Muros

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"Estava escuro em Moscou. Parecia que eu estava na Praça Vermelha, mas a escuridão era tão grande que tive que chegar bem perto dos monumentos para saber se era realmente a Praça, e era mesmo. Não entendi porquê eu estava lá. 

Tinha algo vindo em minha direção, parecia ser uma mulher. Eu acenei e perguntei quem era, mas ela não respondeu. Ela estava chegando mais perto e vindo cada vez mais rápido, comecei a andar para trás. Naquele momento, o chão começou a tremer e a rachar e saiu uma árvore enorme com folhas roxas e ela veio para cima de mim e ... Meu Deus que horror a cara dela estava desformada! Fechei meus olhos..."; acordei assustada e suando frio. Havia pegado o celular e era 4 horas da manhã. Me sentei na beira da cama, olhei pela janela: a lua estava cheia e um vento muito frio tomava o meu quarto. Quando me levantei fui até a porta verificar se ela estava realmente fechada. Meus pensamentos estavam altos: "O que foi aquilo? Meu Deus, quem era aquela mulher? Por que diabos saiu uma árvore do chão!? Devo estar ficando paranoica...".

Me deitei novamente e fiquei esperando o sono chegar. A janela estava aberta. Era possível ouvir o farfalhar da folhas das árvores no quintal. A lua brilhava no céu suntuosa e sombria. Uma rajada de vento passou pela janela, esvoaçando a cortina branca. Senti um frio fora do comum habitar meu quarto. Me cobri ainda mais e fiquei bem encolhida debaixo das cobertas.

Estava quase pegando no sono quando senti algo mover minha coberta e sentar-se aos meus pés. Meu corpo congelou. Eu conseguia escutar uma respiração profunda e cansada, e cada movimento feito. Tinha a sensação de estar sendo observada. Imaginei que fosse minha irmã, mas a porta estava trancada; ela não poderia ter entrado. A ficha caiu quando algo sussurrou com uma voz aguda e rouca: "Eu sei que seus olhos estão abertos.". Eu travei. Não conseguia respirar direito. Não sabia se fugia ou ficava ali. Pude escutar cada batida descompassada do meu coração. Mexi meus pés para longe do que estava sentado ao meu lado, mas simultaneamente ao meu movimento uma mão segurou meu pé esquerdo com força e cravou as unhas de sua mão em minha pele. Senti uma dor descomunal irradiar pelo meu corpo, eu senti que começava a escorrer algo pelos meus dedos: estava numa zona de perigo.

O sussurro com voz aguda e rouca se tornou imediatamente várias vozes, que pareciam tomar conta daquilo que estava me fazendo sangrar, dizendo: "Você não vai sair daqui". Meu medo se tornou um desespero avassalador. Fechei os olhos e esperei. As unhas afiadas cravaram ainda mais em minha pele, me segurei para me manter imóvel e sem fala. Continuei esperando e depois do que aparecia ter sido para mim meia hora, as unhas saíram dos meus pés, senti um grande alívio, mas a dor era intensamente forte. Comecei a chorar em silêncio, pois ainda sentia algo me olhando incessantemente. Não conseguia ter coragem para olhar acima das cobertas e nem para abrir os olhos. Meu coração acelerou-se ainda mais e minha respiração ficou rápida, não conseguia sentir meus pés, meu corpo tremia. O mundo parecia ter parado. Encolhi meu corpo e subitamente minha coberta voou para a parede. Lágrimas saiam dos meus olhos, mas me recusei a gritar. Senti minha cama tremer e comecei a ouvir meu criado mudo pular. Abri os olhos e vi meu pesadelo se tornar real. Uma mulher com um rosto macabro com pregos na testa, algodões nas narinas e cada canto de sua boca rasgado formando um sorriso caindo aos pedaços. Seus dentes eram pontiagudos e seus olhos com cor avermelhada e apodrecida pareciam saltar de seu rosto. Eu não conseguia parar de olhar. Não estava acreditando. Mas, quando ela se moveu vindo em minha direção, eu voltei ao meu corpo e pulei da cama num ato desesperador de fuga. Nesse instante, algo vindo do canto do meu quarto se moveu também, porém, estava todo de preto e era impossível distinguir o que era, pois meu medo cegou meus olhos e deixou meus passos lentos e pesados, só consegui ver uma grande faca empunhada em sua mão atrás da mulher que estava se direcionando até mim com passos rápidos quando me tranquei no banheiro. Quando fechei a porta não entendi mais nada. Algo bateu com muita força na porta do lado de fora do banheiro. Foi como se tivesse se desintegrado ali mesmo. Estava trêmula e assustada em pé em um canto do banheiro. A porta se abriu. Meu coração disparou e minhas lágrimas caiam sem parar. Fechei meus olhos de novo. Senti algo me levantar e me levar até minha cama, mas não pude me mover e nem consegui abrir os olhos de novo, mas senti como se o pior tivesse ido embora e meu sono voltasse num estalar de dedos. Não conseguia me mover. Chorei até dormir sem pensar em mais nada.

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Acordei num pulo. Olhei para o meu pé esquerdo: estava intacto. Pensei na hipótese de tudo ter sido apenas um pesadelo. Mas como? Era tão real! Não podia ter sido um pesadelo qualquer. 

Levantei meio tonta. O dia estava nublado e frio como sempre acontece em dezembro. Olhei meu celular, -4°C. Minha mãe não estava em casa, porque saiu com minha irmã para matriculá-la numa escola nova. Meu pai havia ido trabalhar. Estava descendo as escadas e notei como o lustre central é maravilhoso. As poucas luzes que passavam do dia nublado pelas janelas da sala atravessavam os cristais que brilhavam e refletiam um ralo arco íris na parede da sala. 

Quando cheguei na cozinha a mesa já estava pronta. Devem ter saído bem cedo, pois ainda era 8 horas. Sentei à mesa para comer. Fiquei olhando lado de fora pelos vidros da porta balcão. Que êxtase. Um pano branco de algodão cobria o gramado e as árvores estavam tão magras, sem folhas. Com toda certeza, eu vou sair para conhecer a casa e o resto da propriedade aqui em Dvoynevka, na região do Oblast de Tambov.  Talvez eu deva usar o casaco da minha mãe que custou *16,297 rublos, geralmente ela não me deixa usar e hoje não é uma exceção, mas como ela não está em casa, ela nem vai saber. 














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⏰ Última atualização: Jun 27, 2018 ⏰

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