Capítulo II

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 Fomos no caminho sem muita conversa. Nenhuma conversa, na verdade. O clima ainda estava estranho. Tínhamos muito o que conversar, mas ninguém queria falar nada. O cinto apertando em meus seios ficava me incomodando, e por mais que eu imaginava que um dia me acostumaria com aquilo, não seria tão cedo. Fomos ao som de um bom CD, e logo chegamos no hospital. Depois de estacionar o carro, subir pelo elevador, e esperar um tempo na sala de espera, finalmente me chamaram. Felizmente, minha mãe havia pedido para chamarem-nos pelo nome dela, pois se eu respondesse pelo nome "Marcos", seria visto como algo um tanto estranho.

 Entramos na sala, e o doutor Eric estava nos esperando em pé. Ele era jovem, alto(não sei ao certo se ele era muito alto mesmo ou se era só questão de percepção, já que eu havia ficado baixinha) e loiro, com um cabelo arrumado, e perfeito. Ele estava com um sorriso lindo, que me deu até frio gostoso na barriga. Fiquei olhando para ele por alguns segundos, boba e confusa até finalmente despertar e, envergonhada e ainda confusa, apertar as mãos dele(que me fez perceber que até os músculos da minha mão estavam mais fracos). "O que foi isso que eu senti? Parecia que..."

 "Então," começou ele olhando para a minha mãe, "Você deve ser Laura, certo?"

 Ela assentiu com a cabeça.

 "E pelo o que você me disse, só posso imaginar que...". Ele parou por um momento, com um certo desconforto e desconfiança. "Essa bela jovem ao seu lado é seu... Filho?"

 Eu corei. Ela fez que sim novamente.

 "E como isso aconteceu?"

 Olhei para ela de forma envergonhada, pedindo permissão para falar. "Eu só acordei assim."

 "Mas você havia feito ou ingerido algo fora do comum na noite anterior?"

 "Não. Eu tinha ido para a escola e tomado café da manhã lá, pão com requeijão. Depois, de volta em casa, almocei um macarrão, e jantei o resto do macarrão."

 "Nada de mais?"

 "Nada."

 "Além de fisicamente, algo mais mudou?"

 "Bem, por algum motivo, eu não preciso mais dos meus óculos de grau."

 "Humm, interessante. E o que mais você está sentindo?"

 "Bem, eu sinto um pouco de tontura e falta de equilíbrio."

 "Uhm, sim. E psicologicamente?"
 Recuei por um instante. "Como assim?"

 "Você tem tido pensamentos diferentes?"

 Parei para pensar por um momento. Não sabia responder isso, eu estava tão ocupada com tudo aquilo, que não tinha tido tempo para reagir muito às coisas. Mas lembrei daquele momento no banheiro em que eu havia sorrido diante da minha beleza, e de como eu estava me sentindo sentada à frente do doutor Eric, reparando tanto em seu cabelo perfeito e sorriso magnífico. Sobre como ele era simplesmente maravilhoso e eu só queria...

 "Não. Não que eu saiba."

 "Bem," começou ele, "Existem alguns casos separados recentes de pessoas que sofreram pequenas mudanças relacionadas a sexo e gênero do dia pra noite, mas foram pouquíssimos, três no total, e nenhum deles no Brasil, além de terem sido pouco falados pela mídia. E mais importante, nenhum deles teve uma transformação completa como a sua. Mais perfeita que uma cirurgia. Eu tenho, então, vários motivos para desconfiar dessa sua história, mas existe também uma pequena chance disso que você falou ser verdade. Para saber disso, eu precisarei fazer testes. Eu gostaria que você, ainda hoje, fizesse um exame de sangue. Senhora Laura..." ele se virou para a minha mãe, "a senhora trouxe os documentos do seu... Uhn... da sua filha?"

Metamorfose Cor-de-RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora