Capítulo 1

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                             Em algum lugar no oeste da América do Norte, entre o fim do século XIX e o início do século XX


A região montanhosa da Serra do Norte, a qual eu podia ver no horizonte, despertava em mim um profundo interesse. Havia anos que se falava na descoberta de pedras preciosas e eu sonhava acordado. Jovem e pobre peão que cuidava de gado desde criança, eu via nas histórias que me contavam a chance de um futuro melhor. Corria em mim um suposto sangue explorador, apesar de eu ser órfão e não saber quem tinham sido meus pais, e ter sido criado na Missão.

Eu trabalhava numa fazenda de gado na pradaria, região de boas terras e de muitos conflitos. Havia conflitos entre fazendeiros, entre comerciantes e construtores, entre missionários e fazendeiros, e entre os nativos e todos os não-nativos. Os nativos eram os donos originais da terra e tinham sido expulsos pelos primeiros exploradores, mas vez ou outra incendiavam fazendas e construções. Ou levavam a culpa por algum incêndio. Eu mesmo não cheguei a conhecê-los.

Muitos diziam que trabalhar nas planícies era bom, apesar de não se ganhar muito, e de fato eu não achava ruim, mas as histórias que eu ouvia sobre homens que enriqueciam garimpando esmeraldas nas minas da Montanha Celeste me aguçavam a ambição. Alto e forte, jovem e não dado à bebida, eu tinha tudo para prosperar. Vi conhecidos abandonarem seus trabalhos e desaparecerem, e após um período de seca prolongado, quando meu ordenado foi reduzido, eu juntei meus poucos pertences e me preparei para subir.

Era meado de outono. Peguei o Bruto, meu cavalo, um casaco de peles, um velho revólver e uma bolsa de ferramentas e mantimentos, e segui pela estrada cheia de curvas que subia e subia, e de vez em quando, também descia. Alonso, um velho amigo que já tinha se aventurado nas montanhas, me instruiu sobre o caminho. Iríamos subir juntos, mas na hora de partir, sua ambição o fez sair antes, me deixando sozinho.

Ao passar da última encruzilhada que levava a outras terras, já no início da subida onde os ouvidos começam a sentir a altitude, as dificuldades começaram. Num local onde as pedras e árvores formavam um esconderijo natural, um bando de salteadores me cercou e me derrubou. Foi muito rápido. Eu estava tonto por causa do chiado no ouvido e não tive tempo de reagir. Eram oito homens com rostos cobertos, armados com pedras, paus e facões, que me imobilizaram e pegaram tudo o que eu tinha.

Quase não acreditei quando me vi sozinho, caído no chão de pedregulhos, cuspindo sangue. A dor maior que eu sentia era a da perda do meu companheiro Bruto. Ele não era tão bom, nem bonito, mas estava comigo havia muito tempo e eu nunca imaginei que alguém me fosse roubá-lo. Tinha tantos cavalos na pradaria. Praguejei, mas continuei a subir, afinal, não havia mais nada no meu ponto de partida. E eu ainda tinha o meu orgulho.

Depois do assalto, quando eu tinha andado apenas alguns metros, encontrei algo que me deixou ainda mais desiludido: Alonso, o meu amigo, que tinha saído pouco antes de mim, estava ferido e moribundo, caído à beira do caminho. Derrubado pelo mesmo bando, ele não tinha tido a mesma sorte. Lembro-me bem de suas últimas palavras.

"Romero, elas são amaldiçoadas. Eles morreram, todos eles..." — Seus olhos estavam aterrorizados e sua boca se mexia tentando falar. — "Fique longe das pedras, meu amigo... é o único jeito".

Tentei reanimar Alonso, mas era tarde demais para ele. Não pôde me dizer mais nada, embora tenha tentado. Tive medo do que poderia ser. Entre dores e dúvidas, cobri seu corpo com pedras, fiz uma pequena cruz e procurei abrigo, pois a noite caía. Quanto mais alto, mais frio, isso eu sabia desde menino. Consegui fazer uma fogueira com pedras e gravetos, assei um pequeno lagarto que encontrei e passei a noite entre as rochas tentando me aquecer. Vi cobras e outros bichos, mas não tive medo. Naquelas terras, o bicho mais perigoso era o homem.

Nos primeiros raios de sol, enquanto eu avaliava a situação em que me encontrava, fui surpreendido por uma caravana que subia levando animais, cestos e muita bagagem. Uma diligência levava uma família; parecia gente de posses. Ao confirmarem que eu não oferecia perigo, me permitiram caminhar junto aos empregados. Me deram coisas para levar. Consegui ouvir o que os carregadores diziam: o homem na diligência era um criador de gado que estava se mudando para uma vila que havia no alto, levando tudo que o pertencia, inclusive os filhos. Numa passagem difícil, ele saiu da carruagem e falou com todos, inclusive comigo, como se eu fosse seu empregado. Seu Epaminondas. Ele era gentil e ofereceu alimento. Aceitei de bom grado. Um dos rapazes se sentou ao meu lado na hora de comer. Me sorriu mostrando seus dentes escuros. Ele era da minha idade, talvez até mais jovem.

— Coragem, forasteiro! Você vai precisar — ele disse. — Foi saqueado?

— Sim. Perdi tudo.

— Mas te sobraram os dentes, então você teve sorte. Aqui é uma terra de perigo, não sabe? Se for mijar atrás de uma pedra, me chama que eu vou com você. Nunca se sabe, né. — Ele disse isso e deu uma risada. Seu hálito exalava álcool.

— Será que tem como eu me arranjar por aqui? Fiquei sem nada, nenhuma provisão.

— Fica aqui que você se arranja com seu Epaminondas — ele cochichou. — O patrão é generoso. Dá folga e carne pra gente, desde que não mexamos nas minas.

— Como assim?

— Não pode chegar perto dos buracos. Se encontrar uma verdinha por acaso nas terras dele, tem que devolver. Se roubar, ah! Está morto. Regras do patrão. Você não é mineiro, é?

— Não. Sou vaqueiro.

— Então você está com sorte.

Sorte. Passei a mão no ferimento na cabeça e não tive tanta certeza.

Continuamos na subida cansativa até chegarmos numa vila em construção na face leste da montanha mais alta, chamada de Celeste. O nome era porque de baixo ela não podia ser vista devido às nuvens. A vila era um lugar cercado por pedras, com duas fileiras de casas, um ou dois comércios. Era fria e dura, mas bem movimentada. Havia homens ricos e homens pobres, algumas famílias completas, havia porcos e ovelhas. E ali eu fiquei, na minha dura sina de peão, por mais de oito anos, até um dia...


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O Tesouro do Capataz (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora