Capítulo Três - Will

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Fechei meus olhos. O tédio que eu estava sentindo ao assistir aquela garota louca beber e reclamar dos homens era imenso. Meu braço até mesmo já estava dormente de apoiar o meu queixo no balcão do bar.

Eu deveria ir embora. Deveria. Mas não consegui ir quando tive oportunidade. De algum modo, eu entendia aquela garota. Eu sabia perfeitamente como ela estava se sentindo.

Traída. Uma idiota. Um verdadeiro lixo.

Sabia disso porque fora assim que eu me sentira três meses atrás.

Abrindo meus olhos, voltei a assistir a pequena gambá ao meu lado. Ela tinha o copo com sua bebida pressionado contra o peito, como se temesse que alguém o roubasse.

— E é por isso que os homens são uns filhos da puta — dizia ela, suas palavras emboladas pelo álcool, e sorrindo largamente, o que fazia duas covinhas em suas bochechas aparecerem.

Ela, pelo visto, era uma bêbada feliz.

— Você — disse, apontando um dedo para mim. — Você também é.

— Eu sou o que? — questionei.

— Um hooooomem — respondeu ela, arrastando a palavra e se inclinando tanto na minha direção que quase caiu do banco.

Empurrei-a de volta, franzindo o cenho para o seu vestido agora molhado com álcool.

— E bonito — continuou, enquanto eu tentava retirar o copo do seu aperto. — Muito bonito.

Pedi a conta para o barman, ficando em pé. A louca bêbada se apoiou em mim, a parte de trás de sua cabeça contra meu peito.

Ela riu, os olhos fechados.

— É muito gostoooso na veeeerdade — disse ela, levando uma mão para o meu pescoço e rindo novamente. — E vai dormir comigo...

O barman olhou para ela, e então para mim. Ele já devia ter visto aquele tipo de coisa muitas vezes antes, porque não esboçou nenhuma reação. Mas eu estava constrangido.

— Vamos lá, pequena gambá — disse, guardando minha carteira no bolso de trás e tentando colocar a louca em seus pés. — Onde você mora? Consegue lembrar o endereço?

— Onde eu moro? — repetiu ela, tropeçando em seus pés.

Ela olhou para mim com aqueles olhos azuis-claros dela e seu lábio inferior tremeu.

— Eu não moro — disse ela, agitando a cabeça. — Não tenho mais casa. Não, não.

— É uma sem teto, então? — questionei, grunhindo por ter que praticamente a carregar para fora do bar.

— Ele me traiu — murmurou ela. — No meu sofá! E minhas almofadas... Ah, minhas almofadas...

Levei-a em direção ao meu carro enquanto ela continuava a balbuciar. Colocando-a sentada no banco do carona – algo que deu um enorme trabalho para ser feito – olhei em meu relógio de pulso.

Havia se passado umas boas duas horas desde que eu havia bebido a última dose. E eu não me sentia nenhum pouco bêbado.

Julgando não ser necessário chamar um táxi, fechei a porta do carona. Estava louco para chegar em casa e dormir um pouco – eu ainda tinha que trabalhar na manhã seguinte.

Entrei no lado do motorista.

— Vamos lá, gambá — disse eu, antes de me inclinar para colocar o cinto de segurança nela. — Diga onde você mora.

DESEJO - (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora