-“Obrigado por escolher a nossa companhia para o seu voo até Londres, esperemos que tenha gostado de voar com a Air Line Planes, cumprimentos do vosso capitão.”- a voz grave de um homem foi ouvida através do altifalante.
As minhas mãos desapertaram o cinto que me segurava no meu assento. Levantei-me e dirigi-me para fora do avião. Respirei fundo sentindo os ares Londrinos invadirem-me os pulmões, saudades que eu já tinha desta sensação: liberdade.
*
Parei em frente de uma casa branca, pintada com vários tons de cinzento e muito branco, dois andares e uma enorme garagem faziam parte daquela propriedade, a minha casa. Coloquei a mão no bolso direito das minhas calças em busca das minhas velhas chaves, experimentei procura-las no bolso esquerdo mas não tinha sinal delas. Merda, perdi as chaves. Respirei fundo em frustração e cliquei no pequeno botão da campainha, uns saltos altos fizeram-se ouvir do outro lado da porta, mas que porra? Nem a minha mãe nem a minha irmã usam aquele tipo de sapatos sem ser em dias de festa. A porta foi aberta e do seu outro lado estava uma mulher, tinha cabelos loiros cacheados e uns olhos muito claros, castanhos claros, quem raio era aquela mulher? E que faz ela na minha casa?
-“Posso ajuda-lo?” –a mulher finalmente falou depois de dois minutos a observar-me.
Olhei-a de cima a baixo, ela usava roupa preta e branca, dei um passo para dentro de casa, ignorando a sua pergunta, e dei longos passos ate à sala principal.
-“O senhor não pode entrar aí!” –a mulher gritou enquanto o som irritante dos seus saltos me perseguia. Mais uma vez ignorei-a e parei no centro da sala, entre os sofás.
-“Mãe!” –gritei em plenos pulmões.
A minha cabeça rodou na direção da mulher logo que silencio se apoderou da sua presença. Os seus olhos estavam ligeiramente arregalados, transmitiam espanto, é bom que se arrependa de me ter falado daquela maneira. Uns passos apressados foram ouvidos a descer do andar de cima para o andar onde me encontrava, uma figura elegante apareceu no meu campo de visão, cabelos escuros caídos sobre os seus ombros davam esplendor à sua imagem. Mãe.
-“Harry, meu filho.” –a sua voz era tremula, cheia de emoção, ela ia chorar, eu já a conheço bem de mais. Moveu-se rapidamente para junto de mim, os seus braços rodearam o meu tronco e os nossos corpos juntaram-se num abraço. Os meus braços rodearam os seus ombros desajeitadamente, estive um ano sem trocar qualquer tipo de afeto, quer com família ou amigos, sempre fui muito reservado nesse tipo de coisas.
-“Mãe.” –a minha voz saiu rouca, o meu tom tinha engrossado desde há uns meses, eu completei 20 anos há algumas semanas atrás.
-“Que saudades, porque não me disseste que vinhas hoje? Eu teria-te ido buscar ao aeroporto. Meu querido, mudas-te tanto.”- as lágrimas já escorriam pelas suas bochechas, ambas as suas delicadas mãos seguravam o meu rosto, o qual envergava algumas cicatrizes recentes.
-“Mãe, vá lá..” –a minha voz continha alguma impaciência, eu detestava este tipo de coisas, detestava também que a minha mãe chorasse e ela sabe disso.
-“Desculpa, desculpa, filho. Mas fizeste-nos tanta falta.” – a sua voz saía fraca devido ao choro, as suas mãos secaram as lágrimas que escorriam sobre a sua pele.
-“A Gemma, a tua irmã-“ –a sua voz foi interrompida quando teve de tossir. Gemma, a minha menina pequena. Como será que ela está? Será que mudou muito? Será que fez o piercing que tanto ameaçava fazer? Tenho de a ver.
