém se enxilham sempre que sorriem...
"O mundo é belo", é o que ele parece querer dizer, "Só preciso de pessoas que consigam captar isso e mostrar para as que não podem".
Assim surgiram os artistas como ela: reprodutores da natureza, transcritores da beleza.
Taechan sentia um orgulho enorme disso, e se perguntava se algum dia ela seria capaz de mostrar para o mundo a sua forma de vê-lo, a sua forma de absorvê-lo.
Mas enquanto esse dia não chegava, ela apenas desenhava na solidão e quietude de seu quarto.
Seus olhos eram atentos, seus dedos rápidos e precisos.
Ela sempre fora mais adepta ao realismo, às texturas naturais, aos traços leves. Por isso estava naquele momento treinando sua capacidade de desenhar realismo em preto e cinza.
Ao seu lado estavam depositados lápis das mais diversas espessuras, e a sua frente uma enorme foto de um dos integrantes do GOT7 como referencia para seu desenho.
Ela estava naquele momento desenhando os olhos do rapaz, a forma com que a parte interna fazia uma curva bem singela para baixo. Ela achava aquilo tão lindo. Na verdade, ela achava ele todo lindo.
Taechan tentava e tentava, mas ela sabia que era impossível não sentir aquilo, não sentir aquele amor, não sentir toda aquela paixão que sentia e acreditava sentir até o fim de sua vida por Mark Tuan.
Ela evitava mostrar seus desenhos porque quase todos eram dele, e tinha medo de acabarem tarjando-a como obcecada ou pior, de sem criatividade.
Por que que tipo de artista desenha apenas uma coisa? Que tipo de artista fica sempre numa zona de conforto que parece não querer largar nunca?
Bem, por enquanto ela era esse tipo de artista.
Pois o que ela poderia fazer se a sua inspiração era Mark Tuan? Se seu sorriso era o motivo que a fazia querer acordar de manhã e aguentar todas as dificuldades que ela sabia estarem chegando cada vez mais perto? Se ele era o único homem que fazia seu coração disparar milhares de batimentos por minuto?
Porque, bem, era esse o efeito que Mark Tuan tinha sobre ela.
E só de pensar que dali a alguns dias ela poderia finalmente conhecê-lo? Só aquilo já fazia ela querer enfiar a cara no travesseiro e dormir até chegar nesse momento, porque a ansiedade não a deixaria pensar em nada além daquilo, ela sabia.
Por isso tinha se enfiado em seus desenhos.
Eles tinham a capacidade de fazê-la ficar distraída e imersa em outro mundo.
Ou pelo menos era esse o objetivo até ela escutar batidas suaves na sua porta.
Apressada para esconder seus papéis e suas canetas, ela acabou deixando a pessoa aguardando alguns segundos a mais que o necessário, por isso foi logo se desculpando antes mesmo de abrir a porta e ver quem estava ali.
- Desculpa, eu estava dobrando algumas roupas e... - ela parou de falar quando viu Rira com uma cara nada boa. Seus olhos estavam marejados e ela parecia prestes a chorar a qualquer momento. Isso surpreendeu tanto Taechan que ela largou mão de suas desculpas e foi logo acompanhando sua unnie até a cama onde ela já estava se sentando. - O que aconteceu? Por que parece que você vai se debulhar em lágrimas?
Rira olhou pra ela e seus lábios tremeram levemente antes de se abrirem.
- Meus pais... - ela foi dizendo, e Taechan não precisou ouvir mais nada. A relação de Rira com seus pais desde o momento em que ela decidira abrir mão de sua profissão para seguir a carreira musical internacional não estava nada boa. Eles pareciam não aceitar a escolha da filha, e como Rira não estava nada disposta a desistir do Ex.PHERA por causa da vontade deles, eles pareceram achar justo negligenciá-la como castigo, tratá-la como um nada até ela "abrir os olhos para essa loucura sem sentido".
E bem, parecia que eles continuavam com esse pensamento.
- Eles disseram que jamais vão me apoiar com isso, que jamais vão aceitar uma filha que decidiu largar o curso que eles mantiveram com muito esforço pra seguir algo que está fadado ao fracasso. - ela continuou. Sua voz tremia tanto que Taechan estava surpreendida por ela ainda não estar chorando. - E eles disseram que enquanto eu seguir com isso, eu não preciso nem tentar falar com eles novamente, porque eles vão me ignorar. - ela levantou seus olhos escuros (quase pretos) para Taechan. - Eles me deserdaram. Eles não me consideram mais filha deles, não me consideram mais da família. Pra eles eu estou tão boa quanto morta. - ela levou a mão até o coração como se algo doesse muito ali. Seus olhos desviaram para o chão e ali permaneceram. - O que eu faço? Eu não tenho ninguém, Taechan. Todo o dinheiro que eu tenho é o que juntei durante o tempo que trabalhei, e isso não vai me sustentar por mais que uns quatro meses.
Taechan, pra ser sincera, não fazia ideia do que aconteceria. Rira era a única que tinha uma "renda" própria por assim dizer, já que ao contrário dos pais dela, os das demais (incluindo os de Taechan) apoiavam o sonho das filhas. Por isso Rira tratara de conseguir um emprego antes mesmo de sua formatura, porque ela sabia que teria que ir pra São Paulo com seu próprio dinheiro, assim como teria que se manter ali por si só.
Então Taechan realmente não fazia ideia do que Rira estava passando, muito menos de que forma poderia ajudá-la.
- Mas JYPE vai arcar com todas as despesas, não é? Digo, eles tem como obrigação cuidar dos trainees. E depois do debut nós vamos ganhar nosso próprio dinheiro, então você não vai mais ter que se preocupar com isso... - Taechan tentou ajudar, mas aquilo soava ridículo até para os seus próprios ouvidos. Ela sabia que o dinheiro não era o maior problema ali.
"Eu não tenho ninguém, Taechan"
O real problema de Rira era a solidão que ela achava estar chegando cada vez mais perto, a líder acabou por concluir.
Por isso achou que estava na hora de fazer seu papel.
- Você sabe que trainees são tratados como nada lá, certo? Seremos ratos de laboratório, e somente os que se saírem melhor vão migrar de dentro da gaiola e se tornar de estimação. - Rira retrucou.
Taechan também sabia daquilo, mas preferia manter os olhos fechados e pensar no lado positivo.
- Mas pelo menos eles dão casa, mesmo sendo um dormitório compartilhado, e comida, mesmo sendo só frango com batata doce. - ela foi dizendo. - E não esqueça que podemos ajudar você. Nossos pais vão continuar mandando dinheiro pra gente, e podemos ajudar você no que precisar, sempre. - Taechan disse com tanta firmeza que Rira levantou o olhar para encontrar os de sua líder. - Somos um grupo, somos irmãs. Você nos ajudou tanto, Rira. Fez de tudo pra que conseguíssemos conquistar nossos sonhos, e sabemos que sem você nada disso estaria acontecendo, então claro que temos uma dívida com você e claro que vamos ajudar sempre. É pra isso que as famílias servem, não? - Taechan terminou com um sorriso pequeno, e Rira finalmente desatou a chorar.
Taechan olhou preocupada enquanto a mais velha (que geralmente não era adepta a demonstrações físicas de afeto) abriu seus braços e envolveu Taechan com eles, apertando-a com força enquanto soluçava.
Taechan realmente não sabia o que fazer, portanto apenas retribuiu. Suas mãos estavam alisando os cabelos pretos e sedosos de Rira quando a mais velha começou a falar de forma abafada.
- Obrigada por isso. Eu realmente não queria jogar isso tudo em cima de você, ainda mais quando estamos tão perto da viagem, mas eu realmente precisava conversar com alguém e... - ela fungou. - E eu achei que as outras meninas talvez não entendessem ou não soubessem lidar com isso, por isso procurei você. - ela continuou, e Taechan não deixou de se sentir especial por ter sido a escolhida. Por Rira ter depositado esse tipo de confiança nela.
Sua própria voz estava um pouco mais cheia de emoção quando foi responder sua unnie.
- Fico feliz que tenha me procurado. - ela começou. - Não sou a líder só pra enfeite, sabe? Posso não ser o exemplo de pessoa responsável e séria que você é, mas eu combino com todos os líderes que existem no mundo em um quesito: eu quero o bem do meu grupo e sou capaz de ir até o inferno pra conseguir isso. Então não ache que eu não estou aqui sempre que você precisar. Acredite em mim quando digo que quero ser perturbada com os seus e com os problemas das outras. Faz parte do eu cargo saber escutar. - ela prosseguiu, e Rira demorou tanto para responder que por breves segundos Taechan acabou por pensar que ela poderia ter dormido.
- Obrigada por ser essa pessoa. - Rira disse com a voz fraca. - E obrigada por oferecer seus serviços. Pelo visto consegui uma terapeuta, e acredite quando digo que sou uma paciente bem assídua. - Rira disse com humor, e acabou por soltar uma risada bem suave ao terminar de falar. Taechan, suspirando de alívio por ver que ela parecia estar um pouco melhor, separou o abraço e olhou pra sua unnie.
- Bem, eu estarei sempre aqui. - ela afirmou novamente. - Para o que precisar.
Rira assentiu e fez sinal de "anotado" com as mãos. Seu rosto estava menos abatido quando olhou para a cama de Taechan e viu as roupas dobradas ali.
- Você ainda não terminou de guardar suas roupas... - ela observou. Seus olhos inchados correram de Taechan para a mala antes de voltar pra Taechan. - Quer ajuda? Já terminei com as minhas coisas, então estou livre até a hora da viagem.
Taechan encarou sua unnie durante um tempo, seus olhos percorrendo todo o seu rosto em busca de algum traço de tristeza. E ela encontrou, bem escondido sob aquele sorriso terno que Rira abrira para ela.
Taechan acabou por concluir que sua unnie era muito mais forte do que aparentava ser, que ela seria capaz encubar e guardar a sete chaves qualquer sentimento ou dor somente para não sobrecarregar ninguém com seus problemas, com suas frustrações.
E somente de saber que apesar de ela ser assim, ela acabou procurando Taechan para desabafar, fez a líder ver que estava fazendo seu papel corretamente.
Que afinal de contas, ela era boa em alguma coisa além de desenhar.
Por isso, com sua confiança melhorada, ela assentiu e andou até a pilha de roupas que deveria colocar em sua mala.
- Se você estiver disposta a passar sufoco tentando enfiar esse monte de roupas em minha mala minúscula, seja bem-vinda. - Taechan ironizou, e Rira acabou por soltar uma leve e sonora gargalhada.
- Bem, só tenho a agradecer pela hospitalidade. - foi o que ela disse.
E então elas começaram a arrumar a mala de Taechan, empacotando não somente aquelas roupas, mas toda e qualquer frustração que pudesse atrapalhar aquele momento mágico ao qual elas estavam vivendo.
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Ex.PHERA - The Beginning Of The Dream
FanficComeçou com um sonho, ou melhor, com sete. Sete garotas que se viam deslocadas num mundo de monotonia e mesmice. Sete garotas que amavam música e dança, e que admiravam artistas que faziam com suas canções tudo aquilo que elas almejavam fazer algum...