A Salvação dos Reinos

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A faca cortou o ar, rápida como um raio, e fincou no tronco da macieira. Um sorriso satisfeito surgiu em minhas feições ao ver a faca brilhante presa na madeira escura da árvore. Caminhei até a árvore, meu vestido azul mar farfalhava ao passo em que eu andava. Segurei o cabo prata da faca com força e a puxei do tronco da macieira. Virei meus calcanhares para voltar ao mesmo lugar de onde eu havia atirado a faca, mas parei imediatamente quando vi minha dama de companhia caminhar rapidamente até mim.

- Alteza, a rainha solicita vossa presença no escritório.

Shannon curvou-se, seus cabelos castanhos dourados presos em um coque bem arrumado brilharam a luz do sol. Suspirei alto. Eu sabia o que minha mãe queria, mas não queria falar daquele assunto. Passei a mão por meu vestido tentando arrumá-lo para parecer um pouco apresentável para a rainha.

Meus passos eram lentos, eu estava enrolando ao máximo para não ter que ouvir as mesmas palavras que minha mãe falava a mais de dez anos, eu estava cansada.

Eu esperava que Shannon viesse comigo, mas ela estava ocupada com todos os afazeres que minha mãe colocara ela para fazer. Eu odiava que a única pessoa com que eu podia conversar estava ocupada só porque ela queria que tudo estivesse perfeito para a maldita tradição. Mas é claro que eu não podia reclamar, ela era a rainha e eu deveria respeitar suas ordens.

As duas enormes portas da sala do trono apareceram mais cedo que eu esperava. Vários guardas estavam parados ao lado das portas, com suas posturas perfeitas e rígidas. Como se tivessem lido meus pensamentos, todos fizeram uma reverência perfeita, mas entre eles uma tosse debochada surgiu. Olhei para a origem daquela tosse debochada, Kieran. Ele estava com um sorriso cínico no rosto moreno e seus olhos brilhavam com diversão. Eu queria fazer um gesto inapropriado para ele, mas eu tinha que agir com uma dama.

Ignorei Kieran e abri as duas enormes portas da sala do trono. Meus pais estavam sentados nos tronos com alguns ministros e outros nobres ao redor deles. Respirei fundo quando meu pai notou minha presença e sorriu, pelo menos ele estava lá para me ajudar com minha mãe.

Endireitei a postura e segui até eles. O olhar de minha mãe caiu sobre mim e ao mesmo tempo sua mão fez um movimento dispensando todos.

- Carmen minha querida, você está um pouco atrasada.- Minha mãe disse.- Você sabe que uma princesa sempre tem que ser pontual.

- Não pegue pesado com ela Clarise.

Abri um sorriso agradecido para meu pai.

- Não se preocupe pai, já estou acostumada.- Olhei para minha mãe.- O que vossa majestade quer?

Minha mãe suspirou, parecia que para ela eu era um caso perdido. Eu não era como Benjamin. Não era calma, não media minhas palavras e muito menos tinha paciência. Talvez o destino tenha feito certo em escolher ele como o herdeiro, não eu.

- Você está pronta? A tradição começa hoje, é seu dever como princesa de Normanno está pronta para servir a seu povo.- Ela apoiou as mãos no colo.- Eu acho que já está na hora de você se casar.

Aquilo foi como um tapa na cara. Eu tinha acabado de fazer dezessete anos e minha própria mãe já queria se livrar de mim.

- Me casar?!- Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.- Eu não vou me casar. Não quero passar minha vida inteira com alguém que eu não conheço e que eu não gosto.

Minha mãe se levantou do trono e andou até mim.

- Carmen Saheartswan, você deveria ter mais respeito a sua rainha.- Os olhos dela pareciam duas faíscas azul esverdeadas.- Você vai se casar sim e eu penso que James será um ótimo partido para você.