Welcome to the family

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       Estava com a sensação de queda, como se estivesse mergulhando sem fim em uma escuridão aterrorizante. De repente, me vi sentada em uma cadeira, parecia ser a cozinha da minha casa. A lâmpada que pendia no teto balançava, exalando uma fraca luz amarelada e ao meu redor não tinha nada, apenas um grande preto vazio, como se estivesse nas profundezas do limbo. Percorri meus olhos sensíveis pelo plano que me era visível, ou seja, apenas eu e a mesa em minha frente, e quando os feixes amarelados rodearam minha frente, três silhuetas tremeluziram, mas ainda eram completas sombras, apenas tomaram formas humanas.
       

       A princípio, tentei chamar ou perguntar quem era, mas minha voz parecia estar presa em minha garganta. Eu mal produzia um gemido sequer. Pensei em levantar, mas daí percebi que minhas mãos estavam atadas por uma corda acoplada aos braços da cadeira, então comecei a sentir um desconforto. Nada que eu fizesse me livrava daquilo e as sombras em minha frente começaram a soltar sons semelhantes a risadas, mas não eram risos comuns, e sim bem estridentes. Elas se aproximaram de meu corpo, erguendo suas mãos negras até mim, fazendo-me fechar meus olhos como reflexo, até uma luz esbranquiçada completamente exuberante irromper todas as sombras do local.

        Meus olhos rodearam a lâmpada fosforescente acima de mim. Ainda tentava me acostumar com a claridade, mas uma dor percorreu minha cabeça como se eu tivesse tomado algo bem gelado rapidamente, o famoso "cérebro congelado". Reconheci que meu corpo pendia deitado em uma espécie de maca, com uma coberta por cima de mim. Tentei mexer algo, mas me sentia muito pesada pra isso, uma exaustão que nunca tive na vida. Escutei algumas vozes, cochichos, mas meus sentidos não tinham se habituado completamente naquele ambiente ainda, até eu sentir uma mão gelada tocar na minha testa e me fazer vacilar.

— Calma aí, princesa, bem-vinda ao mundo real — reconheci a mesma voz feminina que me salvou.

        Um flash de memórias me veio à mente: a aula de educação física, normal, até começar um som que nocauteou todo mundo e, depois disso, algumas explosões. Minha cabeça doeu mais ainda, fazendo-me franzir a testa em uma careta nada bonita. Levantei meu corpo, sentando-me na maca, e meus olhos encontraram os da garota: esferas âmbar totalmente brilhantes com uma pupila totalmente negra e assustadora. Seu cabelo caía-lhe até a cintura, era de um ruivo completamente belo, como as chamas de uma fogueira em uma noite escura. A menina trajava um vestido negro, não muito colado, mas que realçava bem as curvas de seu corpo meio esportivo. Sua mão gelada em minha testa me incomodava um pouco, era como se ela estivesse morta, então afastei minha face.

— Onde eu estou? Eu preciso sair daqui... — tentei me levantar, mas mal conseguia respirar, quem dirá me mexer.
— Você está bem, calma, só precisa descansar — falou gentilmente a garota ao meu lado.
— Lyanna! Ah, ela acordou, graças a Deus — ecoou uma voz masculina pelo local.

        Um homem alto e robusto, de cabelos negros repicados e olhos azuis cintilantes, começou a andar em minha direção. Ele transmitia uma sensação de calmaria, e, por um instante, senti como se todos os meus problemas fossem uma pena, deixando-me relaxada e tranquila. O homem se sentou na minha cama, afastando minhas pernas gentilmente, e começou a olhar um monitor que estava ao lado de minha maca.

— Que Deus, como assim? Você é ateu — falou Lyanna, observando o homem com um meio sorriso.
— Ok, Lyanna, não vamos entrar em detalhes aqui. Espero que não tenha assustado nossa convidada — ela soltou uma breve risada.
— Q-quem são vocês? — indaguei, completamente confusa.
— Olá, Valerie, espero que tenha tido um bom descanso. Sou Bartholomew Cesar, diretor do Instituto Bakersville, e essa garota ao seu lado é Lyanna Ellerian. Nós fomos os responsáveis por salvar você e a sua escola — esclareceu o homem.

Mutants of FutureOnde histórias criam vida. Descubra agora