Capítulo 1

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Esse aqui é só uma amostra do que eu espero ser o meu próximo trabalho, que vocês já sabem, é mais lento que uma tartaruga. Mas me digam o que vocês acham, e se vocês acompanhariam a história e os personagens.


Desastre.

Definição mais perfeita que essa, para mim, não existe.

Quer dizer, quem, em sã consciência, conseguiria quebrar o nariz com uma porta?

A resposta? Eu.

Sim. Eu mesma.

Deixe-me explicar. Eu estava em casa, arrumando a minha sempre presente bagunça, quando tropeço num tênis perto da porta, e começo uma constante queda para frente. Acontece que, neste mesmo momento, minha colega de quarto, com leves tendências de vadia, abre a porta em um de seus acessos vadiescos e dá com ela direto na minha cara. Assim, eu quebrei o meu nariz com uma porta. Não que eu não tenha culpado vadia Holly, vulgo colega de quarto, por tal acidente. Quer dizer, ela não precisava saber que eu já estava a caminho de um acidente. Literalmente. E somente a culpa a forçaria a me levar ao hospital do campus. Então sim, eu menti e manipulei vadia Holly.

Eu sou má.

Mas enfim. Voltando ao pequeno detalhe do desastre.

Acontece que eu nasci com um pequeno distúrbio chamado caos. E o destino, se você acredita nessas coisas como eu, se encarrega de me levar as situações mais bizarras que há. Tipo o lance da porta. Mas estou de bem com ele outra vez.

- Vai demorar muito? – Vadia Holly pergunta, enquanto aguardamos eu ser chamada para a sala do médico.

- Eu não sei, Holly. Infelizmente eu esqueci a minha bola de cristal no meu quarto hoje. – Respondo com uma voz nasalada. Eu provavelmente estou soltando mais sangue que uma vítima do Jack Estripador, mas neste momento, não estou sentindo mais nada.

- Eu preciso me arrumar. – Ela reclama e reviro os olhos.

- Desculpe por estar atrás da porta enquanto você abria ela com mais força do que o necessário. – Digo, com sarcasmo pingando da minha voz.

- Tá desculpada. Mas saiba que está me custando uma divertida e agradável noite de sexta. – Ela fala, enquanto tira um esmalte da bolsa e começa a pintar as unhas de azul bebê.

Quem diabos carrega esmalte na bolsa, de qualquer jeito? Quer dizer, não que eu saiba, já que nem de bolsa eu carrego. Só suspiro e tusso um pouco de sangue, esperando que este inferno acabe logo.

Você diria que já estou acostumada e preparada para lidar com desastres como esse, mas aí está a grande piada do universo. Sempre sou pega de surpresa. Sempre. Mas se vale de algo, me recomponho rápido.

- Lana Hollister. – A enfermeira pequena e curvilínea me chama de trás do balcão.

Levanto rapidamente, e com um pequeno e sutil movimento, confiro se o cadarço do meu tênis está amarrado corretamente. Você se surpreenderia com a quantidade de vezes que eu já tropecei no meu próprio pé.

Quando já estou sentada na cama de um pequeno e muito branco quarto, um senhor careca e com óculos em seu nariz entra, lendo os papeis de sua prancheta.

- Lana, já fazem semanas que não te vejo aqui. – Ele diz, e olha para mim com um sorriso gentil no rosto,

- Pete! Eu sei, eu sei, o seu dia é mais feliz quando eu estou nele. – Brinco, com o meu já conhecido e velho amigo ortopedista.

Tenho todos eles em meus contatos rápidos. Pete, o ortopedista. Brian, especialista em alergias. Cornélia, clínica geral, e acreditem ou não, Susan, minha ginecologista. Depois do pequeno acidente com meu vibrador, ela fez questão de me passar o contato dela.

- Claro que sim, Lana, mas você sabe que eu te quero nos visitando por livre e espontânea vontade, não por necessidade. - Ele diz, já chegando próximo a mim e me entregando bandagens para limpar o sangue. Sendo uma estudante de enfermagem, eu meio que sei os caminhos em volta de acidentes. Ele espalha um spray entorpecente na área afetada e, sem nenhuma cerimônia, coloca meu nariz no lugar. Minha única reação é um pequeno encolher quando o 'crack' chega aos meus ouvidos.

- Eu sei Pete, mas a mãe natureza pede, o que a mãe natureza pede, - falo, já pegando o esparadrapo e o ajudando a fazer meu curativo.

- Em todos os meus anos de medicina, Lana, você é o milagre da minha carreira. Como você conseguiu sobreviver até os seus incríveis 19, eu não sei.

- Nem meus pais, mas cá estamos, não é mesmo? – Brinco, quando ele finaliza comigo.

- Sim, cá estamos. Eu vou facilitar nossa vida, só listando os remédios necessários e que você provavelmente já tem em casa.

- Claro, claro.

- Tudo bem, Lana. Agora vá e por favor, demore um pouco mais até estar nesta sala novamente. – Ele brinca, enquanto me dá a receita.

- Por que todo mundo fala isso? Vocês só não me amam por tornar a vida de vocês mais doce? – Brinco, quando já estou quase fora da sala.

- Sabe estes cabelos branco, Lana? – Ele pergunta, apontando para sua barba. – Foram todos dados por você. Cada um deles. – Brinca, enquanto acaricia a barba.

- Sei, sei. Cabelos brancos, anos há menos, ataques cardíacos. Eu sou boa em dar essas coisas as pessoas. – Brinco junto e vou embora com um breve e caloroso adeus.

Depois de catar vadia Holly e dar tchau para Maggie, a secretária recepcionista, vamos embora do hospital universitário St. Louis. Ou como gosto de chamar, minha segunda casa em Nova York.

Quando chegamos aos dormitórios de novo, minha cabeça já está latejando, e eu corro para a minha cesta de remédios. Tenho de tudo um pouco, e se alguém me confundisse com alguma traficante de analgésicos, eu completamente entenderia. Minha fortuna se resumia à minha preciosa e amada cesta de remédios.

Holly se arruma e vai embora. É por isso que eu a aguentei por tanto tempo. Ela passa mais tempo fora do que dentro, o que me deixa, basicamente, com um quarto só para mim. Já que a parte dele é utilizada para guardar uma porcentagem de suas coisas. Aquelas que não coube na casa de seu namorado.

Pegando minha mochila quadriculada, saio e vou ao meu encontro de sextas: sótão do bloco de artes. Rumo ao campeonato ilegal de pôquer da NY University.

Sim, eu sou má.

Aos Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora