Joanna abriu os olhos e olhou para a a janela. O dia estava como ela queria, frio e cinzento. Ela abriu a janela e viu que estava chovendo, sentindo as gotas frias de chuva caindo em seu rosto. O dia estava perfeito.
A vida estava difícil para Joanna, mas ela ainda estava com esperança de que isso ia passar. Afinal, poderia ser pior. Seus pais andavam brigando e havia o risco constante de eles se separarem e a deixarem dividida. O que a mantinha viva era o simples fato desse ser o seu último ano de escola e poder enfim ir para a Faculdade de Artes, como esperava desde que aprendeu a pintar.
Quando o despertador finalmente tocou, ela decidiu levantar da cama e ir se arrumar para a escola, uma tradicional instituição católica que a obrigava a usar uma saia xadrez até os joelhos e uma blusa de botões. A única peça de roupa que Joanna tinha a opção de escolher era o casaco ou suéter, que tinham se tornado costume para ela. Após colocar seu uniforme e arrumar seus cabelos negros e cacheados em belas tranças, desceu e foi tomar café, como sempre fazia.
A mãe estava fazendo panquecas e o pai estava sentado lendo seu jornal quando ela chegou. Os pais mal notaram sua presença, estavam ocupados demais. Joanna chegou a pensar que se fugisse de casa naquele momento, nem sequer perceberiam sua ausência.
-Bom dia -disse ela.- Como vocês estão?
-Joanna! Não a vi entrar, querida. -a mãe falou apreensiva.- Você quer panquecas para o café da manhã?
Joanna negou com a cabeça e suspirou, vendo que o pai mais uma vez não ligara para sua presença na cozinha. Isso era normal, mas Joanna nunca se acostumaria com a indiferença do pai.
-Vou pegar uma maçã, uma garrafa térmica para colocar o café e ir para a escola, já estou atrasada.
Assim que falou isso, ela olhou para o relógio e viu que, na verdade, poderia ficar e comer com sua família mas preferiu seguir seu caminho. Já era costume não tomar café em família, os pais eram muito ocupados e viviam viajando. Manhãs como aquela eram uma raridade e, sendo assim, já havia se acostumado a seguir seu caminho sozinha até a escola.
A escola chamava-se St Agnes e ficava a 10 minutos da casa de Joanna, se ela pegasse o ônibus da escola. Naquela manhã ela decidiu ir caminhando, levando assim 30 minutos para chegar. Enquanto caminhava ficou pensando se deveria ter aceitado as panquecas que a mãe fizera, seu estômago estava dando sinais de que a maçã não havia sido suficiente.
"Vou passar na cafeteria antes de ir para a aula" pensou ela enquanto entrava na escola e ia direto comprar um sanduíche natural de frango e um suco de laranja. Após comer, viu seus amigos conversando e rindo e decidiu ir até eles.
Os amigos sorriram ao ver a morena, que não aparecia na escola há muito tempo. Ela sorriu ao ver os amigos e tudo pareceu voltar ao normal, como um passe de mágica. Ana Carolina, a melhor amiga de Joanna, correu para abraçá-la e matar a saudade da amiga.
-Joanna! Como você está? -perguntou Carol.
Joanna deu um sorrisinho fraco e disse:
-Melhor impossível.
Mesmo aquilo não sendo verdade, ela não conseguiu contar para os amigos a real situação, iria destruí-los e tudo que Joanna queria era que tudo voltasse ao normal, como era dois anos atrás, quando não havia nada a se preocupar e ela vivia sorrindo. Pedro, o melhor amigo dela, não conseguia acreditar que ela estava realmente de volta e a primeira coisa que fez foi levantar as mangas do moletom de Joanna, revelando inúmeros machucados que, pelo visto, estavam cicatrizando.
-Você realmente está bem? -perguntou Pedro, preocupado.- Não vou aceitar mentiras dessa vez.
-Sim, Pê, perfeitamente bem. -Joanna revirou os olhos.- Não aguento mais as pessoas me perguntando isso.
Uma Irmã se aproximou e fez um sinal para que Joanna fosse até sua sala. A Irmã se chamava Judith e era psicóloga, sempre buscando ajudar os alunos do colégio St Agnes. Joanna estremeceu e foi em direção a sala da freira, que parecia uma moça comum, na casa dos 20 anos.
- Olá, Joanna. Seus amigos parecem muito preocupados com você, isso não é ótimo? -Disse a Irmã com certa delicada em sua fala.
-Como se isso fosse ótimo...-murmurou Joanna.- Não sei onde preocupar os amigos é uma coisa boa.
A Irmã fechou a cara ao ouvir aquilo, com certeza não era um bom sinal. Judith sentiu que a menina estava sendo sincera e ficou preocupada. "Será que os pensamentos ruins estão de volta?" Pensou a freira enquanto escrevia algumas notas sobre a morena, que mantinha uma expressão séria e triste.
-Então, Joanna. -disse a freira- Você está gostando de estar de volta ao colégio St Agnes?
A pergunta fez a menina estremecer, tendo que parar e pensar em como tinha chegado ao ponto de estar na sala da psicóloga. Seus pensamentos a levaram ao outono de 2018, dois anos atrás, que foi quando a sua vida começou a desmoronar.
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Fantasmas do Passado
Teen FictionQuando a vida de Joanna vira uma bagunça total, a menina perde o controle. Tenta cometer suicídio e seus amigos logo a internam em um hospital psiquiátrico para que se recupere. Dois anos depois, a menina volta para o colégio e para sua vida no...