Narcolepsia

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2015, quinta feira. Estranhamente acordo assustado ás 3:00 da manhã. Acendo a luz e fecho os olhos, leva alguns segundos para eles se acostumada à claridade. Estou escorado na escrivaninha do meu quarto, tem umas coisas da escola em cima dela, e um vidro de malditos comprimidos que sempre esqueço de tomar.Decido abrir a cortina da janela do quarto. É mais uma noite maravilhosa no bairro da Lagoa da Conceição no centro de Florianópolis. As estrelas fortemente incandescentes iluminam a madrugada, a brisa do mar equilibra a temperatura para um clima agradável, uma vontade de sair de casa agora e dar uma volta andando na fofa areia da praia. Entretanto, realmente preciso ir pra cama.
7:00. Droga, sempre estou atrasado, devia ter acordado antes. Mas dessa vez meu sono foi mais pesado do que o maldito despertador do celular. Então, me visto rapidamente e vou falar com o meu pai que está tomando café, olha pra mim de cara amarrada. Tudo ainda está muito estranho, primeiro ter acordado ás 3:00 da manhã, depois isso.
- Bom dia, pai.
- Bom dia, Rafael. Tem certeza que vai chegar no colégio a tempo? Não posso te levar hoje.
Como se algum dia ele pudesse ..., mas não era hora pra discutir, ele fazia o bastante por mim e eu sempre fui muito grato por isso.
- Claro pai, tô lá em dois toques.
- Corre ... hoje trabalho em meio período, se quiser que eu te busque é só ligar.
- Valeu pai, acho que vou querer sim. Se eu quiser voltar a pé te aviso.
- Boa aula.

Não moro muito longe da escola, mas tive que correr para pegar o primeiro período. É uma delícia caminhar pela manhã com a brisa do mar do meu rosto e o sol batendo logo cedo.
Na metade da aula, me distraio com uma guria nova na sala. Falo com Eduardo, ter um amigo bem informado e até certo ponto fofoqueiro tem lá suas vantagens.
- Uma gata, não é? Viste tu bispando ela. És nova, de Blumenau e se chama Clarice.
- Como sabe?
Pergunto espantado, Eduardo sabe de tudo!
- Achas que não falei com ela ainda? Mas é um tanso mesmo.
Fico um pouco desconfortável por ele ter tirado sarro, mas agradeço.
Viajei nela, ela olhava pra mim ás vezes, por isso eu tentava disfarçar. Linda era ela. Branca como a areia das praias, cabelos negros, os olhos azuis mais vivos que já vi na minha vida, sua boca era tão vermelha que parecia que usava batom, como a maioria das gurias galegas e superestimas usavam pra chamar atenção de baba ovo. Sinceramente, eu não tenho pena deles. Por mim eles que tomem uma sova emocional para que cresçam e aprendam a dar valor a eles mesmos.
Nem vejo a aula passar e já bate o sinal pro intervalo, o Eduardo chega em mim.
- O Thales vai dar uma baita festa na casa dele, Jurerê Internacional, coisa fina. Melhor não ficar em casa dessa vez, talvez Clarisse vá.
Minha insegurança raramente aparece, mas dessa vez estava à tona, eu realmente não sabia se falava com ela ou não, ou o que falava pra ela caso decidisse tomar atitude ... Minha cabeça estava um caos. Mas o convite do Edu por parte do Thales me deu um pouco mais de confiança.
Ela estava sozinha, compro um salgado e vou falar com ela. Antes que eu abrisse a boca, ela já quebra o gelo
- Achei que nunca chegarias em mim.
Aquilo me desmontou, eu parecia o Garrincha de tão torto que estava por dentro, mas precisava demonstrar confiança.
- Pois é, não consigo simplesmente fazer nada quando alguém como tu me chama a atenção.
- Uau! (pela primeira vez vejo ela rindo, me pegou de surpresa, mas era lindo). Não foi o que me disseram sobre você.
Eduardo, aquele istepô. Ele sabia que eu me interessaria por ela e falou das minhas derrotas passadas. Como pude chamar aquele traste de amigo?
- Tô te gozando bobo, não me falaram nada.
Era só uma armadilha para testar minha confiança, quase entreguei o ouro. Se ela demorasse mais um segundo pra me dizer eu já teria falado alguma besteira.
- Sério? Tem uns palhaços que me difamam quando entra garotas novas.
- E porque fazem isso? (Pergunta curiosa)
- De certo porque não tem mais nada pra fazer, fazem de tudo por dois minutos de gozação.
Ela ri mais uma vez, seus dentes brancos e bem cuidados aquecem meu peito tanto quanto as estrelas iluminam Florianópolis na noite anterior. Tava parecendo que tinha uma chama em mim que aumentava cada vez que ela falava, com aquele hálito perfumoso que me chamava cada vez pra mais perto
- Surfas? (Diz ela olhando para meu colar de pedra)
- Como sabes?
- Sou adivinha. (Ri mais uma vez, talvez eu tenha chance).
- Já conhece as praias daqui? (Pergunto). Pode acabar gostando.
- Estava esperando uma boa companhia pra ir. A propósito, sou apaixonada pelo mar, por isso decidi opinar por vir pra cá quando soube que meus pais se mudariam, acharam uma ótima ideia.
- Tomara que não se arrependam, aqui é meu paraíso.
- Pode ser o meu também.
Depois de mais alguns minutos de conversas e deixas tanto da minha parte, quanto da parte dela. Nossas testas estão encostadas e nossos lábios quase se encontrando. Até que .... Bate o sinal.
Ela toma a dianteira e diz:
- Acho melhor a gente ir.
Quando ela está indo, estufo e peito com coragem e pergunto:
- Espera ...
- Sim? (diz ela olhando pra trás)
- Vai ter a festa do Thales hoje, você vai?
Ela volta.
- Se nós não tivéssemos passado esse intervalo juntos, confesso que não iria. Mas agora eu vou.
Beija meu nariz, e sai sorrindo. Minha vontade era de ficar com ela ali mesmo, por azar puro o seu Gláucio já estava começando a direcionar os alunos para a sala.
Passei resto da manhã contemplando Clarisse, mas dessa vez ela fazia o mesmo. Trocávamos olhares cheios de significados, e eu já me imaginava caminhando com ela de mãos dadas na areia da Praia Moçambique.
Ao sair da escola decidimos ir juntos pra casa, ela mora perto e o tempo voa enquanto caminhamos em meio a risadas e boa conversa. Ao final do percurso, na porta de sua casa ela para, olha para mim, segura meu rosto e me dá um beijo rápido, abrindo um largo sorriso. Quando começo a me dirigir para a minha casa ela corre e pula nas minhas costas. Me viro e nos beijamos por alguns segundos. Só me pergunto o porquê dela ter se entregado tão rapidamente, mais uma coisa estranha. Estranhamente maravilhosa, só que ainda fico curioso.

Quando chego em casa, meu pai me serve o almoço e pergunta como foi a aula. Eu não escondo nada, e falo sobre a festa de hoje à noite. Ele tem amigos que moram em Jurerê, por isso a facilidade pra achar o local. Está orgulhoso.
- Fazia muito tempo que não arrumavas um namoro Rafael. (Diz surpreso)
- Pois é pai, tô feliz como nunca estive antes.
- Cuidado nessa festa piá, não esquece de tomar o remédio antes de sair.
Dou risada e digo pra ele não se preocupar. Meu velho confia bastante em mim, as vezes ele fala essas coisas mais como brincadeira do que um aviso, já que nunca dei grandes preocupações a ele.
Tento adiantar o trabalho do Gerson depois do almoço, mas acabo apagando. Quando acordo já é 19:30, corro pro banheiro pra me arrumar, eu e o Thales nunca fomos muito próximos, mas como ele se amarra em literatura brasileira decido levar pra ele o Capitães de areia do Jorge Amado, até porque todo mundo aqui já leu esse livro umas 300 vezes e nem ligava mais pra ele, fora que ele vivia me pedindo emprestado.
Chegando lá, avisto o Thales recebendo os convidados e entrego o livro pra ele, o cara me abraça felizão e me entrega uma cerveja, ele até que é bom amigo, mas só as vezes.
Vou entrando tímido sem reconhecer ninguém, até que vejo Giovanna,minha prima, falando com o Edu (ele não desiste de jeito nenhum, coitado). Cumprimento os dois, pergunto da Clarisse e prometo passar um tempo com eles depois, mas agora preciso encontrar minha garotinha. Termino minha cerveja, e nada dela. Até que após muita procura encontro ela solitária encostada na parede. Assim que ela me vê, ela corre em minha direção e se joga nos meus braços me enchendo de beijos e diz:
- Achei que não viria .... Você demorou.
- Acordei um pouco em cima da hora.
- Como de manhã seu mandriãozinho?
Rimos, ela pega na minha mão e começa a me levar pra cima, onde estão os quartos. Chegando em um deles ela me empurra na cama e tranca a porta. No que ela sobe em cima de mim, nos beijamos e o clima começa a esquentar.
- Vamos devagar Clarisse, nos conhecemos hoje praticamente.
Ela olha pra mim, e sofro um apagão.

Não tem mais música alta estremecendo a casa, não estou levemente adulterado, e uma mulher linda, de cabelos negros, pele branca como as areias das praias, a boca tão vermelha como se tivesse passado batom, mas era sua coloração natural está do meu lado acariciando minha cabeça. Estou viajando nela.

- Quem é você? (Pergunto ao perceber que estou numa maca de hospital)
- Sou eu, meu amor! Você dormiu por horas.
Cai uma lágrima do meu rosto, não consigo me mover um músculo se quer. Um sono pesado começa a tomar conta de mim. Gostaria muito de terminar essa história, mas agora preciso ir. Boa noite.


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