Capítulo 1

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Era um dia comum de outono quando Eduardo recebeu a notícia que seu pai estava morto e seu corpo perdido.

Recordava que fazia um tempo bonito, com um sol abundante em um céu de poucas nuvens. As pessoas ainda estavam animadas devido a celebração da festa do outono na noite passada. Os enfeites do evento ainda estavam em todo lugar, balançando com a brisa que chegava a cidade.

Eduardo desfrutava daquela fresca suava enquanto terminava as anotações da lição passada. Havia destacado uma frase entre tantas outras, ansioso para mostra-la a seu estimado pai.

O Herdeiro dos Sonhos jamais agiria a partir de incertezas, dizia o livro de regras elaboradas por seus antepassados.

A frase não parecia algo muito possível, uma vez que a vida era feita de constantes incertezas. Como poderia alguém evita-las? Meditara Eduardo naquela tarde.

Em algum momento ouvira a porta do cômodo ser aberta com força, dando passagem a uma figura muito conhecida. O comandante da guarda do seu pai estancara a sua frente, numa atitude um tanto desconcertada.

– Já voltaram? Perguntara Edu inocentemente.

Tiago vomitou algumas palavras que de início Eduardo pensara ter ouvido errado.

– Meu pai morreu? Questionou incrédulo.

A cara triste que o homem carregava confirmou a pergunta de imediato. Desnorteado demais para entender como, Edu contou a todos que importavam. A expressão que eles demonstraram permaneceu gravada em uma mente perturbada.

 Sua mãe chorou desesperadamente, seu irmão socou a porta até as mãos incharem, Mestre Arco ofegou de maneira ruidosa, Maria simplesmente ficou sem palavras.

Estranhamente não lembrava como ele próprio ficara. Havia chorado? Gritado? Batera forte em alguma coisa? Jurara vingança a sangre frio? Permanecera gelado e indiferente, ocultando toda dor dentro de si ou simplesmente não sentiu nada?

A sequência dos eventos seguintes também o atormentava, mudando a cada vez que recordava o que tinha acontecido.

Ocasionalmente via-se primeiro agitando as tropas, esperando um ataque que nunca chegou. Outras horas se encontrava numa mesa, escrevendo dezenas de cartas a pessoas que agora não identificava. Havia momentos que se pegava trancado no quarto, buscando informações no livro dos seus antepassados. Ainda existia a pior das lembranças, uma grande cerimônia onde fora alçado ao trono do próprio Herdeiro dos Sonhos.

Somente de uma coisa Edu tinha certeza: Aquilo havia acontecido a um ano atrás. Desde lá assumira as obrigações da família, desempenhando da melhor maneira as que lhe foram ensinadas. Pena que nem tudo Edu tinha aprendido e não havia ninguém para lhe ensinar o que não sabia. O único Mestre em sonhos de quem podia dispor morreu sem concluir os ensinamentos.

– Seu falecido pai...

Para infortúnio dos seus antepassados, Eduardo era um Herdeiro dos Sonhos que nunca havia sonhado uma só vez na vida. Por mais que tentasse os sonhos não viam, por mais que estudasse não intendia, mesmo ele sendo a imagem cuspida e escarrada do pai, o maior sonhador de todos os tempos.

Eduardo concluíra que este era o problema da vida. Ela esperava que os filhos continuassem o legado da família enquanto comparava-os o tempo todo com os melhores que já assumiram a mesma função, ignorando o fato que cada pessoa possuía seus próprios talentos e estes não podiam simplesmente serem ensinados.

Eduardo era a pessoa menos indicada para ser o Herdeiro de acordo a anotação que ainda guardava na gaveta do quarto. Respirando profundamente, tentou esquecer essa verdade, preparando-se para mais um dia de farsa. Afinal de contas, o cargo que assumira era muito importante para ser ocupado por alguém que não fosse de confiança...

O Herdeiro dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora