Algumas perguntas pairavam pela sua cabeça, deveria haver algum motivo pelo qual estivesse passando por aquele momento em sua vida. Não foi nada fácil para Nicholas perder tudo o que havia em sua vida, primeiro sua mãe, seu amor e todos os bens matérias que pertenciam a sua família.
Faltavam 15 minutos para queima de fogos, ao lado direto daquele minúsculo quarto estava seu pai completamente alcoolizado, aquele cheiro forte de cerveja e cigarro tomavam conta daquele ambiente, a luz era fraca e oscilante. A única frecha daquele cômodo pelo qual circulava algum tipo de ventilação era por uma pequena janela. O tempo estava frio e chuvoso, alguns raios e trovões tomavam conta do céu. Mas para Nicholas não faria a menor diferença como o tempo estaria naquela noite, ele apenas precisava fugir de toda aquela realidade.
Ele não pensou duas vezes antes de abrir a porta empenada daquele mausoléu, pegou seu casaco a chave da moto e seguiu em direção a escada do prédio. Embora quisesse muito sumir de vez daquele lugar e, sabendo bem que seu pai não acordaria tão cedo, faltava agora apenas 5 minutos para o próximo ano.
Seu pai foi a única coisa boa que o restou em meio a tantas que ele tinha. As lagrimas começaram a escorrer pelos olhos de Nicholas, bem lentamente percorrendo seu rosto nitidamente cansado, enquanto as lagrimas desciam, algumas imagens aleatórias percorriam sua alma, imagens de como era sua vida antes do acidente que o levou sua mãe. Todos os momentos de alegria que faziam parte de sua vida, hoje era algo completamente distante.
Nicholas volta para o quarto onde seu pai estava dormindo, e fica observando cada pequeno detalhe daquele homem, e lá estavam mais e mais perguntas que o faziam pirar; "Cadê o homem que não tinha medo de nada? " O homem que por toda sua infância foi o seu super-herói", " o cara que havia lhe ensinado milhares de coisas"..., como eu disse: Eram muitas perguntas.
Aqueles 5 minutos se passaram num piscar de olhos, enfim era 2017. Nicholas volta para perto da porta e a abre lentamente, com passos lentos Nicholas se agacha em frente a cama onde seu pai estava deitado e lhe dá o beijo mais sincero que um dia havia dado em alguém.
Ao sair do prédio, Nicholas repara que a rua estava completamente cheia, a vizinhança estava em festa, mas nada do que não fosse normal para todos ali presente. Vire e meche eles faziam festas, churrascos. Sempre arrumavam um jeitinho para estarem reunidos e, não seria diferente naquela virada de ano.
Essa era uma das coisas pela qual Nicholas não entendia muito bem. Como aquele povo poderia ser tão feliz? Muitos deles não tinham um emprego, se não trabalhassem não comeriam, eles viviam um dia de cada vez. Muitas daquelas casas serviam para abrigar dezenas de pessoas. Mas ainda há assim eles não tiravam o sorriso no rosto, embora não tivessem muito, sempre faziam o possível para ajudar uns aos outros.
Nicholas enfim pega sua Honda 150 e dá a partida, ele não tinha nenhuma noção de onde iria, ele apenas precisava seguir, não importava para onde.
A rua estava deserta, já era de se esperar, já que a maioria das pessoas costumam estar com seus familiares e amigos.
Sem perceber Nicholas pega o caminho para onde o levaria para seu lugar favorito, poderia ser instinto ou destino talvez.
A sua frente havia um semáforo vermelho, ele nunca foi o tipo de pessoa que respeitava muito bem as regras, mas de novo sem perceber, ele se viu tomando uma atitude diferente. Ao parar no sinal ele dá uma olhada meio que de lado para calçada, ao fixar bem o olhar, ele observar um casal se abraçando, eles pareciam felizes, pareciam se amar. E instantaneamente após aquela cena, milhares de outros momentos percorriam sua memória. Por onde estaria Ana sua paixão desde o colegial. O que estaria fazendo naquele exato momento, poderia estar nos braços de outra pessoa, ele pensava.
Uma buzinada irritante o fez voltar a si, o sinal estava verde, era vez dele de continuar seu caminho. Embora não quisesse admitir, agora sim ele sabia muito bem para onde estava indo.
Tinham grandes chances de Ana estar naquele lugar, ele sabia muito bem dos ricos que correria voltando ali. Já que por escolha própria nunca mais voltou.
Um ano se passou, e muita coisa tinha mudado na vida de Nicholas, e as chances de terem mudado para Ana, eram grandes demais. Ele conhecia muito bem sua amada, e sabia bem que ela sempre foi uma pessoa de "momentos", coisas novas sempre chamavam a atenção de Ana.
Mas como nada estava importando para Nicholas naquele momento, ele continuou seguindo em direção à praia.
Naquele momento os raios e trovões haviam cessado, restava apenas uma leve garoa, nada que impedisse o famoso luau de fim de ano.
Ao chegar na praia, as coisas estavam exatamente como ele havia imaginado, seus amigos estavam ali em volta de uma fogueira se divertindo, e como de costume tinha muita bebida, cigarros e muita música rolando solta. Afinal, era dia de se divertir...
Mas algumas coisas mudaram por ali, querendo nós ou não, sempre mudam.
Nicholas ainda estava em cima da moto, um pouco distante do pessoal, ele não queria dar na telha, sequer sabia se iria ao encontro de todos.
*
Algo incomoda Fernando, e nada o tirava da cabeça que alguém está o observando, devia ser loucura de sua cabeça, ele imaginou. Já que havia bebido algumas doses de tequila. Mas apesar de tentar se convencer do contrário, Fernando não conseguiu se manter focado no que estava fazendo.
Amanda conhecia Fernando como ninguém. Nesse verão iriam completar 6 anos de namoro. Existia entre os dois uma cumplicidade surreal, coisa de cinema. Amanda sempre se mostrou observadora e sabia exatamente o que deixava Fernando estressado, e sempre que havia algo de errado ela logo percebia.
A voz de Fernando já não era a mesma, o jeito que tocava o violão demonstrava exatamente sua insatisfação. Então ele deu um tempo na música, levantou e seguiu lentamente para rua, Amanda grita perguntando o que ele iria fazer, e sem muitas palavras ele responder que iria pegar algo que esqueceu dentro do carro.
Seguindo em direção ao estacionamento, Fernando se depara com um homem montando em cima de uma moto toda preta, aquilo o deixou assustado, pois era de costume ter muito assaltante com motos iguais aquela, e além do mais o homem ainda estava com o capacete, não era nada confiável.
*
Ao rever seu amigo, Nicholas entra em pânico, se Fernando o reconhecesse como iria reagir, o que falaria, como explicaria o porquê de ter sumido esse tempo todo.
Fernando entendia muito bem o momento complicado que Nicholas havia enfrentado durante todo aquele tempo. Ele tinha total noção que perder a mãe e ver seu pai indo a ruina foi para Nicholas perder o mundo por inteiro.
Mas apesar de tudo isso, nada explicava o total abandono de Nicholas. Eles eram melhores amigos desde de sempre, e Fernando nunca iria o abandonar. Mas como sempre, o jeito fechado e talvez egoísta de Nicholas o afastou de todo o resto que havia lhe sobrado.
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O Recomeço
RomanceBom, Sempre acreditei que o tempo é capaz de curar feridas, de trazer consigo novos amores, olhares e sorrisos. Eu nunca me permiti desacreditar completamente do amor. "Do que vale viver sem amar"? Embora seja lindo recomeços, não é tão fácil como p...