O encontro

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No caminho de volta pra casa, dessa vez sem Daya pra conversar e tirar o silêncio horrível das ruas a noite, eu apressei meus passos, comecei a sentir como se alguém tivesse me observando, me seguindo, olhei pra trás mais não tinha ninguém, aquele "SHHH" que eu tinha ouvido aquela noite não saia da minha cabeça, sempre que estava sozinha, em silêncio, eu praticamente o ouvia de novo, eu nunca tive medo de nada a esse ponto, não sei porque isso tinha mexido tanto comigo. Andei o mais rápido que pude, cheguei em casa subi pro meu quarto e me tranquei lá, fiquei uns minutos de costas pra porta, encostada na mesma, pensando no que tava acontecendo, preocupada com Daya, não deixava que pensamentos ruins em relação a ela invadissem minha mente, sempre me focava em pensar que ela estava doente, não que isso seja bom, mais é melhor do que o que eu estava evitando pensar, ou tinha viajado, e esqueceu de me avisar. Coloquei a mochila do lado da porta e quando tranquei, ouvi três batidas, meu coração acelerou, e eu fiquei sem reação, olhando pra porta, até que ouvi mais batidas, dessa vez mais forte, falei em voz alta
-Quem é?
Minha voz tremeu um pouco
-Abre a porta
Era a voz da minha mãe, suspirei aliviada e abri a porta, ela me disse pra levar as roupas sujas pra lavanderia no outro dia, era uma das únicas coisas que ela falava comigo, nunca fomos muito próximas, porque ela só tinha tempo pro meu irmão mais novo de 6 anos, aproveitei e disse pra ela que iria pra casa de Daya, então ela se virou e foi pro quarto, e eu tranquei a porta novamente me deitei, e adormeci depois de um tempo, estava tendo sonhos estranhos com aquele rosto que vi, aquele sorriso cortado e aquela voz, isso não me deixava em paz mais, era impossível não pensar, também porque não tinha amigos pra me distraírem, não tinha com o que me distrair. Acordei no outro dia com a claridade do sol invadindo o quarto, vi que já eram 11 horas, e a lavanderia fechava ao meio dia, então pulei da cama vesti uma roupa qualquer peguei as roupas, as moedas e sai, deixei as roupas na lavanderia e fui pra casa de Daya, minha mãe pegava no outro dia, chegando lá, a casa estava fechada, por morarem bem distante de tudo, a casa dela era sempre assim, não tinha vizinhos nem nada do tipo, era bem deserto mesmo onde Daya morava, bati na porta mais não ouvi resposta, então quando bati de novo, vi que a porta estava aberta, então a empurrei e entrei
-Daya?
Falei em voz alta esperando resposta mais nada
-Tia Vanessa?
Chamei pela mãe de Daya e também não ouvi nada, duvido que tenham viajado e deixado a porta da frente aberta. Subi as escadas e vi que a porta do quarto de Daya estava encostada, então empurrei a abrindo lentamente...
-Daya?!
Gritei com o que vi, meu coração acelerou de uma forma inexplicável, não conseguia fazer mais nada se não chorar, me ajoelhei no chão e comecei a chorar mais, não consegui acreditar no que tava vendo, isso não pode ter acontecido, não pode ser real, Daya estava caída no chão, com a barriga cortada e suas entranhas pra fora, um sorriso esculpido em seu rosto e as pálpebras queimadas, havia sangue por todo o quarto, é um "SHHH" escrito na parede com o sangue de Daya
-Não, não pode ser, NÃO PODE SER
Gritei me chorei por uns minutos, depois me levantei e sai dali, entrei no quarto de seus pais, e meu estômago embrulhou, não sei como não vomitei, era uma cena terrível, o corpo do pai de Daya em cima da cama, como o dela, pálpebras queimadas o sorriso cortado no rosto, e a barriga aberta, mais o corpo da mãe de Daya, de uma maneira diferente, tinham pedaços espalhados pelo quarto, e a cabeça sobre uma cadeira, com um dedo na frente de sua boca, em sinal de silêncio, o mesmo sorriso esculpido na boca e sangue por todo o quarto, sai dali, e corri pra fora, liguei pra polícia e contei tudo o que vi, chorando muito, e com a voz trêmula,  depois de um tempo as viaturas chegaram, retiraram os corpos, eu voltei pra minha casa e pro meu quarto, minha mãe ficou sabendo pelo noticiário local o que tinha acontecido, então por esta noite, por incrível que pareça, ela me confortou, me disse coisas boas, ficou comigo em meu quarto até que eu dormisse um pouco, o que não foi fácil, horas depois quando acordei, era madrugada, estava aquele silêncio aterrorizante, mais hoje estava mais que o normal, eu não conseguia acreditar em tudo aquilo, não conseguia parar de pensar,
-porque com ela? Minha única amiga? Porque seu assasinozinho de merda?
Falei e comecei a chorar de novo, nunca ia esquecer aquela cena, aqueles corpos, de minha amiga e dos pais dela, quando isso vai parar? Quando vai pegar o desgracado? Fazia essas perguntas frequentemente em meu pensamento, nunca ia me conformar com isso
-Podia ter me matado no lugar dela
Falei com toda a minha raiva, e ouvi um trovão forte, e logo após as gotas de chuva em minha janela, todas as noites estavam chovendo ultimamente, bom que por algumas horas o silêncio absoluto era quebrado pelos pingos na janela e os trovões. No outro dia não desci pra almoçar, não sai de meu quarto pra nada, não conseguia comer, pois as lembranças invadiam minha mente, embrulhando totalmente meu estômago. Ouvi alguém bater na porta e logo depois abri-la, minha mãe entrou com um prato de comida e colocou na mesinha ao lado de minha cama
-Tenta comer
Ela disse deu um beijo em minha testa e saiu do quarto, nem toquei na comida, joguei pela janela. Dias se passaram e as coisas estavam voltando ao normal pra mim, depois de uma semana sem ir pra escola, voltei a ir, e a minha rotina de antes, só que sem Daya pra me dar pelo menos um pouco de alegria, me tirar desse inferno de rotina que eu vivo. Estava cansada, tinha tido dias de prova na escola, então cheguei em casa e já fui direto pra cama, me cobri e tentei dormir, no meio da madrugada acordei com o que parecia ser um trovão, me virei na cama pra dormir de novo, até que ouvi a porta lá de baixo bater, arregalei os olhos e senti novamente a adrenalina invadir meu corpo, meu coração acelerar, minhas mais soarem, mais permaneci deitada, tentei ignorar por pensar que podia ser coisa da minha cabeça, até que ouvi passos na escada, passos lentos, e ouvi chegar até à frente da porta de meu quarto e parar, fiquei com muito medo, minha respiração ficou ofegante, eu não sabia o que fazer, ir lá abrir a porta? Ou ficar aqui mesmo?, ouvi os passos irem em direção ao quarto de minha mãe, então pensei que seria ela, e suspirei aliviada, quando no meio do silêncio, ouço o grito aterrorizado de minha mãe, e logo depois o barulho dos golpes, me levantei rapidamente da cama e fiquei parada em frente à porta de meu quarto tentando pensar no que fazer, se eu saísse do quarto, ia morrer junto, pois sei que era ele de novo, era ele, tenho certeza, e estava lá matando minha mãe, ouvi a porta de meu quarto ser aberta, e vi meu irmãozinho entrar, puxei ele rapidamente e entramos dentro do armário, tapei sua boca pois ele estava chorando muito por causa dos gritos de nossa mãe, graças a Deus que ele chegou aqui sem que o assasino  percebesse, depois de uns minutos, os gritos e os golpes cessaram... O silêncio tomou conta novamente, só se ouvia os pingos de chuva, e os trovões baixos, ouvi passos se aproximarem do meu quarto, e a porta rangindo por ser aberta, apertei meus labios e fechei com força os olhos, e pressionei mais a mão a boca de meu irmãozinho, pra que nenhum som saísse, e ele nos achasse, mais isso vai acontecer, ele vai achar a gente, e a gente vai morrer como todos, não tem como evitar isso, alguma hora ele vai abrir o armário. Ouvi seus passos pelo quarto, e ele tirando o cobertor da cama pra me procurar, depois não ouvi mais nada, ficou tudo quieto, até que ouvi ele rir, rir freneticamente, como se tivesse vendo algo engraçado, um riso assustador, macabro, um riso psicopata, que me deu calafrios por todo o corpo, depois ouvi passos até o armário e meu irmão começou a querer chorar e soltou um pequeno gemido, que eu tive certeza que ele ouviu, então vi a maçaneta do armário girar, e ele começou a rir de novo, dessa vez mais ainda, ele abriu a porta e eu tentei sair com meu irmão por baixo de suas pernas, mais ele agarrou meu irmão pela blusa e o ergueu
-Não, não, por favor, não faz nada com ele, me mata no lugar dele, por favor
Disse chorando desesperadamente, dessa vez podia ver seu rosto, era branco, bem branco, com os olhos escuros, e a boca cortada em forma de sorriso, a coisa mais aterrorizante que já vi, então ouvi ele rir de novo
-Acha que vai me comover?
Ele riu alto
-Você vai me ver brincar
-Não, eu te imploro, por favor
Não sabia mais o que fazer, meu irmão estava chorando e se debatendo muito em sua mão, então ele tratou de o encostar na parede, e disse
-Shhh, vai dormir minha criança
Ele enterrou a faca na barriga de meu irmão e a rasgou, virei a o rosto, não conseguia olhar aquilo, então a única coisa que consegui fazer foi correr dali, corri pra fora do quarto e desci pra sala, ouvia meu irmão chorar desesperadamente e o riso incessavel do assasino, procurei algum lugar pra me esconder, então fui pra cozinha e peguei uma faca grande que minha mãe usava pra cortar carne, me abaixei atrás do armário e fiquei lá, esperando que ele viesse me procurar, não conseguia mais chorar, de tanto nervosismo que eu estava, aquela cena nunca sairia da minha cabeça, fui interrompida de meus pensamentos quando ouvi os passos descerem a escada, depois ouvi a porta da frente abrir e fechar, ele tinha ido embora? Impossível, ergui a cabeça olhando pra sala, e não vi mais nada, nem ouvi mais seus passos, então sai de onde eu estava e fui pra sala, apontando a faca, e andando devagar, pra confirmar que realmente ele tinha saído da casa, me virei de frente pra escada, e de costas pra sala, fiquei assim por uns segundos, sem reação, até que senti algo frio em minhas costas e depois entrar em mim e sair pela minha barriga, onde olhei e vi o sangue escorrer, fechei os olhos de dor, coloquei a mão em minha barriga e ouvi ao lado de meu ouvido
-SHHH, vá dormir

Apaguei, e quando abri os olhos, estava no sofá, sentada de frente pra aquela coisa
-Já acordou?
-Porque não me matou logo?
-Não teria graça
Ele me olhou e rio
-Você é podre, nojento, desgraçado, devia morrer como todas as pessoas que você mata
-Você nem sabe quem eu sou pra falar merda de mim sua vadia
-Não sei? Você matou a minha família, e a família da minha melhor amiga, matou muitas pessoas da minha cidade, porque faz isso?
Comecei a chorar e ele começou a rir
-Cada um se diverte de um jeito, esse é o meu jeito de me divertir
Ele caminhou até mim com sua faca na mão e a colocou em meu rosto
-Você tá muito triste, vou te fazer sorrir
-Sai de perto de mim
Eu gritei e ameacei levantar então ele me empurrou com toda força pro sofá e ficou em cima de mim
-Não tente escapar, que você não vai longe, eu sempre te observei, observo minhas vítimas antes de matá-las, sei todos os lugares que você poderá ir, e mato todos que tentarem te ajudar, e acho que não é isso que você quer, é?
Eu não disse nada apenas chorei, ele colocou sua faca em minha boca, e cortou como a dele, como de todas as suas vítimas, em forma de sorriso, a dor era horrível, me fazia gritar, coloquei a mão e vi o sangue a encharcar, logo depois passou sua faca em minha barriga, escrevendo um "SHHH" sua marca registrada, ele ria, mais do que nunca, era seu prazer ver a dor, o sofrimento, o sangue escorrendo, a morte, ele saiu de cima de mim me olhou nos olhos e sorriu, agora tá mais linda que antes, eu não conseguia falar, só chorar, aquilo doía, queimava
-Só falta uma coisa
Ele pegou uma garrafinha, e jogou o líquido em meus olhos, cuidadosamente, pra que não espalha-se por todo o meu rosto, e depois ascendeu o isqueiro e colocou fogo, eu gritava e chorava, sabia que ia morrer, mais ele não fazia questão só de matar, ele também torturava, gostava de ver os gritos de dor de suas vítimas então assim que o fogo apagou, eu já não enxergava mais nada, só o senti, e ouvi perto de meu ouvido sua voz dizendo pela última vez

-SHHH, vá dormir

Senti sua faca diversas vezes em minha barriga, e ouvi sua risada macabra,  até que não sentia... Nem ouvia... mais nada...

Jeff vai atrás de quem se interessa por ele, então se contente com essa história, e não procure saber mais, ou você será o próximo que ele fará dormir...

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⏰ Última atualização: Jun 29, 2017 ⏰

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