Cada passo que aquele imponente ser de armadura dourada dava fazia o chão de todo aquele lugar estremecer. De um lado, uma grande estrutura de rocha suspensa. De outro, aquele misterioso ser caminhando vagarosamente como se não tivesse pressa de chegar ao seu destino. Antes mesmo de pensar em dar um novo passo, alguns metros de rocha se materializavam a sua frente formando uma espécie de ponte. Às suas costas se estendiam quilômetros e mais quilômetros daquela mesma ponte rochosa, indicando que este ser caminhara a bastante tempo. Quando o caminho finalmente se conectou à estrutura flutuante, o cavaleiro dourado abriu seus olhos pela primeira vez desde que iniciara seu percurso. No centro daquela estrutura havia uma belíssima árvore cujas folhas cor-de-rosa brilharam fortemente ao sentirem a presença do cavaleiro.
- Elyon! - exclamou a árvore por meio de telepatia.
- Fiz minha escolha, mãe. - disse o cavaleiro em um tom muito sereno.
- Sabes que depois que eu começar não há como parar, não sabes? - as folhas da árvore brilhavam no mesmo ritmo que as palavras eram ditas telepaticamente.
- Sei sim, minha mãe. - respondeu com um sorriso tranquilo.
Assim que o cavaleiro concluiu sua resposta, duas folhas se soltaram da árvore e pousaram suavemente na mão aberta dele que já percebera a intenção da árvore.
- Vês essas folhas? - perguntou a árvore continuando a brilhar majestosamente.
- Vejo sim. - respondeu olhando maravilhado para as pequenas folhas cintilantes. - É com o poder delas que minha alma será fragmentada, não é? - completou, agora, olhando para a árvore.
- Inteligente, como sempre. No entanto, duas almas humanas não são fortes o suficiente para sustentar teu poder. Serão necessárias sete. - respondeu a árvore soltando outras cinco folhas.
- Sete..? Então cada uma das sete almas poderá receber um atributo meu! - animou-se o cavaleiro recolhendo no ar as outras folhas.
- Certamente. Cada uma das sete marcas que você possuí pelo corpo representa um atributo Celesteon. As almas mais sintonizadas com a energia de cada um serão marcadas. - a árvore se iluminava ao dizer.
- Sete almas. Eu terei sete consciências.. - disse mais para si mesmo do que para a árvore.
- Ouças! Como nesta dimensão o tempo é ausente, as almas escolhidas poderão pertencer à gerações distintas. Assim, sou incapaz de dizer quando tu retornarás. - advertiu a árvore reluzente.
- Interessante. - o cavaleiro sorriu esboçando uma expressão de entusiasmo. - Podemos começar, árvore mãe?
- Se é o que desejas, que seja assim. Aviso-te que o poder de minhas folhas é incapaz de penetrar o corpo celeste.
Ao ouvir essas palavras, o cavaleiro dourado fechou os olhos e concentrou-se por alguns segundos, e então uma luz, também dourada, muito irradiante começou a envolvê-lo. Sua armadura, ao poucos, estava se recolhendo em um ponto em seu peito, como se este a sugasse. Em poucos minutos, o emponente cavaleiro dera lugar a um ser de aparência quase humana, não fosse várias marcas traçadas em diferentes partes de seu corpo nu.
- Sinto-me estranho assim. São raras as vezes em que recolho meu corpo celeste. - disse o, agora, quase humano massageando a parte de trás de seu cabelo louro - Inicie, mãe.
- Não recomendo que leves contigo o amuleto do céu. O lugar para onde vais não é famoso por fazer uso da verdadeira sabedoria. - preveniu a árvore referindo-se ao objeto em forma de pena que acabara de sugar a dourada armadura.
- Isso não me preocupa. Sinto que a alma que vai encontrá-lo é digna de tê-lo. - ergueu o amuleto com a mão direita.
- Sei que és mais responsável, não insistirei no entanto. - ao concluir, a árvore começou a brilhar, muito mais do que fizera até então.
As sete folhas que estavam guardadas pela mão esquerda do quase humano começaram a vibrar intensamente fazendo-o abri-la. Depois, passaram a emitir uma luz branca e levitar ao redor dele. Formando um círculo, começararam a dançar elegantemente ora em sentido horário, ora em sentido anti-horário.
- Estás certo de sua escolha? - disse a árvore com esperança que o quase humano mudasse de ideia.
- Estou sim, árvore mãe. Não te preocupes, pois retornarei. - respondeu com um tom de voz confiante, transmitindo a segurança de sua escolha.
- Certo.. Que cada folha sagrada conduza uma parte de tua alma ao mundo humano! - o brilho das folhas bailantes e o brilho das folhas da própria árvore intensificaram-se ainda mais. - Que as almas mais puras recebam a marca de teu poder!
Cada uma das sete folhas estava absorvendo uma parte do corpo do quase humano que agora era feito inteiramente de luz. Em pouco tempo, a figura dele desaparecera. Cada uma das folhas, agora carregando uma parte de sua alma, disparou em uma direção diferente até o céu sumindo em questão de segundos. Mais uma vez, a solidão fazia companhia para a belíssima árvore.