Meu nome é Jeremy, aqui em um raro momento de lucidez escrevo esta carta, sobre tudo o que aconteceu naquela noite. Não foi como a polícia disse. Nunca foi.O dia começara normal, na pacata cidadezinha de interior, com o padeiro abrindo a padaria cedinho, a dona Lúcia começando seus afazeres na alfaiataria e mais meia dúzia de pequenos empresários abrindo suas lojas. Acordei cedo e como de costume fiz minha corrida matinal, passando pelo velho bosque, pouco antes da cidade. Cheguei em casa por volta das 09:00. Tudo normal.
As coisas começaram a ficar fora do habitual à tarde, especificamente às 16h30, quando recebi uma ligação muito animada do Eron, que era meu amigo e colega de trabalho, na catalogação de livros na biblioteca da cidade.
–Hey Jeremy? Você não vai acreditar no que eu acabei de descobrir aqui! –Ele disse com um tom realmente interessado.
–Pelo seu jeito deve ter sido algo bem importante, fala o que foi? –Eu perguntei enquanto caminhava pela casa, procurando um livro que tinha pegado na biblioteca.
–Ah eu não vou falar pelo telefone, você tem que vir na biblioteca agora! –Ele falou quase rindo de excitação.
–Não sei... Você sabe que hoje não é o meu dia. Os inspetores podem achar ruim.
–Não vão achar, eu também chamei a Alex e a Karen, se não fosse algo tão importante eu não ia estar chamando vocês. –Pensei por um momento, e concluí que talvez não houvesse problema mesmo em eu ir, afinal como o Eron falou, se ñ fosse verdadeiramente importante ñ teria chamado. Engano meu, aquela seria a pior escolha da minha vida....
–Tudo bem, chego aí em 10 minutos. –Desliguei o celular, troquei de roupa rápido e fui até a garagem pegar o meu carro.Entrei nele e acelerei até tirá-lo de lá, desci e fechei a garagem, mas quando voltei ao meu carro, estranhamente havia aparecido uma mensagem na poeira sobre o vidro da frente, que dizia "morte". Naquele momento tive uma sensação muito estranha e um arrepio subiu pela minha espinha, como um prenúncio de algo ruim. Mas imediatamente bani essa sensação, preferindo imaginar que tivesse sido algum pivete querendo me assustar, não iria me deixar dominar por aquilo. Entrei no carro e enfim comecei o trajeto até a biblioteca, que não ficava muito longe. Pouco mais de 10 minutos e eu já tinha estacionado ao lado da mesma. -Eu desci e caminhei até a porta.
O lugar não era gigante, na verdade era bem modesto numa antiga casa da época vitoriana. Bati três vezes e esperei o Eron vir, mas não houve sinal dele, então bati com mais força e finalmente ouvi passos na direção da porta. O garoto loiro abriu uma fresta.
–Entra aí Jeremy. –Ele sussurrou abrindo totalmente a porta, eu entrei e ele a fechou.
–Por que você estava sussurrando? –Perguntei curioso.
–Nada demais, vem comigo.Caminhei um pouco atrás dele, o local onde era a sala de estar da antiga casa, agora era uma sala de leitura e havia algumas estantes de livros nas paredes. Eron começou a subir a escadaria em forma de caracol para o segundo andar e eu continuei o seguindo.
–As meninas já chegaram? –Perguntei.
–Sim, elas estão lá em cima. –Ele falou.
–Você já pode me falar o "grande" mistério? –Sinceramente, eu já estava ficando impaciente com tanto segredo.
–Calma, você já vai saber. –Ele disse e eu revirei os olhos. Assim que chegamos ao patamar do segundo andar não contive o espanto e a reprovação.
–Você abriu o sótão? –Perguntei observando uma pequena escada no fim do corredor, que adentrava o sótão através de um pequeno alçapão. Havia uma porta em cada lado do corredor, as quais levavam a outras salas de livros.
–Ah, eu abri sim, qual o problema? –Ele perguntou dando de ombros, sem se importar.
–Qual o problema? Você só pode estar brincando –Eu passei na frente dele, impedindo sua passagem –Eron, você sabe que é expressamente proibido entrar ou mexer em qualquer coisa lá dentro, tá querendo fazer a gente perder o emprego cara? –Eu sacudi seus ombros.
–Relaxa Jeremy, deixa de ser careta. Ninguém vai saber. –Eron falou sem receio.
–E como você garante isso?
–Eu fechei a biblioteca por dentro e tô com a chave, qualquer um que tentar entrar não vai conseguir sem falar comigo. –Ele vasculhou o bolso e tirou a chave balançando-a na minha frente. –Te garanto, não tem risco nenhum.
–Ta certo, ta certo. –Falei, me dando por vencido. –Me mostra logo isso.
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Contos da meia noite
Historia CortaVocê tem medo de fantasmas? Acredita em Vampiros? Ou já viu um lobisomem? Por muitas vezes somos confrontados pelo desconhecido, e ficamos tão abismados e assustados, que, em certos momentos, pensamos ser fruto da nossa imaginação. "Talvez um proble...