Desejo Oculto (Spin-off de Amizade Perigosa)

Capítulo Único

DESEJO OCULTO — CAPÍTULO ÚNICO

Júlia poderia ser apenas mais uma garota em meio a tantas outras que frequentavam a faculdade. A garota de olhar marcante costumava despertar a atenção de terceiros por onde passava, especialmente quando exibia seu sorriso carregado de carisma.

Era o primeiro semestre da garota no curso de graduação em Engenharia Civil. Sentia-se receosa, afinal, há pouquíssimo tempo havia concluído o ensino médio para finalmente frequentar uma universidade renomada, traçando o primeiro degrau para sua almejada profissão.

Em meio aos alunos que transitavam pelo campus, um misto de calouros e veteranos, passou os olhos verdes pela folha que esteva fixada no mural, próximo ao saguão principal, encontrando o seu nome e o número de sua sala.

Quando finalmente encontrou sua classe, percebeu que não era a única domada pelo receio. Ao longe, sentada nas últimas cadeiras, uma garota estava com os olhos fixos no celular e o fone conectado ao ouvido. Parecia imersa em seu mundo particular, apática para o burburinho que formava entre os colegas que aguardavam pelo primeiro sinal.

Caminhou devagar até a mesa vazia que ficava a frente da garota, despejando sua mochila pesada sobre a mesa e acomodando-se como podia na cadeira apertada.

Ao ver que garota angelical se acomodava na cadeira da frente, a garota, que se apresentou instantes depois como Carolina, desconectou os fones e analisou a moça que lhe exibiu um sorriso amigável.

Quase que imediatamente trocaram as primeiras palavras e primeiras impressões, criando uma conexão única.

Júlia, apesar de possuir uma aparência delicada e traços angelicais, nunca havia se sentindo atraída por rapazes. Desde muito jovem, sempre soube que as garotas despertavam seu interesse mais íntimo. Talvez, em um universo distante, poderia ter se sentido atraída por Carolina, tendo em vista que a colega apresentava traços interessantes e curvas exuberantes, mas nutria apenas um sentimento de amizade pela garota.

Havia se passado alguns meses desde que se tornaram amigas inseparáveis na faculdade. Estava começando a se habituar à nova rotina acadêmica, porém um equívoco por parte da professora, na correção de uma de suas avaliações, fez que com a jovem tivesse que recorrer à coordenação de curso para solucionar o problema que gerava atrito entre ela e a docente. Portanto, enviou um e-mail para a coordenadora, Cláudia Guerra, agendando um horário para conversarem.

Cláudia aparecia esporadicamente nas salas de aula, mas geralmente enviava avisos e recados por intermédio de outros professores e representantes de turma. Júlia havia visto-a apenas uma única vez, transitando pelo campus da universidade. De fato, achou a mulher um tanto quanto atraente, mesmo que Cláudia aparentasse possuir idade para ser sua mãe.

Na data combinada, minutos antes do turno da manhã se encerrar, pediu licença ao professor do último horário para sair de sala e despediu-se de Carolina, caminhando até a sala da coordenadora.

Estava estonteante naquela manhã. Seus cabelos ondulados esvoaçavam-se com a brisa fresca que soprava contra seu rosto, denunciando que o outono estava para chegar. As folhas secas já se esparramavam pelo chão do pátio, fazendo com que um barulho crepitante ecoasse cada vez que alguém pisava sobre elas.

Passou pelo saguão principal da faculdade e caminhou até a secretária lhe comunicando que havia um horário agendado com Cláudia. Prontamente, a secretária rechonchuda a fitou com desdém por baixo dos óculos de grau, insatisfeita por ter que atendê-la, tendo em vista que estava prestes a sair para o almoço. Júlia deu de ombros, ignorando a careta mal educada da mulher enquanto a secretária discava para a sala da coordenação. Em seguida, pediu que a garota subisse as escadas e aguardasse pelo chamado da mulher na pequena sala de espera, que dividia a diretoria, a sala dos professores e as salas da coordenação de curso.