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Às vezes tinha a sensação de que a Melanie não sobreviveria sem mim. Okay, "também não sobreviveria sem ela", mas isso é daquelas coisas que uma pessoa diz para demonstrar o quanto gosta de alguém. É claro que, caso alguma coisa lhe acontecesse, eu continuaria a viver. Com muitas saudades e dor dentro de mim, mas prosseguiria. 
Mas com ela era diferente. Ela não dava essa sensação. Ela dava a sensação de que, sem mim, não era nada. Mesmo nada. Como se não houvesse mais ninguém no mundo para além de mim. Como se, se eu morresse, ela se mataria por acreditar que poderia reunir-se comigo outra vez. Isso era querido. Sinistra e loucamente querido. Querido da maneira da Melanie. 

Quando lhe contei o que descobrira, que estava doente, ainda me lembro da expressão na cara dela. Naquele momento, ela é que me fez querer matar-me. Estava tão vazia e tão explosiva ao mesmo tempo. Desde aí, todos os dias aquela cara me assombrou. Ela tentava sorrir, esconder o seu desgosto, mas estava espelhado nos seus olhos. E eu sabia que ela sofria. Eu sabia que ela estava ciente do que, inevitavelmente, acabaria por acontecer. Apenas tinha de manter uma negação plausível. 

E isto é o pecado da vida. Isto é o que NUNCA devemos fazer, mas sempre fazemos. Achar que somos invencíveis. Que nada nos afeta, nunca. Que as pessoas são eternas e estarão sempre connosco. O problema é que chega o dia em que elas deixam de estar, deixam de ser. E chega o dia que nos faz perceber que estamos só de passagem. A vida não é nada mais que uma história contada dia por dia, hora por hora, minuto por minuto, segundo por segundo. Mas e quando os nossos segundos se acabarem? E quando chegar ao fim da história? Que faremos aí? 

Eu já descobri. 

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⏰ Last updated: Jun 06, 2017 ⏰

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