As bancas de jornais amanheceram polvorosas. Em cada periódico, a mesma manchete ocupava a capa dos jornais; e a cada leitura, uma expressão triste surgia no rosto dos cidadãos. Ninguém estava totalmente bem naquele dia, o país inteiro sentia por aqueles que eram protagonistas da foto dos títulos noticiários.
Em toda esquina o assunto era o mesmo. Tristeza e angústia era contida em cada palavra declamada nas conversas casuais da população. Os telejornais não cansavam de reportar a mesma coisa em cada edição diária; “a madrugada fora conturbada” dizia o âncora. Não era algo que afetava diretamente a vida pessoal, mas era a empatia daqueles que a tinham, que magoava profundamente.****
A cama estava deliciosamente confortável. Os lençóis pareciam de seda, porém, eram uma mistura de poliéster com algodão. O solitário homem na cama brigava contra seu despertador noturno, que bradava pelo pequeno quarto de sete metros quadrados, estampando meia noite no visor. O aspecto cansado do lento caminhar até o banheiro era rotineiro, nada fora do comum na vida do sujeito. Logo após uma rápida lavagem no seu rosto e de enxugar sua barba com uma toalha barata, o homem apareceu em sua cozinha, abrindo sua geladeira e parando na frente do eletrodoméstico, sentindo o ar gelado em contato com os pelos expostos da sua perna. As prateleiras da geladeira estavam quase vazias. Uma maçã murcha ornava a porta, enquanto alguns alimentos suspeitos enfeitavam o resto do largo espaço disponível. Como qualquer noite, a sua escolha para o lanche da madrugada foi um copo de leite e alguns pães velhos. Ao término de sua refeição, terminou de tomar sua bebida azeda e ligou a televisão enquanto vestia sua camisa surrada e calça desbotada. No momento em que abotoava o último botão perto do colarinho, ele estacou. Sua mão tremia e seu coração palpitava temendo o pior. Suas pupilas dilataram, eriçando cada cabelo presente em seu corpo. A frase do telejornal o fez recordar o íntimo do seu passado, levemente, como uma droga em dose homeopática; isso bastou para que sua espinha cervical gelasse. Sem terminar o abotoamento, pegou sua única jaqueta e bateu a porta do seu apartamento, deixando para trás as migalhas da sua refeição e a solitária voz televisiva.
— ... a emissora e a população sentem muito pela família.A alguns quilômetros dali, uma outra televisão repetia as mesmas palavras. Porém, dessa vez, a expressão do telespectador não era de medo. Sentado em sua poltrona de couro e com seus pés apoiados em uma mesinha, um homem saboreava uma deliciosa dose de whisky. Ao assistir a notícia urgente reportada, não demonstrou nenhuma surpresa; em vez de temor, seu rosto transparecia um misto de ansiedade com calma. Os olhos tranquilos observavam cada detalhe da reportagem, e, ao aparecer a imagem do detetive encarregado da investigação, um sorriso brotou em seu rosto.
Enquanto o sujeito se servia outra dose da cara bebida, seu celular tocou. Ao atender, o mesmo sorriso era mantido como expressão.
— É, eu vi. Agora é minha vez. — A ansiedade conotava a voz grave que pronunciava as palavras.****
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13° DP - O Fantasma
Mystery / Thriller"E então com um olhar desafiador, o jornalista olhou para o detetive e declamou uma das frases mais impressionantes que ele ouviu na sua vida, fazendo Arnaldo se contorcer por dentro, perguntando a si mesmo se estava em algum tipo de filme. - Ele nã...