- estou saindo
- está bem
- você quer alguma coisa?
negou com a cabeça e voltou a encolher-se. a porta fechou num estrondo e rapidez, abrindo caminho pro marasmo silencioso. marasmo esse que batia no buraco da parede. da janela levemente aberta podia-se ver a neblina, era manhã e era cinza. todos os dias pareciam cinza. a pouca luz iluminava meio quarto, refletia nas pernas de X e montava uma fotografia situacionista.__________________________
o vazio é um grande estado de falta, ou de apatia, às vezes de excesso. sinto isso percorrendo no meu sangue e caio afundando. Z sai pela porta da sala todos os dias e eu temo que não volte, mas aguardo. no fundo anseio por carinho, toque, uns beijos na minha pele - que jaz fria -, desejo acalento todos os dias. queria aquele corpo envolvendo o meu constantemente, quase que incessante. digo que não. digo que não há necessidade, que estou bem. não consigo demonstrar o que realmente quero, não consigo dar o afeto pois recolho-me. sigo no foco de isolar-me por completo. destruo-me, silenciosa.