Atividade Externa?

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O passeio foi maravilhoso. Colocamos o papo em dia, Arthur falou pelos cotovelos, Marina estava alheia como sempre e eu… eu apenas observava tudo acontecer. Gosto de observar o fluxo, analisar os padrões de acontecimentos e tentar prever o que vai acontecer depois. Geralmente eu falho, mas não custa nada tentar, não é?

Arthur e eu também conhecemos a irmã mais nova de Marina, Maria. Uma garotinha incrível. Tem 10 anos, mas gosta de ser tratada como adulta. Não duvido que ela seja até mais responsável que alguns adultos por aí. Tecnicamente eu já a conhecia. Mas não a fundo. Hoje tivemos a oportunidade. A primeira vista não se vê semelhança alguma entre as irmãs. Enquanto Marina tem cabelos pretos (com pontas azuis) e olhos igualmente escuros, Maria tem o cabelo castanho, este acompanhado de olhos cor de mel.

Nos despedimos já no fim da tarde. Confesso que me surpreendi ao ser subitamente abrangido num abraço da Maria. Retribui, embora não seja muito fã de abraços.

— Até a próxima, Jony — falou. Jony é como meus amigos me chamam. Ela deve ter ouvido Arthur ou Marina falar durante as conversas. — E não esquece de criar uma personagem para mim.

Ela tinha pedido isso durante a conversa, depois que algum dos outros mencionou algo sobre eu escrever histórias. Nos despedimos e cada dupla seguiu seu caminho.

— Vai mesmo criar uma personagem pra ela? — perguntou Arthur no caminho de volta.

— Claro — respondi. — Por que não?

— Não sei — rebateu com sarcasmo. — Talvez porque eu lhe pedi a mesma coisa algumas centenas de vezes e você ainda não fez?

— Espera um pouco! É sério que você está com ciúmes de uma garota de 10 anos? — não pude conter uma risada.

— É claro que não — protestou sem jeito. — Não é ciúmes. Eu só não consigo entender o porquê de você fazer isso por ela e não por mim, que sou seu melhor amigo desde sempre.

— Entenda, Arthur. Meus personagens têm personalidades marcantes. Maria tem uma personalidade marcante. Você, não. Você só é meio incoveniente de vez em quando.

Ao falar isso chegamos na frente da minha casa. A de Arthur ficava um pouco mais adiante.

— Nossa, Jonathan! — falou Arthur em tom magoado — Obrigado, mesmo. Isso foi bastante… esclarecedor.

— Olha. Eu espero que não fique magoado. Mas essa é a verdade. Como você mesmo disse, você é meu melhor amigo desde sempre, e não gosto de mentir pra você, entende?

— Entendo — falou ele colocando um sorriso no rosto. — Então, até mais.

— Até mais.

Observei ele se afastar antes de entrar na minha casa. Esse era o nosso ritual a algum tempo. Desde que voltei da minha "peregrinação" eu percebia que havia algo diferente. Não no Arthur, algo diferente no ar. Como se tivesse um pouco mais de magia. Parece que a Terra do Nunca deixou a porta dos fundos aberta e a Sininho escapou.

Entrei em casa. Minha mãe estava na sala, lendo uma revista de fofoca.

— Oi, mãe — falei.

— Oi, Jô, querido — falou, levantando os olhos da revista. — Como foi o passeio com os garotos?

— Mãããe. Não me chama de Jô — falei parando no caminho rumo ao meu quarto. — Eu não sou mais criança. Tenho 18 anos. Já sou adulto.

Ela me olhou por alguns instantes com ternura no olhar, sorriu com o canto da boca e finalmente falou:

— É claro que é, meu menino.

Eu sabia o que aquele olhar queria dizer. Fui até o sofá e sentei ao lado dela, deitando a cabeça no seu ombro. Ela passou a mão na minha cabeça por vários instantes, até que eu falei:

— Foi legal. A gente conversou bastante. Conheci a irmã mais nova da Marina que é muito legal e comemos muita besteira.

— Marina? — perguntou. — Aquela sua amiga do cabelo azul?

— Ela mesma. Por quê?

— Nada não — falou encostando sua cabeça na minha. — Agora é melhor você tomar um banho pra fazer os deveres de casa.

Depois de um banho rápido fui para o meu quarto e tranquei a porta. Não era costume fazer isso, mas algo me impeliu a fazê-lo. Troquei as roupa e chequei o celular pra ver se haviam novas mensagens.

"Jonathan, selecionei alguns alunos para uma atividade externa especial. Você é um deles!". Era o que dizia a mensagem do professor Ailton. Não era surpresa que eu fosse um dos selecionados. Eu era o queridinho dos professores e todos sabiam disso. Fui no perfil dele e procurei o grupo dos professores (que era um grupo aberto. Acho que eles não sabiam como privar). Talvez lá tivesse alguma informação mais detalhada sobre essa atividade externa. Não encontrei nada relacionado a isso. Pelo contrário. A última publicação tinha ocorrido a cerca de duas semanas.

Não me dei por vencido. Voltei no perfil do professor e entrei na aba de grupos. Haviam alguns grupos até estranhos por lá. O que tinha a publicação mais recente era um cujo nome era "Possíveis Recrutas". Achei estranho mas cliquei. Era um grupo aberto. A última publicação era do professor Ailton e dizia "Amigos. Agora que temos certeza, arranjei uma forma de levá-los para a central.".

Parece uma coincidência estranha. Não sei se tenho medo ou fico curioso. Mandei mensagem para o professor perguntando do que se tratava esse grupo. A resposta foi: "Preciso falar com você. Traga sua mãe amanhã e diga para o Arthur e a Marina fazerem o mesmo.".

Que resposta mais mixuruca. Isso lá é resposta? Não se manda mensagens assim para as pessoas. Isso mata qualquer um de curiosidade.

Mesmo curioso e confuso resolvo deixar pra lá por enquanto. Falei pra minha mãe que o professor Ailton queria que ela fosse ao colégio e ela respondeu com uma preocupação acima do normal, perguntando se eu sabia qual era o motivo da convocação.

— Mãe! — falei depois de ver que ela parecia realmente preocupada. — O que está acontecendo? Você sabe de alguma coisa que não estou sabendo?

— Não é nada, querido — foi a sua resposta. — Por que a pergunta?

— Porque desde que voltamos eu sinto que há algo diferente com tudo, e, principalmente comigo. Eu me sinto diferente. E agora, isso. Pensei na possibilidade de ser uma bronca por eu ter entrado "sem permissão" no grupo dos professores. Mas isso não faria sentido. Pois, além do grupo ser público, o professor não reagiria dessa maneira. E isso também não explicaria o motivo de você estar preocupada.

Depois de alguns longos segundos de silêncio ela respondeu.

— Amanhã você terá todas as respostas que quiser ou que precise. Eu prometo. Mas, por hoje, vamos dormir — conferiu o relógio de pulso —. Já são quase dez horas.

Não consigo entender isso. Mas confio nela e no que ela disse. Antes de dormir leio dois ou três capítulos de um livro. Após isso mando mensagem para Arthur e Marina avisando o que o professor Ailton pediu. Amanhã será um dia de revelações.

Eu consigo sentir isso.

Obs: Deixe aqui suas ideias para os próximos capítulos.

ELEMENTAISOnde histórias criam vida. Descubra agora