I- Porã

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Não é fácil ser adolescente, ainda mais quando você é um adolescente perseguido por monstros mitológicos que você ouvia histórias sobre quando era criança. Neste momento, eu, Porã Siqueira, de 16 anos, estou fugindo de uma espécie de vampiro com minhas amigas Janaína e Maria, que estão no meio desse rolo da mesma forma que eu estou. Bem... Mas pra vocês entenderem tudo isso, é bom voltarmos desde o começo.

O dia amanheceu normal, para quem tinha que acordar cedo para ir à escola. Primeiro dia do mês de Agosto, depois das férias de Julho, que merda. Só queria mais uns dois ou três meses de férias, é pedir muito?

Sem relutar tanto, decidi levantar e me dirigir até o banheiro. A primeira coisa que faço é lavar o rosto de frente pro espelho, fito a figura morena com traços indígenas e latinos, como a pele levemente escura, os cabelos castanho escuro ondulados que viviam bagunçados, e que junto da cor de minha pele, davam a impressão de que eu havia acabado de sair de um forno. O corpo levemente definido e com alguns músculos me deixava orgulhoso de mim mesmo, por não ser uma pessoa tão sedentária.

Mas minha característica mais marcante era, de fato, a cor dos olhos, acinzentados, que me recordavam dos dias nublados aqui de minha cidade, a Serra Pequena, uma cidade bem pequena, como já sugere o nome, que se localiza no Amazonas, bem agradável de se viver aliás. Ao menos para alguém como eu, que aprecia a calmaria, ruas de terra e vizinhança onde todos são familiarizados uns com os outros e se conhecem bem desde gerações passadas.

Olha eu me desfocando de novo, certo. Lavo meu rosto e cuido da minha higiene pessoal, e então coloco o uniforme da escola, uma calça jeans clara, um tênis nike preto e branco e uma camisa verde azul e amarela por cima do uniforme, por que patriotismo é tudo, né?

Meu quarto era relativamente pequeno, só tinha minha cama, uma mesinha com meu notebook preto e o meu guarda-roupa. Eu morava com a minha mãe, Laura Siqueira, e eu não gostava de pedir muito pra ela, pois não tínhamos muitas condições financeiras, e minha mãe era bem doente, então eu faço de tudo para ajudá-la.

Já eram quase seis horas, então vou para a cozinha e preparo o café da manhã, meu e de minha mãe. Corto oito fatias de pão de forma e passo manteiga em todas elas, como apenas uma, minha mãe precisava se alimentar. Faço dois copos de leite com achocolatado e deixo o dela na geladeira. Fatio uma banana, uma maçã e uma poucã pra ela e deixo tudo em uma tigela, também na geladeira.

Tomo meu leite e pego minha mochila, mas antes de sair de casa, ouço-a tossindo de seu quarto, estava um pouco atrasado, mas não podia deixar ela agonizando sozinha. Vou até seu quarto e abro a porta para encontrá-la deitada na cama, uma mulher de meia-idade com pele caramelada e traços latinos, com cabelos cor de café espalhados pelo travesseiro em que estava deitada, sua expressão estava bem cansada e possivelmente dolorida, sento ao seu lado e coloco a mão em sua testa para sentir se estava quente, e de fato estava. Ela não parecia totalmente acordada, mas aparentemente sentiu que eu estava ali.

-Filho...?

Ela diz um pouco confusa pegando em meu braço com delicadeza. Sorrio ao ouvir sua voz.

-Bom dia mãe -digo- Você está bem?

-Um pouco cansada só -ela tosse seco- Não se preocupe.

-Não precisa mentir mãe, o que você tem? Quer que eu faça um chá? Posso ligar pra vovó vir cuidar de você.

-Não incomode sua vó filho, eu estou bem.

-Vou fazer um chá mesmo assim. Não se mexa muito, ok?

-Filho... O ônibus!

-Eu vou a pé mãe, não se preocupe.

Claro, se fosse a pé eu chegaria uma ou duas aulas atrasado, mas não tem problema. Minha mãe é prioridade no momento.

Defensores da Nossa Terra- O Caldeirão Das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora