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"Chorei um pouco, mas na maior parte do tempo estou vazia, como se o que me fizesse sentir e sofrer e rir e amar tivesse sido removido cirurgicamente, me deixando oca como uma concha."

Por Lugares Incríveis – Jennifer Niven

- Meu amor... Acorda.

Minha cabeça tá bem confusa. Os pensamentos engarrafados. Abro os olhos e me sacudo na cama. Meu coração se acelera. Estou assustada.

Minha mãe está diante de mim, com um bolinho e comprimidos.

- Você está com febre. - Ela diz com voz amorosa. Olho para a janela do quarto, a procura do sol da manhã, mas nem a luz da lua me faz companhia, está tudo escuro lá fora, a porta do quarto está aberta. Isso me deixa arrepiada.

Tomo o remédio. Lembro-me das vezes que tentei engolir usando água. Uma sensação de asfixia me preenche, tento ficar calma. Minha mãe se levanta e recosto a cabeça no travesseiro. Sinto algo frio e úmido na minha testa. Minha mãe provavelmente pensou que isso ajudaria na dor de cabeça e na febre. O remédio me faz dormir com facilidade. Gostaria de tomá-lo sempre, mas às vezes que me permito usá-lo me sinto como uma viciada.

Por um segundo a morte do Blue foge da minha cabeça, por um minuto esqueço que ele tomou toda uma cartela de comprimidos para dor de cabeça que ele comprou uma farmácia perto de casa, então o deixo ir, porém não me sinto mais leve. Sonho com ele.

- Você tem que tentar! - Exclamou Blue.

- Não tenho, não. - Digo, olhando para ele.

Estou encostada da parede da academia. Meu cabelo escuro está amarrado em um rabo de cavalo, com uma mecha caindo sobre o rosto que faz parecer uma franja. Prendo-a junto as demais. Uso um tope preto por debaixo de uma regata da mesma cor.

Minha calça leg completa meu acervo gosto de tons mortos. Meu tênis é azul. Seguro uma corta em mãos, minha respiração ainda está ofegante depois de chegar ao centésimo pulo.

Sou sedentária.

O vento que entra pelas janelas de vidro abertas seca o suor em meu rosto. Blue está próximo ao saco de peso. Insistindo que eu dê alguns socos como se eu fosse uma lutadora de box profissional.

- Quando eu for socar não vai bater nem perto do meio.

- Isso não é um problema.

Blue está com uma camisa roxa com uma estampa de Alice no país das maravilhas. Nela tem o gato risonho e uma frase no livro. Amo essa camisa. Já disse isso a ele.

- Venha!

Algo no jeito que ele fala acaba me convencendo. O Blue não parece estar triste hoje. Como eu estava enganada. Deixo a corda caída. Não consigo alcançar o lugar de pendurá-la. Caminho até o saco. E me preparo para socar, Blue me encara entusiasmado. Vamos, Jasmine, você consegue. Consigo escutar sua voz dizendo isso. Então eu faço. Sinto minha mão afundar na lona. Faço outra e outra vez. O barulho é reconfortante, não sinto dor.

- Melhor que socar a parede. -Digo.

Olho então para Blue, ele ainda está me encarando.

- Você é linda.

Escuto a voz dele falando em meu ouvido. Não fazia parte do sonho. Foi como uma lembrança vivida do dia que ele me falou isso. Meus olhos estão bem abertos. A luz me invade como se eu fosse um espaço proibido e ela um jovem aventureiro. A luz me machuca. Toco meus dedos, então toco em minha cabeça, sinto minha pele, sinto meus pensamentos correrem rápido e confusos. Então eu me abraço e me encolho na cama.

Espíritos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora