Saudações.
Peço humildes desculpas pelo modo como viemos a nós conhecer. Também preciso do seu perdão por tudo que você sentiu antes de abrir esse meu pedido de condolências.
Prometo tentar lhe recompensar de maneira justa, mesmo não tendo sido nada intencional, mas sim, a única opção possível de contato.
Sei que você está confusa. Também sei que, mesmo não conhecendo o autor ou autora destes três arquivos, você já tem um grande ódio por minha pessoa. Não sou de julgar sentimentos tão instintivos, aliás, admiro tais emoções humanas tão ferventes.
Vamos ao que interessa, minha cara mensageira.
Você, sem dúvidas, já ouviu falar de mim. Não pelo meu nome real, claro, pois séria impossível. Mas por uma boa parcela dos tantos outros nomes e adjetivos que pregaram em minha distorcida imagem. Novamente, algo feito pela triste necessidade de dualidade humana... E novamente, não estou julgado, é apenas um sútil e sem relevância comentário meu.
Existe uma regra universal criada pela Grande Mãe que limita meus contatos com a raça humana a apenas contatos iniciados por vontade de vocês. Traduzindo para termos leigos: eu só posso me apresentar para aqueles que buscam por minha presença.
Antes que você fique mais confusa, eu já lhe respondo: não, você não me buscou.
Na verdade, você é um tipo de humana bem fora da curva, sabia? Enquanto a grande maioria me usa como bode expiatório, você entende que as ações de sua espécie são reflexos de suas próprias decisões. Eu gosto disso em você.
Mas, vem a questão: então porque você está lendo uma de minhas "cartas" agora?
Bom, sei que vai ser difícil, principalmente para uma cética como você, de digerir a resposta... Mas, prometo tentar ser o mais claro possível.
Parece que desde quando vocês, humanos, foram criados neste universo, existem uma sede insaciável de ir parar no fim do poço.
Seja acabando com os recursos naturais deste planeta que foi lhes dado. Seja com guerras em proporções extremas. Seja entregando suas vidas de mão beijada para uma sociedade individualista. Seja como for
Isso é um fato que eu tenho certeza que você já sabe.
O que você ainda não sabe é que, de tempos em tempos, a Grande Mãe dá permissão que um de seus filhos, eu estou incluído nisso, faça uma "visitinha", para tentar, da forma que achar conveniente, guiar a humanidade em alguma direção.
A Grande Mãe é a definição de justiça. Por esse motivo, nada mais justo do que dar a cada filho uma chance no mundo dos homens.
Vocês já foram visitados pelo meu irmão que acredita que o correto é deixar tudo acontecer naturalmente, apenas seguindo a maré da vida até a morte e aceitando tudo de bom coração... Eu gosto dele, mas essa ideia é meio vaga demais. Além disso, tira todo o charme dos humanos, que é justamente sua capacidade de grandes realizações, em grande parte, movidos por vontades carnais.
Outras inúmeras visitas já aconteceram. Algumas tão antigas que os poucos homens da atualidade sabem de sua existência. Já outras, simplesmente mudaram por completo esse mundo em que você vive.
Claro que você conhece a minha irmã, a mais famosinha e querida dá maioria. Ela foi bem esperta. Alterou sua imagem para um homem humilde, pois tinha um marketing melhor, pediu para escreverem um livro pra ela e depois até uma segunda edição, fez uma baita história cheia de fabulas e aventuras surreais, coisas que os humanos adoram nas horas vagas e fechou com chave de ouro colocando todo mundo contra o seu irmão mais velho, no caso, eu.
Sendo bastante sincero, quando ela veio com a proposta de que eu seria um cara "badass", conhecido por grande parte do planeta terra após a visita dela e que criaria uma história onde eu era um grande líder rebelde, não posso negar que achei uma ideia bem interessante. Mas, também não posso negar que acreditava fortemente que a visita dela no seu planeta, e todas as historinhas que ela iria contar, nem iriam ser notadas pelos humanos... Muito menos seria levada a sério.
Claramente, eu estava errado. Muito errado.
Tudo mudou para vocês depois que ela fez uma das melhores encenações que nossos irmãos já fizeram. Até hoje, mais de dois mil anos depois, a minha irmã continua com o titulo de "funcionaria do mês" pendurado em nosso mural.
Certo, voltando ao nosso contato...
Acontece que, depois de milhares de anos apenas observando, eis que finalmente chegou a minha vez de dar uma direção a humanidade.
Mesmo que demore um tempo para você processar essas informações, gostaria de deixar claro que eu não sou nem 13% do que a historia que minha irmãzinha espalhou prega.
Existem algumas semelhanças sim, isso é fato.
Mas eu não sou o Mestre Supremo do Inferno. Muito menos um carrasco que tortura almas num rio de fogo. Até aquela historia de que eu "fui expulso dos céus" é pura metáfora criada por ela e sua imaginação fértil.
A realidade foi que, quando ela me contou todo o seu plano de visita, fiquei bastante surpreso, mas também assustado com as idéias que foram apresentadas.
Dizer que os humanos nascem pecadores? Só por causa de um casalzinho e uma cobra?
Colocar na cabeça da humanidade que seguir seus instintos é algo punível pela eternidade?
Pedir uma porcentagem da riquiza aos fieis?
Deixar as mulheres serem vistas como inferiores?
Além de vários outros milhões de pontos, eu simplesmente não concordava. Era uma mensagem que beirava o insano, até mesmo pra vocês.
Eu disse isso a ela. Tentei mostrar que os humanos são movidos por desejos e necessidades, e que não tem nada de errado nisso. Tentei explicar que alguns espertinhos poderiam tirar proveito desse tal "dizimo", também tentei mostrar o quão as mulheres são seres magníficos e que não mereciam ser as mais julgadas negativamente nessa possível nova era.
Claramente, meus conselhos não foram ouvidos.
Tudo o que minha irmã fez foi perceber que precisava de alguém para culpar. Ela percebeu que um herói só é um herói enquanto houver um vilão.
Como eu fui o único dos irmãos que não aceitava cegamente o tal plano dela sem debater, fui o escolhido por ela para exercer o papel que faltava em seu show de marionetes.
O resto da história você já sabe.
Meu turno começou em 1914. Desde então, decidi fazer um "estudo de campo" no mundo dos homens. Admito que é tudo bem diferente quando é visto de tão perto. Até mesmo pude entender algumas razões para tantas distorções dos fatos... Vocês humanos são engraçados, sabia? Preferem uma mentira confortável ao invés de verdades que machucam.
Ontem o meu plano de visitação entrou na fase prática, finalmente me sinto seguro o suficiente para iniciar o meu show, graças a você, minha cara mensageira.
Sua função é seguir minhas próximas instruções.
Obviamente, não sou como meus irmãos e te dou sempre a possibilidade de abortar a missão. Afinal, eu não te escolhi por ser uma cordeirinha que só sabe seguir o rebanho, mas sim como uma raposa que sempre busca saciar sua fome.
Eis a minha proposta:
Decida continuar, lendo os próximos dois arquivos na ordem correta.
Ou
Pegue o celular, ligue para a Lily e diga "não existe choro no baseball". Tal procedimento te colocara novamente no momento em que você ouviu essa frase pela primeira vez, sem memória sobre tudo o que aconteceu até aqui.
Lembrando que mesmo se terminar a terceira leitura, poderá escolher não continuar o meu plano. Novamente, não sou um ditador. Respeitarei sua escolha, seja ela qual for.
Respostas ou ignorância?
Vermelha ou azul?
Sim ou não?
Você decide, minha cara mensageira.
(Fim do arquivo Leia-me.txt)
