Mudanças

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Estávamos quase no final de Dezembro, quando mamãe disse que iríamos nos mudar para o interior do estado, um lugar cheio de árvores, animais silvestres, flores e tudo o que geralmente tem em florestas. Perguntei a ela em que lugar ficaríamos, ela disse que era uma casa razoavelmente grande, uma herança de uma tatatatataravó muito distante mesmo, que morrera há cerca de dois séculos atrás. Minha mãe disse também que a casa era tão, tão, tão antiga que quando a minha avó - vamos chamar de avó, porque falar tantos "tatatata..." é muito maçante - chegou lá, descobriu que a casa havia sido construída por seus bisavós. A casa foi passando de herdeiro para herdeiro, até que a última herdeira morreu dentro da casa, depois disso ninguém mais ficou lá. Bem estranho não irem mais lá depois da morte da mulher, mas nem liguei muito para isso, acho legal ficar numa casa de uma pessoa falecida - sou meio esquisita. Sem julgamentos, por favor...- . A imobiliária responsável pela casa, demorou muito tempo até que encontrassem o histórico de herdeiros da família, chegaram até nós, porque a maioria dos herdeiros mais próximos já haviam morrido ou não moravam no país - nem sei quem era essa avó -. Mamãe disse que ela se chamava Liana Smirnôva - aí você pensa: que nome é esse? Então, pensei nisso também, por isso perguntei a minha mãe o porquê do nome, e, como minha mãe, Katryna, "a contadora de causos", era dessas de fazer cerimônia, já vai pensando: "Senta, que lá vem história..." -.

A tal vó Liana, a bisneta, saiu do centro Rússia muito jovem, tinha uns 13 para 14 anos. E veio para o interior, - minha mãe não disse o porquê, mas um dia eu descubro e conto - viveu naquela casa durante toda sua vida. Se apaixonou por um moço chamado Emanuel, meu tatatatataravô, namoraram e se casaram, com uns 19 ou 20 anos. Ele foi morar na casa dela, porque ele não possuía dinheiro para se sustentar, imagine sustentar uma esposa e filhos juntos.

Tiveram sete filhos, quatro meninas e três meninos - perguntei a minha mãe o porquê de tantos filhos, ela disse que era falta de preservativo, pois naquela época não tinha muito isto de se proteger, tanto que muitos morriam por contraírem Sífilis -. O filho mais velho se chamava Rogers, o segundo filho, Felipe, a terceira, Stela, a quarta, Helena, a quinta, Amanda, o sexto filho, Mark e a caçula se chamava Alessandra ou como era chamada pelos pais e irmãos, Ale -, como sou muito curiosa, quis saber onde minha mãe descobriu essa história. Ela me ignorou e continuou a falar -. A vó Lia, quando chegou do centro da Rússia e foi para aquela casa, plantou uma árvore com folhas roxas, a cerca de 20 metros da casa, perto de um riacho que havia no bosque ao lado da casa, que demorou anos e anos para crescer, tempo suficiente para que Ale ficasse sentada, praticamente todos os dias, embaixo da árvore olhando o céu. Incrivelmente, nas épocas de inverno e outono, onde geralmente as folhas das árvores caem ou secam, as folhas daquela árvore ficavam mais espessas e seus galhos se enchiam com muito mais folhas do que na primavera e no verão.

Mamãe disse que eu iria gostar da casa e do lugar, ela já tinha viajado até lá quando pequena com sua avó, mas ficou cerca de 4 dias, porque ninguém estava morando na casa e decidiram viajar para conhecer o lugar. Ela não aproveitou muito, porque ela gostava mais de ficar dentro da casa, brincando com seus primos que viajavam junto com ela.

Fiquei animada para morar na tal da casa, até porque nem conhecia o lugar e gostava bastante dessas casas antigas que possuem séculos de construção. Sempre tem mistérios e coisas para descobrir. Como nos filmes de terror que os personagens entram naquelas casas horrendamente enormes e cheia de portas, com móveis super antigos e a pintura caindo aos pedaços.

Naquela mesma hora liguei para a Beca, mandei mensagem para a Juju e para o Lionel, contando as novidades da mudança e das minhas expectativas. Beca não reagiu muito bem com a história e desligou na minha cara. Estava arrumando minha mala quando recebi uma mensagem dela.

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Beca às 09h54min

Você é louca, Helen! Como vai ir assim para um lugar hiper afastado de todo mundo??? Qual o seu problema??? Por que não fica na casa da sua tia Anna??? Sabe muito bem que na próxima semana terá prova de História! Você não vai fazer?!

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