E esse foi o começo do meu fim

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2001

Condado, Novo Estado.

Naquele mês se comemoraria o centésimo aniversário do fim da Grande Guerra. O mundo todo – ou pelo menos a pequena parte que ainda existia – sairia às ruas para o mais belo evento do ano. Além de que, naquele mesmo mês Arandele Daskov, princesa de Grã-Union, e Charles D'rey, príncipe regente do Novo Estado, herdeiros de uns dos poucos estados mundiais que restaram, diriam sim em Roma. A união seria épica.

Eu estava animada naquele dia primeiro por causa de todos os acontecimentos daquele mês, inclusive o meu aniversario que com certeza seria esquecido, como sempre.

Mas nada, nem esse pensamento deprimente abafariam a noticia que eu via pela televisão enquanto comia meu cereal sentada no chão acarpetado da sala de estar. Miranda Pires, repórter do telejornal matinal, dizia com sua voz de repórter profissional que eu acho maravilhosa:

– E esse é o terceiro mega humano que se tem registro desde o ápice dos seis.

O terceiro! Agora havia três mega humanos!

Mega humanos foram à coisa mais interessante que se teve da Grande Guerra.

Naquele mesmo instante joguei minha tigela de cereal na pia recebendo uma baita bronca da minha mãe.

– Mãe eu tenho que ir! Depois você maltrata meus tímpanos, te amo! – eu gritei já do lado de fora de casa. Peguei minha bicicleta e corri pelas ruas do Condado de Novo Estado até a escola.

Estacionamento quase vazio, corredores e salas também vazios. Como eu gostava da escola assim! Vazia!

Entrei na sala dos professores que é proibida para os alunos, mas já que não tinha nenhum professor àquela hora a não ser senhor Pietro eu não me importava.

– Olá senhorita Ruanda. Vejo que andou vendo o telejornal. – disse ele tirando os óculos e abaixando os jornais onde pude ler a manchete "O TERCEIRO MEGA HUMANO."

– Vejo que você também andou se informando Brennon. – falei me jogando em uma das poltronas incrivelmente macias e me esparramando sobre ela. – Oh cara! Por que não colocam algumas dessa nas salas, hein?!

– Peço que não use gírias perto de mim Jesse, procure evitar me tratar de forma informal perto de outras pessoas e tire esse seus pés da mesa!

Tirei de imediato meus pês da mesa de centro.

– Bom. O senhor já sabe da descoberta.

– Sim. E é impressionante.

– Impressionante? É incrível!

Brennon me lançou um olhar avaliador.

– Se interessa mesmo por isso Jesse? – perguntou.

Obvio que eu gostava. Na verdade sempre amei historias em quadrinhos e os humanos extremamente desenvolvidos se encaixam perfeitamente no perfil de mutantes dos HQs.

E também amava historia, e me dei muito bem com o professor assim que ele chegou à escola naquele começo de ano.

– Claro! Por que não gostaria?

– Garotas da sua idade estão mais interessadas em como vai ser o vestido de noiva de Arandele do que se mais um mega humano nasceu.

– Garotas da minha idade são idiotas. Eu sou a exceção, aquele 1% da minha faixa etária que tem purpurina no lugar de neurônios.

Sr. Pietro gargalhou alto, bem alto.

– Você é impressionante para uma garota de 10 anos.

– Eu sei.

O sorriso não deixou o rosto do Sr. Pietro. Pensei então que se já não tivesse um ótimo pai eu gostaria que Brennon Pietro fosse meu pai. Ele era o único professor que não era como um professor, ou seja, ranzinza e chato.

Foi o Sr. Pietro que me disse que antes o mundo era mais vasto, bem maior que apenas os dois reinos, e tinha muita mais gente. E então os países grandes declararam guerra, motivos fúteis, disse o professor, e um bombardeio de armas químicas começou. Um país infectava o outro com doenças ate que não restou país algum para guerrilhar. Muita gente morreu, muita mesmo e alguns lugares do mundo ficaram inabitáveis pela radiação. Então o que ainda havia restado de alguns países das Américas se juntaram em dois grandes grupos e formaram os Dois Reinos, em outros continentes alguns poucos resquícios de civilização também formaram novos estados.

As escolas não costumam dar esse assunto, e a maioria das pessoas prefere nem falar. Dizem que essa guerra mostrou o pior lado do ser humano e que é melhor esquece-lo, Sr. Pietro foi o único que me respondeu quando perguntei o que havia acontecido para a Grande Guerra ser conhecida como "O Evento Nunca Mencionado". Então eu possivelmente, era a única aluna da minha geração na sala e na escola toda que sabia mais da guerra do que os simples "o trágico evento de proporções avassaladoras" que se lia nos livros.

E os Mega humanos? Bem, eles são a parte interessante, o único bom vestígio deixado pela guerra. Os sobreviventes da guerra que não sofreram com sequelas tiveram seu DNA multado, isso era hereditário então toda e qualquer geração de hoje possui a mutação.

Claro que a ideia de eu ser um mutante já me deixa bem animada, mas essa não é a parte boa. Como o professor disse, uma tal de matéria negra (componente de alguma arma já extinta) criou um elemento em nosso material genético que chamamos de Mega, ele que nos multou e era o que chamavam de elemento inativo o que quer dizer que não prejudicava em nada o ser humano, mas começou a se ter casos de pessoas que nasceram com o elemento Mega ativo e eram extraordinariamente desenvolvidas, foram seis no total. Com idades quase parecidas e habilidades diferentes, infelizmente todas ela morreram assim que apresentaram os sinais de Mega ativo, aos cinco anos. Desde essa época eles vêm procurando mais Mega humanos, mas a chance de nascer um ativo e de 1 em 1.000.000, segundo o professor. Isso me desanimou um pouco já que eu nunca tive chance de nascer um Ativo. Quem sabe em outra vida não é?!

– Que tal ir para sala pequena miss impressionante? – o professor disse me guiando para fora da sala. – até mais.

A porta foi fechada na minha cara.

– Que falta de educação! Na faculdade deveriam ensinar boas maneiras já que sua mãe deve ter se esquecido de lhe ensinar não é?! - gritei do lado de fora e recebi como resposta uma gargalhada grosseira.

Naquele mesmo dia encontrei Téo García no pátio da escola rodeado de gente, como sempre. Bem, Téo García podia ate parecer o garoto típico mais velho e descolado. Ele era bem mais que isso, ele era o segundo Mega humano! Não preciso dizer que ele foi meu primeiro amor. Como um Mega ativo ele era perfeito, bonito, atlético, inteligente e divertido. Parece que eu estou descrevendo algum personagem de romance, mas Téo era assim, tinha super força, super agilidade e um super carisma. E afinal, mega humanos não andam por ai de bobeira. Infelizmente, ele nem sabia que eu existia.

Até me confessei para ele, recebi como resposta um sorriso e um "você é feia, eu nunca sairia com alguém feia".

Se isso machucou? Se sentir que esta sendo cravejado por milhões de facas é machucar então eu definitivamente tive meu orgulho massacrado, mas como toda menina tola eu inconscientemente o perdoei. O que eu posso fazer? Eu tinha uma queda por mutantes bad boys!

O mês passou num piscar de olhos.

O casamento foi lindo, principalmente porque não se tratava apenas de união politica, tinha amor envolvido, e segundo meu pai, só o fato de pessoas da realeza saberem o que é amor já era motivo de se comemorar. A caminhada do centésimo aniversário da paz também foi linda, era o único dia que as pessoas se permitiam lembrarem-se da guerra. Foi também naquele fim de mês que Téo García salvou uma mulher de um prédio em chamas e também impediu um suicídio. Depois daquilo ele ajudou muita gente e salvou muitas vidas com suas habilidades e logo o intitularam como um super herói, e se antes eu gostava dele como mutante então agora eu o amava como herói, era como se o meu príncipe encantado ganhasse vida.

_!

Como Se Tornar Uma VilãWhere stories live. Discover now