Paro um instante, tentando processar o que havia acabado de ouvir.
— Mas o quê...? O que os seus pais irão achar disso?
Ele dá de ombros.
— Se meus pais estivessem vivos, provavelmente me dariam uma bronca por estar na rua a essa hora.
— Ah. Desculpe. — digo sem graça.
Ele dá um leve sorriso.
— E então? Vão ficar parados aí ou nós vamos procurar um lugar para irmos?
Começamos a andar. Quando chegamos perto da casa de Allan, ele pede para o esperarmos um pouco, enquanto pegava suas coisas. Quando entra no pequeno prédio, Oliver pergunta:
— De onde o conhece?
— Da escola. — digo, simplesmente.
Ele fica me olhando com desconfiança por um tempo, mas depois parece desistir da ideia de insistir e apenas aguarda.
Vinte minutos depois, Allan aparece na porta. Tinha tomado banho e seu cabelo negro está molhado e jogado. Ele está inteiramente vestido de preto. Desde a camisa até os tênis. Aquela camisa preta que ele usa sempre é justa e marca seu tórax definido. Segura uma mochila preta nas costas e vem correndo.
— Estou pronto.
Assinto e Oliver resmunga alguma coisa em voz baixa, mas eu o ignoro. Seguimos os três pela longa estrada sem rumo. Aproveito a oportunidade para lhe conhecer melhor.
— O que o fez querer vir conosco?
Ele dá de ombros, como se não tivesse ouvido minha pergunta.
Calo-me e seguimos adiante. Passaram mil e uma perguntas em minha mente mas seguro-me para não parecer chata.
Oliver aperta o passo e para na frente, nos olhando:
— Para onde vamos?
Olho para Allan, sem saber ao certo o que dizer.
— Podemos seguir por uma trilha a uns dez quilômetros. É a única que conheço. Mas só se vocês estiverem dispostos a andar em mata fechada. — diz ele, que depois olha para mim e dá um sorrisinho.
Estreito os olhos e digo:
— O que foi? Acha que não consigo? Pois saiba que eu topo.
O sorriso dele aumenta.
— Então vamos.
*
Não aguento mais andar. Já havíamos percorrido uns oito quilômetros. Não imaginei o quanto isso seria cansativo. A impressão que tenho é de que Allan sabe todo o caminho, e estranho isso.
Devemos ter andado os dois quilômetros restantes, pois entramos em uma trilha no meio da mata. Está escuro e se não estivéssemos sendo guiados por Allan, Oliver e eu não saberíamos para onde ir.
Ele parece saber exatamente para onde ir e qual rumo virar, como se já tivesse percorrido esta trilha centenas de vezes.
Quando já está quase amanhecendo e estamos bem dentro da mata, avistamos uma cabana. É velha e descuidada. Tenho a impressão de que ela foi abandonada há anos.
Nós três entramos e sinto um conforto inexplicável. Sinto que estou segura aqui. Como se esta cabana e tudo à minha volta me protegessem de qualquer coisa ou qualquer um. Me pergunto se Oliver sente o mesmo.
Deixo minha mochila no canto da parede e observo o local. Está escuro aqui, iluminado apenas por uma vela que Allan havia acendido ao entrar. Não há móveis, apenas um sofá velho e quebrado e uma escrivaninha feita de madeira que está apodrecendo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Refúgio
Teen FictionSou Alicia, uma garota de 15 anos, que leva uma vida nada fácil. Começando pelo fato de não conhecer meu pai e não ter uma convivência boa com minha mãe, tudo o que me resta é Oliver, meu irmão de 19 anos que me trata como uma criança e é o pai que...