Uma nova vida
Jackson acordou com a luz do sol no rosto o que lhe proporcionou uma bela careta. Sentindo um peso sobre o colchão acabou por olhar para o lado e viu a rosada dormindo calmamente. Ao fitar detalhadamente o corpo dela, se perguntou como alguém poderia ser tão gostosa e maravilhosamente fogosa na cama. Esse pensamento fez o loiro soltar um breve riso nasal.
Ele sabia que ela estava com ele por puro interesse, mais nem ligava, afinal o sentimento era reciproco, pois também estava com ela por puro interesse. Interesse no corpo dela e só. Sentiu ela se remexer na cama, porém apenas o suficiente para se virar e continuar dormindo.
O loiro jogou os lençóis para o lado sem se importar se iria acordar a mulher ou não. Levantando logo em seguida completamente nu, o que fez com que seus pelos se arrepiassem ao sentir a breve brisa fresca da manhã. Foi andando em direção ao banheiro e tomou um longo e demorado banho. Era naquele momento que ele refletia suas ações, o que no final não resultava em nada, pois sempre acabava repetindo o mesmo ato. Balançou a cabeça para espantar os pensamentos e desligou o chuveiro.
Quando saiu do banheiro estava usando apenas uma toalha presa em seu quadril e respingando agua por todo o trajeto até o closet, o que era mais uma mania do mesmo que a morena odiava. Andando em direção a parte destinadas as roupas de trabalho escolheu o termo mais extravagante. Ele queria trabalhar, se distrair, queria de todo modo ocupar seu tempo para não ter que ficar refletindo suas ações por mais tempo e também ele não queria ver a cara de sua esposa, pelo menos não hoje.
Foi andando em direção a biblioteca para procurar alguma coisa para ler, como fazia toda manhã antes de ir ao trabalho. Porém antes mesmo de começar sua procura, ele estancou ao ver um livro caído no chão. Seu primeiro pensamento foi que sua esposa teria pegado aquele livro para ler e acabou por deixa-lo caído, contudo ao refletir mais um pouco, percebeu que sua esposa em todos esses anos jamais tinha feito isso.
Se abaixou para pegar o livro, e algo realmente o deixou intrigado. Tinha um pedaço de papel marcando uma página, mas só ele lia o livro em dias, muito diferente de sua esposa que sempre termina no mesmo dia, logo aquela obra de marcar páginas só poderia ser um ato do loiro. Acontece que ele nunca tinha nem visto aquele livro. Movido pela curiosidade, ao pegar o livro abriu nas páginas marcadas e começou a ler. Ao ler o título percebeu se tratar de uma crônica. "A dor que dói mais". Foi andando até a cozinha com o livro em mãos, mas só continuou a ler depois de beber um enorme copo cheio de agua.
"Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer."

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Superando o Sol
Romance"Eu estou cansada disso. Cansada de me dedicar a alguém que não me ama. Cansada de sofrer. Mas agora eu estou pronta. Pronta para dar o troco!"