Capítulo 2

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Eu posso ser o desastre ambulante, mas se tem uma coisa da qual não podem falar mal, é da minha habilidade no pôquer, sem querer me gabar. Mas é assim que eu ganho a vida, por assim dizer. Não me julguem, eu poderia estar roubando, matando ou me prostituindo. Mas aqui estou eu, ganhando minha vida quase legalmente. Não estou prejudicando ninguém, sim? Então não fode.

As pessoas já estão em seus respectivos lugares, já que estou quase atrasada, como tudo na minha vida. Mas vou rapidamente para o banheiro, tendo o cuidado de cobrir meu rosto com o capuz do meu moletom e meus longos cabelos castanhos. Não que eu seja fácil de passar despercebida. Eu tenho 1,75 de altura, maior do que a média feminina e quase na média masculina. Mas meus pais são altos e minha família dos dois lados é de gigantes, então não havia muita escapatória para mim.

Enfim, você está se perguntando o porquê de todo o mistério. Simples: por mais que eu não seja uma figura pública ou realmente notável na faculdade, eu ainda prefiro manter minha identidade não revelada neste meio de ilegalidade. Com a minha sorte, algum policial, qualquer dia desse vai estar investigando isso aqui, e a única foto que ele vai conseguir tirar, por algum motivo desconhecido que o destino ainda não decidiu, ele só vai conseguir fotografar a minha cara, e aí já viu. Adeus faculdade para essa garota.

Entro no banheiro rapidamente e com a maior delicadeza que eu consigo acumular, por causa do enorme curativo no meu nariz, eu coloco a máscara de coringa que eu ganhei quando tinha 12 anos, do meu pai, Greg. Pode parecer ridículo, mas me sinto mais segura e isso realmente trabalhou para a minha imagem neste submundo de crime. Agora eu sou a Joker, campeã invicta da MCU. Tudo que sabem sobre mim é que eu sou mulher, e que eu sou muito boa com as cartas. Muito obrigada.

Saio do banheiro, e a porta bate atrás de mim, criando um silencio desconfortável quando todos começam a se acotovelar e apontar para mim. Lembra quando falei que eu não era notável na faculdade? Poisé. Lana Mary Hollister não é notável. Já Joker? Ela é outra história. Em realidade, ela é uma celebridade local. Enquanto Lana passeia pelo campus, ela ouve os sussurros das peripécias de Joker. Obviamente, tudo sempre chega em uma escala bem maior do que realmente aconteceu, mas enfim...

Não é toda sexta que Joker faz sua aparição neste lugar. Apenas quando o dinheiro acaba, então ninguém sabe quando ela realmente vai aparecer, o que adiciona uma pitada a mais no mistério todo. As pessoas adoram.

Já Lana?

Lana não. Eu fico extremamente desconfortável com toda a atenção e murmúrios. Eu não sou o que as pessoas chamam de sociável. Eu sou mais uma garota que não gosta de pessoas.

Não de uma forma ruim, apenas sou alérgica a pessoas ridículas.

Infelizmente, a maioria delas neste lugar, são.

Me dirijo para a mesa no centro do salão, onde as apostas são maiores, e uma única cadeira está livre. Há sempre uma cadeira livre na mesa do centro, desde o meu terceiro jogo. Joker aparecendo ou não, seu lugar está garantido.

- Meninos, - cumprimento, enquanto sento e puxo o maço de notas de cem do fundo da minha mochila quadriculada vermelho e preto.

- Joker, - eles cumprimentam todos de uma vez.

Não conheço nenhum deles. Os rostos dificilmente se repetem, já que o ingresso para esta mesa é um dos prêmios de vitória das outras mesas, o que significa que é uma constante rotação de pessoas. Quem ganha nessa mesa, tem seu lugar garantido para a próxima sexta.

- Vamos começar! – Eu exclamo, batendo palmas. A galera do STAFF, responsáveis por organizar este pequeno evento, se reúnem nas mesas, para recolherem as apostas, distribuindo as fichas e os baralhos lacrados.

A noite passa correndo, diante dos meus olhos, e a cada rodada minha pilha de fichas cresce um pouco mais. No fim, eu vou para o meu quarto cinco mil dólares mais rica.

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- O que? – Grito, realmente nervosa com a notícia que acabo de receber.

- Sim, Lana, é um estágio obrigatório e o cliente te escolheu a dedo, dentre todos os estudantes. – Sr. Monsley, meu professor de ética no trabalho, me informa.

Ele é um quarentão, com calvice acentuada e um sério caso de acne tardio. Nojento. Sua pele está brilhando de suor, o que é estranho, considerando que a sala está congelante, devido ao ar condicionado, e seu terno verde musgo está manchado com o que parece ser mostarda.

- Mas... já? Eu estava esperando que eu precisasse cumprir este estágio no final do semestre. – Tento insistir.

Veja bem, eu sabia que isso ia chegar. Mas não estou pronta. Um trabalho? Um trabalho implica em ter contato com outras pessoas. Muuuuitass outras pessoas. Pessoas das quais eu posso não gostar. E você não quer me ver tendo alguma desavença com outra pessoa. Não é algo bonito de se ver.

Eu tinha tudo planejado. Uma semana antes de termos que ir para este estágio, eu ia dar uma de eremita e me preparar psicologicamente para isso. Agora é isso. Eu vou ter que encarar isso com a cara e a coragem.

- E ia ser, - Sr. Monsley começa a explicar. – Mas este empregador, para ser bem sincero, é extremamente seletivo. E como este trabalho é ligeiramente diferente dos outros, nós abrimos uma exceção e passamos as fichas da sua turma também. E aqui estamos.

- Como assim, ligeiramente diferente? – Pergunto, curiosa e assustada.

- Bem... Há este homem, que tem um filho pequeno, e precisa de uma babá. Mas ele não quer uma babá qualquer, ele quer uma babá que tenha conhecimentos na área da saúde, por precaução. E que também tenha experiência em cuidados à domicílio. Você é a única que se encaixa no perfil.

- Filho? Babá? Cuidados à domicílio? Pelo amor dos Deuses Novos e Antigos, Sr. Monsley! Eu vou trabalhar de babá no meu estágio obrigatório? E experiência? Eu cuidava de Elizabeth! E ela tem 79 anos. Que experiência eu tenho com um... com um... filhote de humano? – Eu me desespero, sem saber como vou escapar dessa. Eu não sei como as crianças funcionam. Sou filha única de filhos únicos. Sem irmãos, primos ou sobrinhos na minha vida. O único momento em que estive presente com crianças foi o momento em que eu também era uma criança, na escola.

- É uma profissão nobre, Srta. Hollister. – Ele me repreende.

- Não estou discutindo a nobreza da profissão. Estou discutindo a insanidade dessa ideia toda. Eu não tenho experiência com crianças ou até mesmo com pessoas. E seu eu falhar neste estágio, como vai ficar minha média final?

- Se não tem experiência com pessoas, o por que desta profissão, Srta. Hollister? Por que você quer ser enfermeira? – Ele pergunta, sério, para mim.

- Bem..., - eu começo. – Eu tive alguns sérios problemas enquanto crescia, e estava sempre no hospital. Os enfermeiros sempre cuidaram de mim. Curavam meus machucados. Foi algo que aprendi a admirar ao longo do tempo.

- Pois bem. Aí está. Faz parte da profissão lidar com as pessoas. Você tem uma média notável, mesmo para os princípios desta instituição. Por que não começar agora? E, se por um acaso, este arranjo não servir bem, devido á inusitada situação, você vai ter todo o auxílio da MCU para te transferir de local de trabalho. Não se preocupe quanto a isso.

As palavras dele me acalmaram um pouco, e depois de analisar a situação como um todo, fazia sentido para mim. Pelo menos eu teria que lidar com menos pessoas do que fazendo um tempo num hospital.

- Tudo bem... vamosem frente com isso. - Dei meu aval, e ele sorriu para mim.   

Aos Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora