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O telefone tocou, eram exatamente 15:32 de uma tarde ensolarada. Uma proposta de emprego. Já haviam três meses desde que meu ex patrão fechou as portas, sendo caçado por bandidos, por conta de dívidas. Peguei carona até o escritório. Eu deveria estar tensa, era uma entrevista, eu estava de bermuda, cabelo despenteado, e uma estampa nada adulta enorme em uma blusa rosa pink, o usinho sorridente estampado nela ao menos era simpático. Olho em volta, eu conhecia aquelas mesas!

- Boa tarde!

- Boa tarde! - respondi enquanto minha mente processava perguntas um tanto curiosas.

- Paulo disse para que viesse até aqui? - Paulo era o professor da escola onde cursei.

- É, ele disse que abriu recentemente o escritório.

- Isso, inclusive, reconhece os móveis?

EU SABIA, pensei enquanto repondia.

- São os do antigo escritório do Robson Manolo? - Se tratava do meu ex patrão.

- São, comprei tudo por dois mil reais, inclusive o notbook.

Naquele momento o arrependimento me entrelaçou, tamanha minha burrice. Era o mesmo notbook oferecido como forma de acerto pelo meu tempo trabalhado, eu não aceitei. Logo depois descobri que se tratava de um aparelho que custava em média 2 mil reais, meu acerto ficou em torno de 800.

- Nossa, barato!

- Pois então, estou precisando de uma desenhista e secretária.

Aceitei, estava empregada.

Comecei a todo vapor, eficiência, sobrenome. Minha patroa, filha de pastora. Me convidou pra ir até a igreja em que ela congregava, curiosa, fui. Eu já freguentava e seguia uma religião. Me arrumei como se fosse a uma festa, inclusive roupa nova. Cheguei atrasada, você vai ouvir muito essa frase ao longo da minha história.

- A oportunidade está com nosso irmão preto! - Pensei comigo que diacho era aquilo, racismo? Era um apelido carinhoso, no minímo engraçado, eu não podia rir.

Ele não cantava muito bem.

Em fração de minutos ouço soar meu nome naquelas caixas pretas que ficavam no alto, e expandindo no retorno. Eu estava com a oportunidade. Realmente, eu não sabia se conseguiria chegar até a frente sem cair, trêmula igual a vibração de um celular, minhas pernas pareciam ameaçar ceder a qualquer momento. Cantei. Gostaram, de qualquer forma, já havia acabado.

Já indo para o final, formaram um círculo á frente do altar, todos de mãos dadas, eu não conseguia olhar no rosto das pessoas. Desviei o olhar para o lado, e vi ela, cabeça baixa, camiseta azul, calça jeans, sapatênis, toda meiga.

Eu não tinha amigos, eu era tímida, medrosa, complicada, coberta de feridas. Ela me aceitaria? Me achava indigna de qualquer amizade. Me adicionaram ao grupo da igreja, imediatamente procurei por todas as fotos dos contatos, a foto dela. Achei. Eu não tinha coragem, sabia que seria rejeitada, como sempre fui desde a infância.

Passei a freguentar a igreja, voltei a crer em promessas, e em algumas semanas me incluíram no grupo de coreografia. Eu fui um desastre! Sincronia zero.

No final de um dos cultos, ela como num susto me abraçou forte. Eu tive esperanças. Dois dias depois arrisquei uma simples mensagem de agradecimento.

"Oi, só queria agradecer pelo abraço, eu estava precisando"

Ela foi simpática, me disse estar a disposição. Receosa agradeci, e ficou por isso.

Posso confessar que eu sempre tive vários problemas comigo, a minha insegurança, para mim, era minha culpa. Eu seria alguém despresível? Eu pensava em voltar a me automultilar, como um bicho que sai da toca, se sente ameaçado e decide voltar. Eu também queria atenção, doêntio, mas sim, eu queria atenção. Fotos do perfil do whattsap, algo meio subliminar e ao mesmo tempo tão notável, usei a desculpa de estar ajudando uma amiga, eu nem tinha amigos. Ela se preocupou, várias mensagens chegaram em fração de segundos. Eu ganhei uma amiga, nunca imaginei que ela me amaria tanto. Ela se chama Sarah, ela realmente me sarou, de toda rejeição.


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⏰ Última atualização: Jun 20, 2017 ⏰

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