Capítulo 4

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Para Rafassauro e Lari-rex. Minhas gêmeas. Para Rachel, amiga que odeia Spoiler, Jussara Stefanos. Vocês são família. Anos juntas. 



Pov – Vittorio

Tem qualquer coisa nelas que me hipnotiza, fico consciente das duas ali durante todo o percurso, mesmo me proibindo de olhar para o banco de trás do carro.

Também tem algo de muito errado nessa história. Algo que não encaixa, uma jovem e sua filha perdidas no meio da noite e recusando ajuda policial? Não faz sentido.

A garotinha veio para meus braços de modo imediato. Minha intensão era pegar a mochila pesada, mas ela se atirou para mim tão confiante. É linda, as duas são. Gabriela. Nome bonito, garota meio fora dos padrões. Bonita demais para ser tão natural. Ela tem um tom inteligente de percepção rápida e humor. Não achei nem por um segundo que estava tentando fazer graça, mas o tempo todo ela fez comentários hilários que não combinavam em nada com a situação.

Viva a democracia? O que foi aquilo? O policial ficou sem direção. Vovó fez o certo. A bem da verdade não podíamos mesmo deixar uma moça e uma criança na escuridão da noite sozinhas, mas não sei o que teria feito se estivesse sozinho. Encaro a noite pela janela lateral do carro. Você teria passado direto Vittorio. Ignorado tudo e seguido em frente e não sei se gosto de pensar nisso. Agora que estão no carro eu percebo que isso era a única coisa a ser feita. Admiro minha avó por ser assim espontânea. Não sou. Sou fechado, analítico. Penso tanto no que fazer que acabo por fazer nada. Exatamente nada.

O carro atravessa os portões da Vila. A noite encobre a beleza dos vinhedos e os jardins que cercam meu pequeno paraíso. Apenas a mansão de pedra iluminada fica visível.

Antônio estaciona em frente a porta principal. Me apresso em descer. Antônio faz o mesmo e vai ajudar minha avó e depois pegar a mochila. Dou a volta e Isabella salta do carro seguida da mãe.

A pequena caminha uns passos encantada com a casa, manca bastante e me aproximo dela preocupado. Não me dou conta do que estou fazendo até estar agachado em frente a criança segurando seus ombros.

―Está machucada? Sente alguma dor? – Ergo meus olhos para a mãe. – Ela se machucou?

―Dismetria. – Ela diz somente. Acho que já ouvi qualquer coisa sobre isso. É uma síndrome. A perna é mais curta. Olho para a pequena pensando se me desculpo ou não. Meu coração reage a situação de um modo estranho e desconhecido para mim.

Antes que diga qualquer coisa os cães surgem animados, vão direto a pequena. Lambendo e se abanando decididos a encanta-la.

―Que lindos. Olha mamãe. – Ela está exultante acariciando os dois e sendo lambida, eu ali, ainda abaixado diante dela enquanto os dois circulam em torno da menina que não cabe em si de emoção.

―Cuidado Isabella.

―São dóceis. Não tem perigo. – Aviso a mãe preocupada.

―Que lindos. Que amor. Você é muito bonito sabia? Como que ele chama? – O cão amarelo se contorce enquanto ela envolve seu pescoço apaixonada.

―Baby. – Digo de má vontade. Nome estúpido.

―Baby? Que lindo. Era bem esse nome que eu queria. Oi baby. Você é muito lindo. Quer carinho? Quer? – Ela beija o peludo, espalma uma mão no meu rosto num carinho delicado como se me confundisse com um dos cães em torno dela. – Vittorio você sabe escolher nome, esse é lindo. Baby. – Ela o solta um momento para envolver Rosso. O Gigante está todo delicado querendo atenção. – E você lindinho. Como que chama em?

Série Família De Marttino - Coração de Gelo (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora