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  A arte de ler

   "Você vive assim, ao abrigo num mundo delicado, e acredita viver. Então lê um livro, ou faz uma viagem, e se dá conta de que não vive, apenas hiberna. Os sintomas da hibernação se reconhecem facilmente: primeiro a agitação. Segundo sintoma: a agitação se torna perigosa, e pode levar você á morte: a ausência de prazer. É tudo. Aparece como uma doença inofensiva. Monotonia. Tédio. Morte. Milhões vivem assim (ou morrem assim sem o saber). Fazem pic-nicks com a família. Educam seus filhos . Acontece então um tratamento de choque, e essas pessoas despertam, e se salvam da morte ". (anais nin)

   O filósofo Adilson Maguila, comentando sobre o baixo índice de leitura de nosso povo, sapecou: Com a barriga roncando não dá pra ler: O barulho atrapalha". Tem neguinho matando a pau a "ultima flor do lácio, inculta e bela", pelo simples e vulgar motivo de que, não tendo condições sequer se agasalhar alguma massa, na biafra do ventre, pouca ou nenhuma chance terá de compra e ler um livro. O barulhão da barriga roncando atrapalha a concentração do atleta. Outros há que, mesmo ganhando igual ou mais que a Presidente da República, dão-se à pachorra de maltratar a língua pátria. Casos de burrice temporária, ou intermitente, ocorrem a mão cheia, atingindo a cachola de muito professor-doutor de nariz arrebitado, gente acima de qualquer suspeita.

  Ler pode ser uma fonte de alegria "Pode ser". Nem sempre é. É como já dizia Rubem Alves: "livros são iguais a comida, ler é uma virtude gastronômica, requer uma educação da sensibilidade, uma arte de discriminar os gostos, ler sem gostar é prova de doidice, igual á  comida ninguém come aquilo que não gosta (ao menos se estiver passando fome) Como comer muito faz mal, ler também.

  Shakespeare desconhecia completamente a bibliografia shakespeariana, "Ele dizia, porque vocês não estudam diretamente os textos? Se tais textos lhe agradam, ótimo. Caso contrário, não continuem, pois a leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto falar em felicidade obrigatória."

  " Como dizia Mário Quintana, analfabeto é precisamente aquele que, sabendo ler, não lê ".

  Livros, quanto mais, melhor. O livro pode ser um caminho para a inteligência, mas frequentemente é uma fonte de emburrecimento.

   Arthur schopenhauer disse: "Quando lemos, outra pessoa pensa por nós, só repetimos seu processo mental. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios"

  Ler é um exercício de alienação. O alienado é uma pessoa que está fora de si, caminha num mundo que não é o seu, é de outro. Mas isso, precisamente é o que a leitura faz. Para ler é preciso fazer, para seu mundo. Se seu mundo não for desligado, não poderá entrar no mundo que se encontra no livro. Abra o livro. Desligue-se do seu mundo. Entre no mundo que não é seu, sim de outro.

  A alienação é uma das fontes de prazer da leitura.

Nietzsche pensava: "Os eruditos, que hoje nada mais fazem que "Dedar" livros, acabam por perder interamente a capacidade de pensar por eles mesmos. Enquanto vão lendo não pensam. Vão dizendo sim ou não na crítica daquilo que outros pensaram."

  Assim como ler é igual a comer, assim não se chega a ruminação: É só com ela que nos apropriamos do que lemos, da mesma forma como a comida não nos nutre pelo comer, mas sim pela digestão.

   Então, como tudo demais faz mal, ler também. Borges diz: "Quem", é capaz de ler cem livros? Niestzsche, completou "Uma sala de leitura ( Salas enormes) Me deixa doente".

  As pessoas tem o direito de serem burras, mas alguns abusam desse privilêgio.

A Cegueira humanaOnde histórias criam vida. Descubra agora