A Cor da Paixão

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Ela estava lá, brincando com a irmã. Olhos castanhos, claros como mel, e um sorriso cativante. Nada no mundo se comparava à sensação de estar perto dela. Isso me trazia uma paz, uma vontade de viver. A alegria que ela sentia o tempo todo era contagiante. Ela via a vida de uma forma tão simples que às vezes eu me surpreendia. Embora na praça houvesse uma quantidade razoável de pessoas eu só tinha olhos pra ela, a luz da minha alma.

— Você devia falar com ela — falou Arthur, me assustando como sempre faz.

— Droga, Arthur! — falei — Não podia chegar fazendo barulho como todo mundo?

— Poderia — respondeu, sentando no banco à minha direita e colocando as sacolas de fast food em cima da mesa —. Mas aí eu não veria sua cara de bobo apaixonado, admirando sua amada.

— O quê? — falei com um sorriso envergonhado — Eu não... eu só... Ah esquece — falei abrindo uma das sacolas.

— Certo... 

— E que história é essa de "amada"?

— Andei vasculhando suas coisas e encontrei uns livros de romance medieval. Coisa tipo "Romeu e Julieta".

— Quê? — falei, parando uma batata frita no meio do caminho — Por que estava mexendo nas minhas coisas?

— Suas coisas são interessantes.

— Sabe. Existe uma coisa chamada privacidade. É bem legal. Você devia usar de vez em quando.

— Ah. Não vem com essa. Eu uso isso. Você não mexe nas minhas coisas e isso é privacidade suficiente pra mim.

— Não sei por quê ainda sou seu amigo.

— Me pergunto o mesmo. Você usa sarcasmo o tempo todo e eu aguento. 

Continuei comendo meu lanche.

— Olha só quem vem aí — falou Arthur. Isso me fez levantar o olhar.

Marina e Maria vinham se juntar a nós e reivindicar seus respectivos lanches. Ambas usavam vestidos. Maria, vermelho e Marina, azul.

— E aí, gente? — falou Marina ao se aproximar — O que compraram?

— Sanduíches de queijo e presunto e batatas fritas — falou Arthur —. Acho até que exagerei na quantidade de batata. Mas, pelo menos o pão dos sanduíches é integral. Acho que isso equilibra a quantidade de gordura.

As duas irmãs deram risadas sem graça. Marina tinha mechas azuis nas pontas do cabelo. Isso fazia parecer que o cabelo se unia ao vestido.

— Não tem problema, Arthur — falou Maria — A única preocupada com o corpo aqui é a Mari.

— Ótimo, criança — replicou Arthur, sorrindo amigavelmente para a pequena Maria —. Parece que vai sobrar mais batatas para nós.

Comemos nossos lanches em silêncio a maior parte do tempo. Exceto por um momento em que Arthur teve a brilhante ideia de fazer uma "piada com cores favoritas".

— Sabe — começou ele —, minha cor favorita é o branco. Ele representa pureza e é a cor das nuvens, algodão, açúcar e luz. Uma vez — continuou —, Jonathan, você me disse que gostava de azul, não foi?

Quase engasguei com o sanduíche por ter entendido o trocadilho.

— Primeiramente, Arthur — falei me recuperando —: O branco não é uma cor. É a soma de todas as cores. E, segundo: Eu nunca disse que gostava de azul, eu disse vermelho, pois é a cor do sangue e da paixão. Acho que deveria lembrar disso, não é?

— Ah, sim — falou ele —. Você está certo. Mas acho que você não deveria usar tanto sarcasmo.

— Eu faria isso se você não usasse tanta ironia.

— Espera um pouco — interveio Marina —. Vocês estão mesmo brigando por causa de cores favoritas?

— É claro que não — respondi olhando para Arthur —. Não valeria a pena, não é mesmo?

— E não seria um exemplo para a criança aqui — emendou Marina.

— Ei! — protestou Maria — Eu ainda estou aqui. E, mesmo que não concordem, eu sei qual exemplo é o melhor pra mim.

— Claro que sabe — concordou Marina, com sarcasmo, dando umas palmadinhas de leve no topo da cabeça da irmã.

— Pára, Marina. Não gosto quando faz isso.

— Olha só, gente — interferi —. Sei que ninguém lembrou nem estão sentindo falta, mas eu quero algo para beber. Vou ali comprar um refri.

— Vai lá — falaram Marina e Arthur em uníssono, rindo em seguida.

— Posso ir com você? — perguntou Maria, já levantando.

— Eu não vou demorar.

— Que seja. Eu vou. Não quero ficar aqui só com gente que me trata como criança.

Quase saiu um "Mas você é criança". Mas algo me dizia que seria a coisa mais estúpida a se dizer. Marina e Arthur me olhavam como se esperassem que eu fizesse algo a respeito.

— Que seja — falei e fui andando seguido por Maria.

Levamos alguns minutos para chegar no supermercado mais próximo. Maria parecia se esforçar para alcançar meu ritmo de andar. Não fico confortável perto dela. Seus grandes olhos castanhos sugeriram que ela podia ver através de mim. É estranho, mas, mesmo com tudo isso, eu sinto que há uma ligação entre nós. Talvez seja porque eu entendo o que ela passa com a irmã mais velha.

— Posso escolher os refrigerantes? — perguntou ao chegarmos.

— Claro — respondi —. Vai lá.

Fiquei esperando ela no balcão. Não tinha muita gente por lá. Maria apareceu com 4 latas de refri de laranja e trouxe para o balcão. Meu sabor favorito de refri.

Paguei os produtos no caixa e saímos.

— Eu gosto de refri de laranja — falei.

— E eu gosto de vermelho — respondeu ela.

— Vermelho é uma cor bonita.

— É sério que você e o Arthur estavam mesmo brigando por causa de cores?

— Não era exatamente por isso.

— E por que então?

— Existem coisas que você ainda não está pronta para saber, criança.

Ela me deu um tapa na nuca brincando.

— Não me chama de criança de novo. Não quero te odiar. Gosto de você.

Nota do autor: "É aqui que o primeiro capítulo chega ao fim. Tentei deixar ele bem curtinho, e espero, de coração, que tenham gostado. Esse foi apenas o começo. Muito mais está por vir."


Obs: Deixe aqui suas ideias para os próximos capítulos.

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