Piloto

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- ...Era como se um pedaço de mim ficasse junto dela naquela casa. Eu havia feito de tudo para vê-la feliz. Eu dei a ela um lar, eu dei a ela um propósito na vida, e ela deixou com que eu me ferrasse sozinha. Mas tudo bem, eu entendo, ela é jovem, ainda tem muito a viver.

As palavras saiam naturalmente, olhei para aqueles olhos castanhos que pareciam horrorizados, mas não era para menos, a detenta cujo nome não me importa, era uma novata qualquer, estava lá por falsidade ideológica ou algo do tipo, falar sobre homicídios não era algo que a deixava confortável. Revirei os olhos e levantei-me, sai andando por aqueles corredores cinza pouco movimentados durante a tarde, enquanto outras detentas estão em seus trabalhos, eu estou no fim de mais uma advertência. Observava cada uma daquelas mulheres enquanto andava, cada uma com sua história fascinante e dor expressa em seus rostos. Fui até a biblioteca, atrás de algo para ocupar a mente, já que fazer amizades é algo com que não me preocupo. Estava presa a cerca de três anos. Era conhecida, todos sabiam meu nome, o que havia feito, mas é divertido assustar as novatas, confesso.

- Está na hora de atualizar a sessão sobre Serial Killer.

Resmunguei quase a bufar, virei-me em direção a detenta que trabalhava como bibliotecária.

- Vai se foder.

Ao ouvir a sua resposta ergui minhas sobrancelhas e me aproximei um pouco mais da mesa. Com o livro que tinha em mãos bati forte sobre a mesma, o estrondo ecoou pelos corredores.

- O que você disse?

Ela me olhava sem medo algum, mas isso logo mudou, ao perceber quem eu era. Ela parecia confusa, porém, o semblante amedrontado havia tomado seu rosto, e qualquer um podia perceber.

- Eu... - ela engoliu em seco, como se procurasse a palavra certa. - Eu irei relatar isso ao diretor, tentarei fazer com que ele compre livros novos, não se preocupe, Ritzenthaler.

Não era exatamente a resposta que eu estava esperando, mas era próxima. Sabia que a forma que meu olhar a atingia fazia tal efeito. Já me disseram várias vezes que meus olhos parecem ser do próprio demônio. Tomei o livro em mãos, era mais um documentário sobre assassinatos para minha coleção.

- Anota.

Ordenei logo saindo pela porta batendo a mesma com força. Meus ataques de raiva não podem ser controlados, mas eu gosto. Adentrei meu cubículo logo me deitando na cama, minha nova ''colega de quarto'' ainda não havia chegado, já que a última suicidou-se. Folhei o livro e comecei a lê-lo, sem pressa.


ㅤㅤ ㅤㅤㅤㅤ ㅤㅤㅤ ㅤㅤ ㅤ - Folha 1. Primeiro dia.

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