A primeira despedida

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2012, segunda-feira. Eu acordo animado, corro pra sala e ligo a televisão. Após assistir algumas besteiras, Melissa acorda e começa a por a mesa do café. Ela pergunta:

- Eai Rafinha ? O que meu irmãozinho pretende fazer no primeiro dia de férias?

 Meu sorriso dizia tudo, eu tava animado e queria tomar café rapidamente pra ir pra rua. Afinal, era um garoto de 13 anos, cheio de energia, começando suas férias.

 Melissa é era 7 anos mais velha. Apesar de ser filha única por muito tempo, sempre lidou bem com isso. Afinal ela é alegre, engraçada, e todo mundo gosta dela. Principalmente as crianças, o que me fazia sentir ciúmes quando ela cismava em passar o dia com outra criança. Ela e sua "pedagogia". Para mim, a única criança que podia levar cócegas nos pés depois de ter as pernas imobilizadas pelos braços dela, e rir como nunca fez antes era eu! Mas nem se compara a quando ela conheceu Tito, o namorado dela. Mas não vem ao caso. Desde que minha irmã foi embora pro Sudeste, a casa ficou maior, e mais reservada. Mas eu trocaria qualquer conforto, por mais um dia com ela me acordando todas as manhãs, "mergulhando" ao meu lado na cama. Cantando qualquer música que me fizesse começar bem o dia. De todas as coisas que ela me ensinou, uma delas era a tocar violão e cantar algumas músicas do Tim Maia, Cássia Eller, ou qualquer outro nome da música nacional. Uma parte da casa se foi com ela, uma parte que era viva e colorida, que me fazia sorrir nos momentos mais difíceis. Não atoa que minha mãe sempre recorria á ela quando eu simplesmente não parava de chorar. Seja por um machucado (ela cuidava muito bem deles) ou de qualquer tipo de frustração.

 Quando saí,  fui correndo até a casa da Eliza perguntar se ela queria brincar na praia ou pegar umas ondas.

 - Veio cedo, mas tenho certeza que Dudu já está lá. (O mesmo Eduardo que conheceram há pouco)

- Pode crer! ele me chamou uma vez pra ver o sol nascer na praia, não sei como ele aguenta acordar tão cedo.

 Eliza colocou um maiô, um shorts por cima, e se juntou á mim. 

 - Minha mãe disse pra mim não passar o dia lá dessa vez ouviu guri?

- Tu ficas porque quer, tanso.

- Tá, mas não faça mais pressão pra eu ficar.

- Não garanto.

 Ela me olhou furiosa, acho que tentava me assustar com isso.

  Eliza olhava pro horizonte em frente ao mar, quando estávamos cansados demais para voltar a correr com os pés na areia fofa, até a água gelada. E perguntava para mim e Dudu:

- Vocês querem sair daqui um dia? ficar velhinhos e criar os filhos longe desse paraíso? Eu fico tão calma quando brisa vem e acaricia meu rosto, barulho das ondas me ajuda a pegar no sono quando tive um dia difícil ... Vocês. Eu não sei se seria feliz longe do Dudu para fofocar, e do Rafa para tocar algumas canções. 

 E eu refletia. Pois, acho que minha maior semelhança com Melissa, sempre foi esse espírito livre de querer me aventurar no mundo, e fazer a vida longe daqui. Mesmo amando Floripa como minha terra natal, eu sempre tive curiosidade pra saber o que nos aguarda além daquele horizonte celeste.Sempre fui extremamente interessado nas diferentes culturas e costumes ao redor do mundo. O que as pessoas fazem pra passar o tempo do outro lado do mundo ? Será que eles vão á praia e passam um bom tempo com os amigos na Austrália? Será que estão cantando e fazendo luau nas praias do Nordeste? 

 Quando cheguei em casa cansado com o cabelo molhado e meu violão. Minha irmã estava arrumada, fechava um zíper. Ao olhar pra mim, deu o abraço mais apertado e caloroso da minha vida, beijou meu rosto e disse:

- Juro que volto pra ver como está se virando sem mim.

 Aquelas palavras me desmontaram. Eu sabia que o espírito aventureiro dela a levaria a viver longe daqui um dia. Fora que ela sempre amou o Sudeste.

 Na minha infância e adolescência eu pensava bastante nas palavras do meu desenho (ou anime, como preferirem) preferido. O protagonista de Dragon Ball, que despensa apresentações dizia: " É necessária a dor da despedida, para que haja a emoção de um reencontro"

 Estou morrendo de sono, preciso ir agora. Boa noite. 

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